33. BENJAMIN

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O mundo inteiro parou naquele instante, embora, o elevador continuasse descendo.

Suas últimas palavras ecoavam na minha mente, enquanto lutava para conter as lágrimas que já molhavam meu pescoço. Uma mão segurava a alça da mochila com força, como se tal ato fosse me impedir de cair de um precipício. Minha mão esquerda mantinha o celular no ouvido, enquanto meu pai falava entre soluços que mamãe havia perdido a batalha para o câncer.

Eu nunca tinha sido nocauteado, mas imaginei que a sensação era semelhante ao que eu estava sentindo naquele momento. Meu estômago começou a doer, assim como a minha cabeça. Minhas mãos tremiam e eu suava frio. De repente, foi como se eu tivesse esquecido como respirar.

Escorei-me na parede de vidro, enquanto alguns alunos, incluindo colegas meus, perguntavam se eu estava bem. Eu queria conseguir dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras me fugiram à medida que aquela sensação de impotência, dor, medo e raiva me engoliam junto das paredes do elevador. Eu precisava sair dali, mas sequer conseguia me mexer. As lágrimas cessaram de repente, quando percebi que meus pulmões eram incapazes de trabalhar.

Fechei os olhos com força, entretanto, foi pior. Senti-me como um garotinho com medo do escuro. As pessoas começaram a chamar meu nome, murmurar que deveriam chamar um médico e alguns até caçoaram de meu estado.

Daquele dia em diante, passei a odiar companhia em elevadores. Nunca sabemos quando a ansiedade e o pânico baterão à porta, tampouco quando perderemos alguém que amamos e seremos nocauteados por uma notícia cruel.

Naquela manhã, após visitar a minha mãe pela última vez no hospital, após a aula de Química com a Srª. Peterson, fui tirado do elevador pelos enfermeiros da escola.

Eles me faziam perguntas e falavam uns com os outros; entretanto, em meio à crise de desespero que afetou meu corpo físico e levou meu coração e minha mente à ruína, tudo o que meu cérebro conseguia processar eram as últimas palavras que troquei com minha mãe.

— Quero fazer um pedido, filho — ela me encarou com um sorriso singelo no rosto.

Era doloroso vê-la pálida, sem os cabelos e magra em excesso.

— O que quiser.

— Tem algumas rosas que desejo cultivar no jardim da casa de Back Bay. Pode cuidar do meu jardim? Eu pediria a Lauren, mas sua irmã não gosta de ficar com terra nas unhas — mamãe riu baixinho.

— Ninguém vai mexer naquele jardim até a senhora voltar para casa. — segurei sua mão.

— Filho... — ela suspirou, aflita — E se Deus não quiser que eu volte? Já parou para pensar nisso? Não quero que perca sua fé Nele pelo desfecho que posso ter. Indepedente de qualquer coisa, Ele continua sendo Deus.

— Eu oro todos os dias, mãe. Todos os dias eu ero e peço pela sua cura. O mesmo Deus que ressuscitou Lázaro, que acalmou tempestades e que curou pessoas... Ele tem que me ouvir — senti as lágrimas surgirem no canto de meus olhos, mas não as derramei.

— Não, Benjamin, Ele não tem. No fundo, você sabe disso.

— Não vamos mais falar sobre isso, ok? Preciso ir para a aula — mudei de assunto, deixando um beijo em sua testa.

— Eu te amo, meu filho — mamãe afagou meus cabelos, sorrindo.

— Também te amo, mãe — retribuí seu gesto.

— Você pode até fechar o seu coração se Deus não fizer a sua vontade, ou não cuidar do meu jardim, mas, filho, um dia Deus usará alguém ou alguma circunstância para levá-lo a Ele novamente. Então o Espírito Santo arrancará todas as ervas daninhas do seu coração.

Primeiro Amor • Livro 1 | Série Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora