Encontro-me novamente aqui.
Pelos vistos este sitio tornou-se o meu cantinho especial.
Todos os dias, depois de fugir daquele inferno, a que eles chamam escola, venho para aqui.
O vento sopra empurrando-me ligeiramente para a frente.
Até o mundo quer que eu caia na merda da realidade que eles dizem ser a correta!
Olho para baixo.
Observo a realidade que eles dizem ser a verdadeira.
Como é que algo tão feio e repugnante pode ser a realidade verdadeira?
Vejo carros, pessoas, tristeza e solidão.
Fecho os olhos e respiro fundo.
O prédio é bastante alto, e mesmo não tendo medo de alturas sinto um breve arrepiou passar pelo meu corpo todo quando olho para baixo.
Mas agora não tenho medo.
Antes quando eu vinha para aqui sentava-me na beira com um pouco de receio e pensava no que era real e no que não era, enquanto balançava as pernas ao ritmo dos meus pensamentos.
Agora estou de pé, há muito tempo que não me sento na beira.
Olho para o céu com algumas nuvens, que está a ser invadido aos poucos pelas estrelas.
Levanto uma mão.
Sei que se me esticasse um pouco mais conseguiria apanhá-las e guardá-las no bolso.
Como é que eu sei se isto é real ou não?
Como?
Tudo o que eu vejo não é real de acordo com o que eles dizem.
Sinto as lágrimas quentes, há muito contidas, escorrerem-me pela face.
Como é que eu faço para saber se a guerra de cores que o céu enfrenta neste preciso momento é real?
Como?
Como faço para saber se este sentimento que cresce dentro de mim e que me vai corroendo aos poucos é real ou não?
Como?
Como querem que eu consiga viver depois de me dizerem que o mundo onde eu vivia, onde eu era feliz, era mentira, era da minha imaginação, que não existia?
Como?
Como querem que eu saiba o que fazer depois de me dizerem que a minha felicidade estava toda na minha mente?
Que nada era real?
Nada...
Como é que se vive com isso?
Como?
O vento chicoteia-me o corpo com mais força.
Volto a olhar para cima.
Se for para ter de escolher eu escolho a minha realidade. O meu mundo.
Não quero saber se ficarei sozinha.
Eu sempre estive sozinha.
Conheço o sabor doce de uma realidade que não é real.
Prefiro continuar com esse sabor do que provar o sabor azedo e estragado da realidade deles.
Esfrego os olhos com a manga do casaco.
As lágrimas insistem em cair ferozmente pelo meu rosto. Mas desta vez eu deixo-as ir em liberdade
Há quanto tempo é que não choro?
Há quanto tempo é que não reprimo as minhas emoções?
Avanço uns passos.
Estou à beira do precipício com uma decisão nas mãos e sem ninguém para me ajudar a tomá-la.
Ou escolho cair e embater contra a realidade deles.
Ou escolho voar.
Voar em direcção ás estrelas e roubar algumas para mim, para poderem iluminar o meu caminho solitário rumo à felicidade.
Uma parte de mim ainda tem esperança que alguém venha em minha salvação como nos livros que leio.
Ninguém vem.
Óbvio.
Eu não tenho ninguém para vir.
Viro-me de costas para a realidade deles.
Levanto os braços e olho para o céu.
Olho para a minha realidade.
"Eu já não tenho medo de voar!" grito ao vento que agora abraça-me com delicadeza.
Fecho os olhos.
Deixo-me cair para trás de braços abertos.
Deixo-me voar em direcção ás estrelas.
☆
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Roubarei as Estrelas
RandomOlho para o céu com algumas nuvens que está a ser invadido aos poucos pelas estrelas. Levanto uma mão. Sei que se me esticasse um pouco conseguiria apanhá-las e guardá-las no bolso. ©MinMinLixx2016