Sublime e Cruel: A carta de Maria Teresa
Estava chovendo. Vários investigadores estavam diante a casa da menina que, supostamente, havia sido assassinada. Dos olhos da mãe, jorravam águas de tristezas e nervoso, assim como o pai. Eles haviam saído, por cerca de uma hora, para comprar a comida preferida da menina: lasanha à bolonhesa. Maria Teresa, a vítima, amava lasanha desde quando era considerada gente.
A investigadora principal, Alice, estava analisando os fatos e a cena do crime: o próprio quarto da garota. Tudo estava incrivelmente bagunçado, considerando que era o quarto de uma garota. Suas roupas, antes nas gavetas, estavam espalhadas pelo chão. Papéis, cadernos, aparelhos eletrônicos... Tudo pelos ares. Entretanto, a cena mais apavorante era a garota. Contava cerca de 13 anos, apenas. Uma criança de fraldas, historicamente falando. Maria Teresa estava com algemas em suas mãos, presa à cama. Suas roupas estavam sujas de sangue, já que sua barriga havia sido perfurada por alguma coisa que iria ser detectada em meio à autópsia. Seus pés estavam unidos. O corpo dela estava em um perfeito formato de Cruz.
- Retirem o corpo daqui. Os pais não merecem ver essa cena.- ordenou Alice aos seus empregados. - Tragam os médicos legistas para que analisem tudo aqui.
A imagem perturbadora da menina ainda vagava em sua mente, enquanto retirava-se do quarto, para dar notícias e interrogar os pais.- Com licença, senhores. - disse, apresentando-se formalmente, com um aperto de mãos. - Eu sou a investigadora Alice dos Santos. Fiquei com o caso da sua filha e...
- Podemos ver o corpo?- interrompeu a mãe, em meio a lágrimas.
- Senhora, infelizmente nós não podemos permitir. - respondeu à investigadora, com dó. Alice não estava mentindo. Se revelasse o corpo, a mãe poderia ter um surto psicótico só por ver a filha naquele estado. - Como eu estava dizendo, a princípio, tudo indica para um possível assassinato. A secretária encontrou o corpo e, segundo ela, chegou poucos minutos após a saída de vocês. Sabem de alguém que poderia querer tramar algo contra sua família? Um parente? Um falso amigo talvez?
Antes que os pais pudessem responder, um policial aproximou-se de Alice e sussurrou algo em seu ouvido, entregando-lhe uma carta logo depois. Alice abriu a carta e começou a lê-la. Os olhos da investigadora foram arregalando-se pouco a pouco conforme ia terminando de ler a carta valiosa em suas mãos.
Quando terminou, entregou a carta aos pais, dando-lhes o direito de saber o que ocorrera com a filha. O pai, Lúcio, começou a ler em voz alta.
- ''Queridos papai e mamãe, - começou - eu realmente queria poder entregar-lhes essa carta preciosa, mas sei que se fizesse isso antes de meu ato, provavelmente ingênuo, vocês tentariam impedir-me. A verdadeira questão é: a dor e a culpa que tenho desde a morte de minha irmã é tamanha que a minha capacidade de suportá-la se esvaiu, fazendo com que eu arrumasse um lugar escondido para poder chorar, um lugar para poder refletir e relembrar cada parte daquele momento sombrio. Deus provavelmente irá perdoar o meu ato, não é? Eu nunca quis fazer nada que a machucasse. E minha dor é insuportável... Vocês, ninguém, deve sentir nem a metade. Nós éramos tão próximas... É impossível parar de sentir. Eu preciso ir para um lugar melhor... Aquele lugar que eu sempre escutei falar... O céu. - Lúcio parou, respirou fundo e seguiu em frente. - Tomara que eu encontre vocês nesse lugar, rodeado de ouro e músicas. A vida de vocês ficará melhor, já que a empresa de papai está passando por problemas. Menos uma cabeça para alimentar significa menos estresse. A última coisa que peço para vocês é: cuidado. Cuidado com tudo que aparece ao redor, pois assim como a nossa tão amada Luzia se foi, vocês também podem ir. Com amor, Maria."
Assim que terminou, seus olhos, antes tristes, passaram por certo período de desconfiança, e logo depois vieram a inundar-se de tristeza. Sua filha havia ido embora, e ele não conseguia aceitar.
O pai entregou a carta para a Alice.
- Foi suicídio. - disse Alice, por fim. - Sinto muito pela perda de vocês.
Os pais assentiram. Os dias que se passaram foram de pura organização para o enterro. A investigação havia sido encerrada, mas uma dúvida ainda batia na cabeça do pai, que não se conformava com uma coisa: ele não havia contado à filha sobre a empresa falida. Como ela descobrira? Por que pensou que seria melhor suicidar-se? Uma venda da empresa e tudo estaria resolvido.
Dúvidas, que, só seriam caladas se fossem procuradas respostas. Porém, por hora, a única coisa que podia fazer era sentar-se em sua cama diariamente e chorar pelo falecimento de sua última filha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cartas que nunca enviei
Short StoryCARTAS QUE NUNCA ENVIEI reúne sete escritoras talentosas de diferentes gerações que por meio de contos, mostram que em uma unica carta ou até mesmo várias, podem haver grandes sentimentos sendo eles secretos ou não que expressam toda subejtividade d...