Música: Homem da Meia-Noite
Composição: Alceu Valença
Intérprete: Alceu Valença
O tempo impunha sua marcha, embalado pela festa da carne e pela teoria da relatividade de Einstein, segundo a qual quando estamos diante do que gostamos, ele passa mais rápido. O sol escaldante atormentava a vida dos foliões. Muitos, inebriados pela bebedeira, nem percebiam o astro incandescente e seu efeito sufocante. Dionísio procurava se aninhar entre uma sombra e outra, debaixo de denso arvoredo secular. Estava levitando, envolto na aura de sua deusa. Jamais foi um admirador do dia. Mas, diante do carnaval, das alegorias e dela, estava se esforçando. Luna, por sua vez, sentia a latência de seu coração disparar. Desde que perdera a cor com o falecimento trágico de sua mãe, não mais se permitia observar o mundo a cores.
— Não fui feito para o dia "Lua". Mas, vale o esforço para contemplar os dois astros: você e esse sol escaldante. Do mesmo modo, contemplar essa plasticidade de coloridos, sons e vibrações não tem preço!
— Eu gosto do dia Dion. Somos luz e sombra, claro e escuro. Ciência e Misticismo. Opostos que se completam!
— Esses opostos necessitam um do outro. Não existem sozinhos! — Dionísio rebateu sem hesitar.
— Eu temo tal constatação. Nunca passei por isso! Ele tem uma energia que me assombra! Não sei se sobrevivo a isso tudo. Bem, é carnaval, vou dançar no ritmo! — pensava Luna altivamente enquanto olhava pra Dion com todo amor do mundo, agarrada em seu pescoço.
— Não sei o que será de mim também! — o lobo sabia que o mundo estava de ponta-cabeça.
— Oi? Dion?
— Estou louco igual a você. Certamente ainda extasiado com toda essa loucura chamada : "Nós"!
Dionísio se referia a essa experiencia nova em sua vida. Mas, acima de tudo, lia o silêncio de Luna.
— Deixa eu te falar uma coisa Dion: tuas mãos são impiedosas. A cada toque uma sensação esquisita percorre meu corpo. Nunca senti isso.
— E a tua boca então? me faz estremecer sempre que a toco. Mal comecei a abusar dela e já começo a me viciar. Você desperta minha insanidade! — argumentou Dionísio.
— Me beija Dion.
Sem pensar o lobo envolvia sua caça, com toda delicadeza necessária para deslocá-la. Antes de beija-la na boca, farejava aquelas mãos de neve, aquele rosto corado pelo calor do dia. Estavam rumando para lugares jamais tocados em ambos os corações. Ambos sabiam disso, temiam e desejavam isso num jogo perigoso e mortal. Iasmim, entre um beijo e outro, entre um carinho e outro, observava a cena. Estava feliz por vê-lo assim, como jamais o viu: completo. Estava preocupada com Luna, e ao mesmo tempo desejava que ela se encontrasse.
— O que farei contigo Dion?
— Tens mãos fortes para me aguentar Lua?
Os dois estavam obcecados. A paixão compromete os sentidos. entre beijos e carícias, toques e insinuações, cortejavam um ao outro.
— Eu quero você por todo o carnaval Dion! O "depois" decidiremos...
— Desde que a vi, soube que seria seu!
— Aquela poesia é sua, "professor"! Essa rosa que tenho aqui nas mãos é invenção sua. Certamente! Adoro poesia! isso é jogar baixo.
— Sim Lua! quanto a jogar baixo, ainda não comecei...— o sorriso taciturno se apossou do rosto dele! — Olha, espera aqui, vou pegar um vinho!
VOCÊ ESTÁ LENDO
"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)
Chick-Lit- Eu sou a sua loucura, a sua insanidade. Faça parte do meu mundo e te darei o que você sempre procurou durante a vida. Porém, uma vez diante da verdade, jamais serás a mesma. - essas foram as primeiras palavras dele, Dionísio, quando pela primeira...