Andava a esmo por dias. Como companhia tinha apenas minha sombra; ao dia criada pelo sol e à noite pela lua. Conversava comigo mesmo por quase o tempo todo. Descobri que me amava e me odiava; dependia se eu era a favor ou contra minhas próprias ideias.
Então lá na frente vi alguém. Dessa vez não era fantasia de minha mente. O tempo que levei até chegar a ela foi demorado pois ela não vinha ao meu encontro. Irritei-me levemente com tal pensamento. Havendo apenas nós dois por todo aquele lugar, devia ela também ter ânsia em ter contato com outra pessoa. Mas ela não vinha. E assim fui eu a seu encontro. Não tinha mais nada o que fazer mesmo.
- Olá! - comecei eu.
- Olá – respondeu, sem realmente me olhar.
- Há tempos não vejo alguém pelo caminho. Você está sozinha?
- Sim – ela me disse, finalmente me olhando. Os cabelos curtos, cortados a altura do queixo, balançaram com o movimento da cabeça. – Antes eu não estava. Mas em algum momento eu me percebi assim, de certa forma abandonada. Então achei que precisava encontrar quem eu tinha perdido e comecei a procurar. Demorou certo tempo até eu me dar conta que não precisava de alguém. Simplesmente parei aqui e estou esperando ter vontade de fazer algo. Ainda não aconteceu. E você, por que tem andado por aí?
- Eu... não sei. Nunca parei para me questionar. Só sei que preciso ir, e estou indo. Aliás, acho que já vou.
Achei-a um pouco confusa, e por estar tão próximo dela poderia me contaminar com sua confusão. Eu era esperto demais para me tornar alguém como ela.
- Boa sorte então. Ah, se puder me fazer um favor, eu lhe seria grata.
- Pois diga. Se tiver ao meu alcance eu farei.
- Se no caminho você encontrar o Osvaldo, diga a ele que encontrou Camila no meio do caminho. Que ela lhe manda lembranças, mas que prefere manter distância.
Anui a seu pedido e sem demoras pus-me a andar.
Osvaldo tomou espaço em meus pensamentos por algum tempo. Camila tomou muito mais. Enquanto pensava em Camila me livrei para pensar em mim mesmo. Quando percebi estava eu parado. Estático. Confuso. Cheio de indagações. Quem era eu senão o Osvaldo de alguém? Precisava pensar. Antes de tudo, precisava me encontrar para então poder ir.
