Katherine Scott, britânica mas a viver em Portugal, dezasseis anos, falhada, insegura. Algumas pessoas dizem que eu sou bonita, mas eu não consigo acreditar nisso. Às vees sinto que sou adotada pois os meus pais são pessoas lindas e eu sou só... eu. Não tenho auto-estima nenhuma e sou aquela rapariga da escola que quase ninguém sabe como é a voz, devido a eu falar muito raramente, o que já me faz ficar desconfortável. Apesar de eu participar muito pouco nas aulas tenho notas excelentes, aliás, tenho de ter se quero ir para medicina.
A grande razão de eu ser reservada e insegura é por já ter sido vítima de violência doméstica e abuso sexual. Vamos dizer que quando eu tinha catorze anos estava "completamente apaixonada" por um rapaz chamado Daniel. Eu sabia que ele era mau e sabia que não devia me meter com ele, mas ignorei o que meu cérebro dizia e deixei-me ir com a corrente deste o momento que ele me convidou para ir a casa dele. Ao primeiro, tudo corria bem entre mim e ele, eu fazia tudo o que ele dizia, nomeadamente drogar-me, faltar às aulas e roubar. Um dia, felizmente, os meus pais descobriram tudo e obrigaram-me a parar de me drogar e de andar com o Daniel. Eu não quis obedecer-lhes e dizia que já era velha o suficiente para tomar as minhas próprias decisões e que amava o Daniel, e eu nem sabia o que era o amor.
Na minha quinta sessão no psicólogo é que percebi o que estava a fazer e como ia acabar se não parasse a tempo. Nesse mesmo dia fui ter com o Daniel e disse-lhe que ia parar com tudo aquilo e que já não queria mais nada com ele, apesar de ainda gostar dele. Lembro-me desse dia como se fosse ontem.
"Daniel, eu não me posso continuar a drogar nem a negligenciar a escola, nem a roubar. E acho que vamos ter de acabar." eu falei rapidamente e ele riu. Quando eu me mantive séria ele parou de rir e levantou-se, ficando frente a frente comigo.
"Estás a gozar, certo?" eu neguei com a cabeça e ele riu de novo "A coisa é, eu não quero que tu te vás embora e pares de ser a minha fiel cadelinha, então tu vais ficar aqui." eu tinha visto este lado dele com outras pessoas, mas nunca comigo. Naquele momento percebi que eu não era nada para ele. Eu neguei de novo e ele empurrou-me contra a parede e segurou-me pelos braços para que eu não pudesse fugir.
"D-deixa-me ir." eu gaguejei e ele riu de novo, sarcasticamente.
"Hm... tu nunca quiseste ter sexo comigo, o que me dizes, estás pronta agora?" eu arregalei os olhos e pela primeira vez, fiquei com medo do Daniel. Eu gritei quando ele me começou a beijar o pescoço, coisa que eu normalmente adorava mas agora era a última coisa que eu queria no mundo. No bairro dele gritos de sofrimento e pedidos de ajuda eram o pão nosso de cada dia, então os gritos não me serviam de nada, mas mesmo assim continuei a gritar.
Depois de ele se aproveitar de mim eu senti-me como lixo e percebi que a minha vida não ia ser muito boa dali para a frente.
Isto durou um bom meio ano, até que finalmente e polícia o prendeu. Passado um ano de ele ir preso disseram-me que ele tinha morrido de overdose. Eu, felizmente, parei de me drogar, com a ajuda dos meus pais.
Os meus pais. Eu acho que eles me estão a chamar. Desci as escadas a correr e encontrei os meus lindos progenitores sentados no sofá da sala à minha espera.
"Porque me chamaram?" eu perguntei e a minha mãe fez sinal para eu me sentar ao pé deles. Eu fiquei confusa com a seriedade presente nas suas caras e pensei que tinha feito alguma coisa de mal, apesar de a única coisa que eu faço é stalkear os 5 seconds of summer no twitter.
Percebi que era uma coisa boa quando os meus pais trocaram sorrisos e sinais discretos.
"Então" o meu pai começou "eu estive a falar com o meu patrão e ele disse que havia uma vaga para mim no melhor hospital de Londres" eu fiquei de queixo caído "se aceitar podemos nos mudar já para lá. Eu e a tua mãe estivemos a falar e ambos adorávamos voltar para o reino unido, mas queríamos a tua opinião primeiro." eles sorriram-me com carinho. Isto era ótimo, era tudo o que eu queria desde os meus dez anos quando chegámos aqui. Eu sorri-lhes e concordei com a cabeça.