Ela suava frio, a febre cada vez mais alta, delirava, talvez não agüentasse passar daquela noite. Percebia agora que teria sido melhor que aquela semana não tivesse acontecido, uma semana sem esse pesadelo, achou que finalmente tivesse chegado ao fim de sua agonia, agora via como não podia estar mais errada, enganada, ludibriada, foi uma pequena trégua, para dar-lhe o gostinho da liberdade antes de seu inferno acontecer novamente. Três dias agonizando naquela cama, mas parecia que já se passara uma eternidade. Como se mil lanças atravessassem seu corpo, o som de mil trombetas e centenas de agulhas atravessavam-lhe o crânio, pegou-se desejando que lhe partissem em dois, que acabassem com seu sofrimento. Nos raros momentos em que sua agonia se aliviava, era o momento em que projeva um passado distante, em que era feliz, que brincava com suas irmãs e as demais crianças da aldeia, em um momento que podia ser acalentada pelos braços de sua amada mãe. Então via-se a observar o seu leito, o teto alto e abobado de seu quarto cor marfim e mógno, detalhadamente decorado por Elien, porém já não mais se encontrava em uma cama suntuosa e sim no chão, para que a temperatura se mantivesse estável, a única coisa que vinha a aliviando era poder sentir o chão frio sob sua pele que pegava fogo, e a textura da pele que a separava totalmente do chão. A janela da qual já não se podia levantar as grossas cortinas, a luz era insuportável, feria-lhe os olhos, contudo podia sentir o vento gelado à entrar no quarto e refrescar-lhe a alma. Alma esta que tornara-se enegrecida pela dor, ela já não via luz em seu caminho.
Porém, naquela noite pude perceber algo diferente, o sentimento que iria ocorrer uma mudança. Oh, sim. Perdera as contas de quantas vezes clamara, suplicara por um alívio e quando este chega-se, não importando sua origem, ela o aceitaria de bom grado e com braços abertos.
Por um pequeno momento, permitiu-se lembrar do sorriso, da textura de sua pele ao encontrar a dela. Ele que permeava seus sonhos. Seus olhos que pareciam capturar o brilho das estrelas, a beleza de toda uma galáxia escondida sobre os cílios espessos, a grossas e arqueadas sobrancelhas em uma eterna expressão de divertimento, os lábios que pareciam guardar os segredos dos deuses, a pele que parecia reluzir sobre toda a luz que demarcavam seus sonhos, mas a voz, esse pequeno detalhe, nunca a pode ouvir, então sua única esperança era imaginar.
Mas esses sonhos, como lhe disseram muitas vezes, Dallian e Turiin, era apenas fruto de sua imaginação fértil e que procurava um consolo para sua agonia.
No exato instante que permitiu-se viajar a esses pensamentos, ouviu uma voz ao longe como que a chamá-lá, entoando um cântico ou ainda um encantamento e nesse exato momento o mundo se liquifez.
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Eclipses - Livro 1 || Série Fases Da Lua
RandomEu vi a Lua e Sol se arrebentarem, vi os dias dos anos, os anos dos séculos e os séculos dos milênios voarem em direção à um abismo sem fim. A luz se transformar em trevas, as trevas iluminarem-se como os raios do Éter, vi anjos que corromperam-se e...