Tive alta no hospital poucos dias depois. Eu não apenas estava recuperado como também diferente. Meu corpo inteiro secou de gordura e meus músculos se desenvolveram. Também escutava sons, enxergava cores, sentia cheiros e sabores que nunca sonhei existirem. Até me sentia bem viril! Os médicos tentaram me segurar no hospital para entenderem o que houve, mas meus pais decidiram que o melhor para era melhor terminar minha recuperação em casa. Eu era outro garoto, e ninguém conseguiu explicar como aconteceu. Apenas fiquei muito feliz de sair do hospital.
Passei alguns dias em casa, saindo apenas para o quintal. Pouca gente lembrou que eu existia, mas meus poucos amigos apareceram eventualmente para me visitar.
Primeiro a aparecer foi o Magno que mal me reconheceu. "Nossa cara, que bomba você tomou? " Perguntou umas dez vezes durante a conversa. Sempre o achei tranquilo e agradável, mas no momento os cacoetes, repetições e falta de higiene, que todos apontavam, ficaram totalmente evidentes para mim. Percebi o quanto que ele era o cara mais chato que eu conhecia. Como nunca percebi isso antes? Não é à toa que sou o único amigo que ele tem. Todos o evitavam, agora eu entendia o motivo e tudo que queria é que ele fosse embora. Depois de três minutos, talvez menos, todo assunto exauriu. Outrora tenho certeza que poderíamos passar horas falando sobre qualquer besteira, mas eu não tinha vontade de perder meu tempo com aquele cara.
- Magno, quero descansar. Vai embora.
Eu nunca falaria isso, porém o fiz, com tom extremamente seco e autoritário, sem nem pensar em o que dizia ou como o fazia. Por um momento achei que ele começaria a chorar, mas no fundo eu não ligaria nem se cortasse os pulsos na minha frente e só não desejei isso porque achei que seria nojento ver meu quarto banhado no sangue daquele cara. Contrariando minhas expectativas ele abriu um sorriso extremamente amistoso e feliz enquanto dizia que "é melhor te deixar descansando". Sem nenhuma cerimônia ou rancor se levantou e foi embora.
Poucas horas após Magno ir embora veio minha melhor, e única, amiga. Raquel também era a garota de quem eu era o melhor amigay. Fantasiava todo dia com ela, sonhando ser seu namorado ou me masturbando. Todo momento desejava estar com ela, principalmente quando a via com outros rapazes. Mas no momento que ela entrou em minha casa toda essa vontade passou.
Ela era exatamente a mesma garota de sempre, mas meus sentimentos de outrora não combinavam mais com a figura postada a minha frente. Seu olhar torpe, cheiro de cio misturado com cigarro vagabundo e falta de banho mostraram outra garota. Ela conseguia feder mais que o Magno, que fedia muito. Quando nosso choque inicial passou me esforcei para manter o interesse no monte de bosta que ela falava, como se palestrasse na ONU. Sempre achei que ela tinha o dom de falar coisas inteligentes de um jeito bonito, mas comecei a entender que ela simplesmente não dizia nada.
Então, antes que eu morresse de tédio, comecei a transformar tudo que ela dizia em putaria. Eu não fui genial ou sequer eloquente, mas qualquer coisa que eu dizia funcionava em fazer-la sorrir toda sem graça, e isso nunca aconteceria antes. Quando aquilo começou a me divertir resolvi apelar e ver o quão longe conseguiria levar aquela situação. Primeiro fui chegando cada vez mais perto com nossos rostos, falava umas besteiras e continuava me aproximando. Até que resolvi parar de gastar palavra e roubei um beijo. Foi meu primeiro beijo. Uma porcaria de beijo, mas tinha que ver como era. Antigamente ela era cheia de "não me toque" comigo. Aparentemente só comigo e mais uns otários, como o Magno. Hoje mal consigo lembrar de quantas vezes me humilhei tentando ficar com essa garota. Na primeira, e última, vez que tentei roubar um misero selinho a desgraçada ficou mais de mês sem olhar para a minha cara. Rachel tentou falar alguma coisa, mas tapei sua boca para ouvir onde meus pais estavam. Ela ainda achou graça na maneira rude como a calei. Mais um pouco de força e acho que quebraria seus dentes. Isso foi o sinal que faltava para ter certeza que essa garota faria tudo que eu queria. E fez. Peguei nos seus peitinhos, os coloquei na boca, meti o dedo dentro de sua calcinha e nesse momento minha mãe veio ver se tudo estava bem. Ela se espantou quando viu a Raquel com a boceta, e meus dedos dentro, virada para a porta.
- Haroldo, o que vocês estão fazendo? – Antigamente eu ficaria apavorado com essa cena, só que a cara de espanto da minha mãe foi a coisa mais engraçada que eu vira até então. No momento me esforcei para segurar o riso e conseguir responder com total calma e seriedade.
- Tentando transar – E isso soou muito melhor que você consegue imaginar.
- Tudo bem, usa camisinha – E minha mãe, como num passe de mágica, simplesmente ignorou o que viu, saiu do quarto e fechou a porta.
A garota deitada em minha cama também parecia estar em profundo transe, não tomando conhecimento algum da interferência. Ignorei o conselho de minha mãe, pois eu queria gozar dentro de Rachel, e não tive nenhum impedimento. Pelo contrário, tudo que eu fazia a agradava. Quando saciei todos meus desejos e fiquei cansado de sua presença a mandei embora, assim como fiz antes com Magno. Ela simplesmente se vestiu para ir embora, atendendo a minha ordem. Tentou me dar um beijo na boca e, só de pirraça, levantei o rosto, beijei sua testa e disse "você é minha melhor amiga, não quero estragar essa amizade", como se eu ainda ligasse para isso. Ela sorriu afetuosamente, como se estivesse apaixonada pelo grande amor de sua vida, acenou carinhosamente antes de sair do meu quarto e foi embora.
Dimas é o meu amigo brigão e, aparentemente, o único que toma banho. Ele conseguia arrumar briga todo dia no colégio. Quase sempre batia, pois repetiu duas séries e, mesmo para sua idade, era um dos maiores, o que lhe dava certa vantagem física. Mas ele não brigava por nenhum motivo que prestasse. Só me defendia quando eu era atacado por algum de seus desafetos, sempre usando como desculpa "você tem que aprender a se defender sozinho, e aqui ninguém vai te matar, então é bom pra praticar em segurança". Ele não era um cara ruim, mas me tratava bem mais por ser afim de minha irmã desde que estudavam juntos e ainda tinha sonhos de a conquistar. Também achava que se não me tratasse bem não conseguiria mais comer a Raquel, o que era um engano, pois ela continuaria dando para ele de qualquer jeito. Pelo menos até o dia anterior daria.
Quando Dimas apareceu lá em casa, no dia seguinte à visita de Rachel, foi muito estranho. Senti o medo crescer dentro dele, como se fosse uma bexiga que eu enchesse a cada gesto que fazia. Em um momento fiquei com receio dessa bexiga estourar, mas percebi que conseguia com simples gesticulação ou palavras manipular seus sentimentos. Fiz ele morrer de ciúmes da Raquel contando que a comi. Depois fiz sua libido quase explodir enquanto falava qualquer coisa sobre minha irmã e querer me dar um soco quando insinuei que nunca o deixaria tê-la. O tranquilizei apenas colocando fraternalmente a mão em seu ombro e quando nos despedimos com um abraço ele pareceu totalmente devoto a mim, como se pronto para fazer o que eu quisesse.
Grandes amigos! Ensinaram tudo que eu precisava para encarar o ambiente escolar. Meu eterno pesadelo. Mas, enfim, estava desperto.
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Nossa Família
Short StoryQuão forte é o amor entre dois irmãos, Haroldo e Catarina, para sobreviver às vontades daqueles que comandam o Céu e o Inferno? Um evento sobrenatural muda os rumos de suas vidas. Haroldo se transforma em um vampiro, mas Catarina é uma guerreira ele...