Juvia amava flores, mas pelas circunstâncias em que se encontrava, passou a odiá-las.
Depois do primeiro ataque de tosse que teve, a garota decidiu tentar abafar seus sentimentos quase berrantes por Gray Fullbuster, até porquê não queria esquecê-lo. Também não tinha coragem, muito menos dinheiro, para pagar uma cirurgia nos pulmões.
A azulada começou a gastar pelo menos a metade do salário que recebia por trabalhar num café com vasinhos de porcelana, pois quase nunca jogara as flores que tossira fora. Talvez fosse pena que tinha de si mesma por estar numa situação tão deplorável.
Oras, elas eram o fruto do seu sofrimento, além de serem belíssimas, não fazia sentido e seria um desperdício. O belo deve ser apreciado, ainda mais quando vem das formas mais inusitadas possível.A sua casa era cheia das mais diversas flores, dando um ar colorido e alegre, coisas que a moça não era, parecia até mesmo que as adorava — quando na realidade era o completo oposto. Vivia lado-a-lado com a sua dor. Era reconfortante e deveras assustador; reconfortante pois seu pequeno e apertado apartamento nunca estivera tão cheiroso, assustador porquê aquelas flores a faziam sucumbir à morte gradualmente.
As pontadas violentas nos seus pulmões eram comuns, assim como as tosses. Quando os ataques começavam, seu peito queimava como o inferno. Sentia como se seu busto inteiro tivesse sido embalado por uma camada de espinhos pontiagudos — que a sufocavam vagarosamente, uma metáfora real.
Uma ardência que ia sendo puxada até os seus ombros e a base da sua coluna. As vezes ela não aguentava e caia no chão, se contorcendo e chorando de ódio e arrependimento. Odiava ter sido tão fraca e burra o suficiente para adoecer de amor; e não era no sentido bonitinho e dramático estilo Shakespeare. Talvez só dramático. Se apaixonar já era algo dramático demais para si.
Ela pensava que todas as suas borboletinhas no estômago eram causadas pela sensação de estar próxima ao garoto, mas era por causa do pequeno jardim que crescia em seu interior. Então, talvez magicamente, saia uma flor levemente ensanguentada pela sua boca. Nas primeiras vezes que isso ocorreu, ela estava deveras assustada, mas nada que algumas consultas ao médico não esclarecessem seu raro probleminha. Gostaria de não ter se apaixonado pela pessoa errada, gostaria de sequer ter se apaixonado, na verdade. De novo; odiava ter sido tão fraca.
Juvia teve que trancar a faculdade, afinal, não seria nada legal estar no meio da aula e do nada sair uma pétala pela sua boca. Infelizmente, todos descobriram sua doença, a olhavam com pena por ter o sonho de se tornar veterinária pisoteado, mas também tinham os apelidos de mau-gosto, a chamavam de bruxa pelas costas. Sua família inclusive não a aceitava.
"Saia da minha casa, sua cria do demônio. Suja. Impura. Vá para o inferno, de onde você nunca deveria ter saído." Com essas exatas palavras foi expulsa de casa aos vinte anos. Seus pais se recusavam a acreditar na existência da Hanahaki.
Quando o sufocamento finalmente cessava, ela retirava as mãos da boca e se deparava com uma flor, geralmente um cravo amarelo melecado com o líquido carmesim tão conhecido em suas mãos - se desse sorte, saía apenas algumas pétalas, mas era difícil de acontecer.
Gray Fullbuster era um puta de um conquistador barato. Um vagabundo também, mas Juvia apenas percebeu esses detalhes no quarto estágio da doença, ou seja, a doença não poderia ser curada.
Ela se lembrava dos primeiros olhares trocados com o moreno, dos primeiros toques e das primeiras palavras. Até que contou tudo para sua melhor amiga, Lucy, que a incentivou a se declarar pro menino, o que ela negou prontamente.
Porém, Gray percebeu os sentimentos de Juvia antes que a própria os reparasse. O coração acelerado, a gagueira leve, as palmas das mãos que ficavam soadas pelo nervosismo e o famoso brilho no olhar. E então ele se afastou. Nunca ficariam juntos.
Ela se lembrava claramente de todos os estágios e esse com certeza era o pior, pois estava morrendo pelo motivo mais estúpido possível — pela pessoa mais estúpida também — e não podia fazer absolutamente nada, apenas esperar. Quem diria, Juvia Lockser, morrendo de amor — e não era uma metáfora bonitinha ou um eufemismo bem merda, era algo literal até demais.
Gray a deixou por uma garota e isso doía mais do que todo o seu pequeno inferno diário. Lucy também a havia deixado por um garoto, Natsu Dragneel. Queria construir planos para o futuro e deixou explicitamente implícito que a azulada não faria parte deles.
Sentia também que quanto mais a doença avançava, mais as flores ao seu redor tiravam seu ar a sua liberdade. Parecia até que tiravam sarro de sua miséria e a julgavam silenciosamente. Estava até querendo escrever em sua nota de morte: "Não me dêem flores no meu funeral! Dêem-me pedras, por favor, não aguento mais!"
Os dias de vida da jovem se passavam muito rapidamente, estava fraca e sabia o que estava por vir. Mas já estava morta há muito tempo, não física, mas psicologicamente. A depressão era mais uma aliada no seu caminho para a morte.
De repente, todas as flores que conspiravam contra ela viraram seu único consolo e tentaram devolver as cores que o garoto havia roubado na cara de pau. Mas, mesmo assim, as noites em seu apartamento nunca haviam sido tão frias e solitárias.
E naquele dia, Juvia morreu pela segunda vez. Foi encontrada em seu apartamento, mais pálida que o normal, deitada em seu sofá, parecia até que estava dormindo, seu corpo estava intacto. Em sua boca, descansava um arranjo cheio de gerânios de cores de um vermelho violeta e azul cobalto, levemente sujas de sangue. Juvia morreu de tristeza, de insegurança, de medo e principalmente, de amor.
E apesar de sua alma ter partido deste mundo, as belas e coloridas flores que enfeitavam seu lar continuavam belas e coloridas, em um — talvez — eterno luto.
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cravo amarelo: desdém, rejeição
gerânio de cor escura: tristezaoi gente!!!!
eu tive a ideia dessa fic no banho KSNSSJSJS
PRA QUEM NÃO ENTENDEU NADA::::
a hanahaki byou é uma doença literária, ou seja, não existe
e também não fui eu que criei, eu só aperfeiçoei algumas coisitas de nadanela, você literalmente tosse flores, e essa doença nasce a partir de um amor não correspondido e os estágios são: tossir pétalas, tossir flores inteiras, tossir buquês e a morte.
tecnicamente é só isso, há as formas de removê-la apenas no primeiro estágio, que é tirando as flores dos pulmões cirurgicamente, mas ai vc perde a capacidade de amar e as lembranças de como o sentimento começou/da pessoa, a outra é a recíproca sendo verdadeira e por fim você pode ignorá-la, mas isso só vai adiar o inevitável.espero que tenham gostado! se sim, deixe uma estrelinha (*˘︶˘*).。.:*♡
até a próxima ♡
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❝breathless❞ [juvia lockser]
Fanfic[fairytail!au | one-shot | hanahaki disease] "Você fez flores crescerem nos meus pulmões, mesmo elas sendo lindas, eu não consigo respirar." © 2016, preservativo. #956 em conto (12/04/17) #662 em conto (17/04/17) #34 em hanahaki (01/02/19)