Capítulo 5 - "Homem da Meia noite"

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Música: Homem da Meia-Noite

Composição: Alceu Valença

Intérprete: Alceu Valença


O tempo impunha sua marcha, embalado pela festa da carne e pela teoria da relatividade de Einstein, segundo a qual quando estamos diante do que gostamos, ele passa mais rápido. O sol escaldante atormentava a vida dos foliões. Muitos, inebriados pela bebedeira, nem percebiam o astro incandescente e seu efeito sufocante. Dionísio procurava se aninhar entre uma sombra e outra, debaixo de denso arvoredo secular. Estava levitando, envolto na aura de sua deusa. Jamais foi um admirador do dia. Mas, diante do carnaval, das alegorias e dela, estava se esforçando. Luna, por sua vez, sentia a latência de seu coração disparar. Desde que perdera a cor com o falecimento trágico de sua mãe, não mais se permitia observar o mundo a cores.

— Não fui feito para o dia "Lua". Mas, vale o esforço para contemplar os dois astros: você e esse sol escaldante. Do mesmo modo, contemplar essa plasticidade de coloridos, sons e vibrações não tem preço!

— Eu gosto do dia Dion. Somos luz e sombra, claro e escuro. Ciência e Misticismo. Opostos que se completam!

— Esses opostos necessitam um do outro. Não existem sozinhos! — Dionísio rebateu sem hesitar.

— Eu temo tal constatação. Nunca passei por isso! Ele tem uma energia que me assombra! Não sei se sobrevivo a isso tudo. Bem, é carnaval, vou dançar no ritmo! — pensava Luna altivamente enquanto olhava pra Dion com todo amor do mundo, agarrada em seu pescoço.

— Não sei o que será de mim também! — o lobo sabia que o mundo estava de ponta-cabeça. 

— Oi? Dion?

— Estou louco igual a você. Certamente ainda extasiado com toda essa loucura chamada : "Nós"!

 Dionísio se referia a essa experiencia nova em sua vida. Mas, acima de tudo, lia o silêncio de Luna.

— Deixa eu te falar uma coisa Dion: tuas mãos são impiedosas. A cada toque uma sensação esquisita percorre meu corpo. Nunca senti isso.

— E a tua boca então? me faz estremecer sempre que a toco. Mal comecei a abusar dela e já começo a me viciar. Você desperta minha insanidade! — argumentou Dionísio.

— Me beija Dion.

Sem pensar o lobo envolvia sua caça, com toda delicadeza necessária para deslocá-la. Antes de beija-la na boca, farejava aquelas mãos de neve, aquele rosto corado pelo calor do dia. Estavam rumando para lugares jamais tocados em ambos os corações. Ambos sabiam disso, temiam e desejavam isso num jogo perigoso e mortal. Iasmim, entre um beijo e outro, entre um carinho e outro, observava a cena. Estava feliz por vê-lo assim, como jamais o viu: completo. Estava preocupada com Luna, e ao mesmo tempo desejava que ela se encontrasse.

— O que farei contigo Dion?

— Tens mãos fortes para me aguentar Lua?

Os dois estavam obcecados. A paixão compromete os sentidos. entre beijos e carícias, toques e insinuações, cortejavam um ao outro.

— Eu quero você por todo o carnaval Dion! O "depois" decidiremos...

— Desde que a vi, soube que seria seu!

— Aquela poesia é sua, "professor"! Essa rosa que tenho aqui nas mãos é invenção sua. Certamente! Adoro poesia! isso é jogar baixo.

— Sim Lua! quanto a jogar baixo, ainda não comecei...— o sorriso taciturno se apossou do rosto dele!  — Olha, espera aqui, vou pegar um vinho!

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora