Deus Falhou

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- Catarina – Disse Bia enquanto saia da sala chorando. Catarina sentiu que chegou a tempo de salvá-la.

Haroldo, ainda não acostumado com seus poderes, confundiu os sentimentos de Bia. Enquanto achava que a perdia resolveu apertá-la com mais força, mas o fez do jeito errado. Como um garoto que esquece o que é o Amor pode entender o funcionamento de um coração partido? Não se mata uma pulga com tiros de canhão, isso pode afugentar o pequeno artrópode, ou o jogar para longe antes de o atingir. Foi isso que aconteceu com Bia.

Os joelhos de Catarina tremiam de medo frente a imagem de Haroldo. Ela estava cada vez mais longe de sua racionalidade e o mundo a sua volta se nublava com o miasma criado por seu irmão. Ela já viu vampiros poderosos antes, mas Haroldo além de ser distintamente mais poderoso também carregava a imagem do irmão que tanto ama e não quer perder. Assim mesmo Catarina resolveu aceitar seu dever com Deus.

Bia se entregou nos braços de Catarina. Fé abraçou as duas e conseguiram romper o laço, salvando a garota.

- Minha irmã linda, que saudades – Brincou Haroldo, ainda sem entender tudo o que acontecia – To louco pra fazer um incesto com você. Caralho, já ta pegando a Bia? Vamos comer junto essa virgem, eu meto na bocetinha e você lambe nosso suquinho, o que acha?

Catarina nem conseguiu sentir nojo, ainda estava perdida entre senso de dever e o medo, mas já entendia que seu irmão não estava ali, e sim o monstro mais perigoso que já enfrentou.

- Bia – Catarina envolveu a face da garota com as mãos e ordenou com toda calma e suavidade – Sai daqui agora, não fala nada, só vai pra sua casa o mais rápido que puder, implora pros seus pais te mudarem de escola e nunca mais chega perto de qualquer um que está nessa sala – Nesse momento Bia foi contaminada por todo medo que Catarina sentia e saiu correndo.

- Beleza, Catarina – Disse Haroldo, rindo - Entendo que você já tem sua peguete e não quer a trair com a Bia. Por mim tudo bem, se eu soubesse que a Fé era tão gatinha assim a gente já tinha fechado acordo faz tempo.

"Ele consegue ver Fé? ", pensou Catarina horrorizada. Ela mesma nunca conseguiu ver Fé sem ser materializada em forma de armadura ou roupa, mas agora sua amiga tomara forma de uma garota e estava táctil, bem ao seu lado, e hipnotizada por Haroldo.

- Não encosta nela – Berrou Devoção ao lado de Catarina.

- Quem está aqui? – Se espantou Haroldo. Ele escutou a voz de Devoção, mas não conseguia vê-la.

"Essa é a chance", pensou Catarina. Ela agarrou Devoção e partiu com toda sua fúria para cima do irmão. Não funcionou, tudo que ela conseguiu dar foi um soco com a mão vazia ao invés de Devoção estar materializada como uma arma. Haroldo a olhou estarrecido.

- Sua vagabunda! – Gritou Rachel histericamente enquanto pulava em cima de Catarina, que ainda estava atônita tentando entender o que aconteceu entre ela e Devoção.

Rachel, agarrada nas costas de Catarina, começou a dar socos, mordidas, arranhões e puxões de cabelo. Catarina não conseguia achar Devoção, mas escutava a amiga gritando ao longe. Fé, materializada em forma de garota, nua, abraçou Haroldo, ignorando tudo que acontecia.

Glauco estava desorientado, por um instante também não sentia mais a influência de Haroldo, que já o ignorava totalmente, conseguindo apartar Rachel e a aquietar num canto.

Haroldo ria sem parar, enquanto falava um monte de sacanagem, beijava e acariciava o corpo de Fé. A mente de Catarina começou a divagar sobre influência de Haroldo e demorou alguns segundos até começar a recompor suas ideias. Catarina não entendia o que aconteceu com Fé e não acreditava que Haroldo, ou qualquer um, pudesse dominar a amiga com tanta facilidade.

- Fé, o que você tá fazendo? – Perguntou Catarina, angustiada, sem conseguir segurar as lágrimas quando a amiga simplesmente a ignorou. Catarina sentia que perderia Fé para sempre se não fizesse alguma coisa. Nesse momento conseguiu finalmente encontrar Devoção.

- Calma! Agora estamos juntas – Catarina sentiu Devoção segurar sua mão e seus sentidos voltaram. Sentiu a amiga formar uma lança em suas mãos – Vamos acabar com essa demência e recuperar Fé.

Catarina empunhou Devoção em ambas as mãos, segurando a lança com firmeza e, sem nenhuma cerimônia, a espetou ferozmente na direção do peito de Haroldo.

Catarina não conseguiu terminar o golpe, Devoção simplesmente desapareceu de sua mão. Devido a sua impulsão não conseguiu parar a tempo e esbarrou com força no corpo de Haroldo, que a segurou firme em seus braços.

- Calma! Calma – Implorou Haroldo em tom sério e preocupado enquanto tentava segurar Catarina em seus braços. Ela debatia para se livrar dele e chorava totalmente desesperada. Ambos caíram sobre seus joelhos, com Haroldo abraçando forte a irmã e pedindo "calma" em seu ouvido – Não sei o que aconteceu contigo, maninha, mas agora está tudo bem.

Fé também se ajoelhou para abraçar a amiga. Catarina estava ainda enojada por ver o irmão e a amiga nus e a abraçando, mas também se sentiu reconfortada pelo carinho oferecido pelos dois. Não sentia mais o miasma, não via os tentáculos, sua amiga estava carinhosa e seu irmão amável, isso era tudo que ela poderia querer no momento.

- O que ta acontecendo? – Catarina não encontrava mais Devoção. Fé a abraçava junto do irmão que demonstrava nítida e irrefutável preocupação.

- A gente tava só se divertindo – Respondeu carinhosamente Haroldo – Então você e a Fé chegaram nervosas. Mas agora você pode ficar calma, estamos todos entre amigos.

- Desculpa por te bater – Rachel se sentia constrangida, deixando lágrimas de auto humilhação descerem por sua face.

- Não, Chel, eu que perdi o controle, não tinha o direito de agredir o Haroldo – Respondeu Catarina, abraçando a garota seminua e até se acostumando – Mas, por que ta todo mundo sem roupa? – Catarina perguntou com honesta ingenuidade.

-Bem – Haroldo falou devagar, fez uma pausa, abriu um sorriso largo e meigo que fez Catarina começar a rir enquanto suas bochechas coravam. Então no auge de sua simpatia completou – Todos estamos sem roupa, menos você. Glaucão, fica de olho no corredor pra gente!

FIM

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