"Eu não sei mais o que escrever... porém, se você estiver lendo isso, talvez eu já não esteja mais aqui..." - esse era o final de um pequeno bilhete deixado sob o chão, empoeirado junto com umas fotos e uma vela que já havia se apagado.
...
Era uma noite de forte nevasca, e uma pequena casa, distante das demais, tinha um pequeno feixe de luz saindo de uma das quatro janelas. A mulher que morava lá estava sentada no sofá tomando um chá quente, que, esfumaçava e embaçava seus óculos, com uma cor meio marrom, parecia uma água suja de terra, mas possuía um aroma e um sabor fenomenal de canela.
A xícara, que estava quase vazia, foi posta em cima de um pequeno pires, depositado na mesinha de cento. A mulher, com sua barriga enorme, já que estava em meados da trigésima quarta semana de gravidez e, por sinal eram gêmeos, foi pega de surpresa por uma batida em sua porta.
"Quem será a essa hora? " - Pensou em voz alta.
Outra batida, parecia ser de alguém muito aflito, um vizinho talvez? Ou quem sabe algum mendigo com fome e frio, já que estava nevando muito forte.
-Já vai! - Gritou ela, enquanto outra batida em sua porta, dessa vez mais alta e mais aflita que a primeira, ecoava pela pequena e silenciosa casa.
Ela pegou as chaves e destrancou a fechadura, pôs sua mão direita na maçaneta fria, girou bem devagar, e foi abrindo a porta lentamente enquanto espiava curiosa pelo pequeno vão que se formava, mas nada pode ser visto, já que estava muito escuro lá fora.
A jovem moça respirou fundo, fechou os olhos e terminou de abrir a porta. A fraca luz que iluminava mal sua sala, refletiu na pessoa que batia em sua porta. Era um oficial do governo, acompanhado do capitão do exército e de mais um soldado, ambos estavam com um uniforme de guerra na cor cinza e com as suas boinas em baixo do braço. Em seus uniformes havia um escudo dourado com o desenho vermelho de um leão pisoteando um crânio. O capitão também tinha em seu uniforme muitas medalhas, dentre elas, a que mais se destacava era a de bravura.
-Senhora Safire Proutti? - Tomou a frente o oficial do governo.
-Sim, sou eu mesma.
-Será que poderíamos entrar? - Perguntou o capitão.
-Ah, mais é claro, desculpe minha falta de educação. - Disse Safire, enquanto saia da frente da porta para que os militares pudessem entrar. - Vamos, sentem-se, vocês gostam de chá de canela? Eu acabei de fazer.
-Hm.... eu adoro chá de canela! - Disse o jovem soldado com os olhos brilhando.
-Muito obrigado, mas não iremos aceitar. - Falou o capitão enquanto pisava no pé do soldado. - Nós estamos aqui por um motivo de força maior, a senhora poderia chamar seu marido?
-Mas é claro. Só um minutinho, ele está dormindo.
Então Safire, apoiando uma mão em sua barriga, subiu os dez degraus de sua escada. Enquanto passava pelo pequeno corredor que dava acesso a porta do seu quarto, ela pensava:
"O que será que aconteceu? Por qual motivo eles estão atrás do Leon? "
Chegando em frente a estreita porta, ela respirou fundo e abriu sutilmente. Olhou para a cama e seu marido estava lá, dormindo. Se aproximou dele, e de forma lenta e carinhosa o chamou. Sem muito esperar, Leon despertou.
Meio sonolento, sentou-se na beirada da cama e a olhou fixamente por alguns segundos, até que em meio a um bocejo, ele questionou:
-Que horas são agora amor?
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A Máscara de Acrílico
Romance" "Eu não sei mais o que escrever... porém, se você estiver lendo isso, talvez eu já não esteja mais aqui..." - esse era o final de um pequeno bilhete deixado sob o chão, empoeirado junto com umas fotos e uma vela que já havia se apagado. " O que vo...