Quando eu era pequena tive três unhas arrancadas em um acidente de bicicleta, várias vezes cotovelos e joelhos ralados. Já bati a cabeça bem forte e desmaiei. Já prendi o dedo nas portas tantas vezes que nem sei quantas foram, mas chuto um número por volta de 452. E de todas minhas quedas, de todas minhas dores, nenhuma se comparava a dor que eu sentia quando olhava pra ele. Não por que ele era extremamente feio. Não, ele era lindo. Não por que ele era desagradável ou por que ele tinha algum poder sobrenatural de fazer sentir dor quem o olhasse. Doía, por que tudo o que eu via ali em minha frente, jamais seria meu. Tudo o que eu amava, ainda amo, nunca foi meu.
Ele era meu melhor amigo. Não tínhamos uma amizade longa, éramos amigos há pouco mais de um ano, mas ele tinha algo que me agradava tanto e que me fazia rir nos piores momentos. Quando nos beijamos, não foi algo normal. Não foi como meus outros beijos. Não foi como comer um sorvete de chocolate francês e bem caro. Não foi como o cheiro da grama molhada depois da chuva (o que eu chamava de cheiro de nostalgia). Novamente, nada se comparava aquele beijo, aquele toque, aquele cheiro. Foi algo inexplicável.
Por mais que eu o teria sempre que nos víssemos até a hora que ele achar alguém melhor, ele não seria meu. Eu sabia que estava na companhia de um cara que pertenceria futuramente, não a mim e sim, a outra garota que certamente seria linda, estonteante, com um corpo que agradasse ele por inteiro, com um rosto que seria como de um anjo, cabelos longos, que teria o sorriso lindo e que combinasse perfeitamente com ele. E eu seria apenas a garota que ele iria pegar e transar, enquanto não encontrar outra melhor que eu, pra ser o príncipe encantado dela.
É completamente ridículo o fato de eu deixar ele fazer isso comigo, mas acho que ainda não expliquei direito. Ele tinha (ele tem), algo que nenhuma outra pessoa na Terra tem. Ele tem um sorriso que não me permite recusar. Um olhar que não me faz querer ficar longe. Um cheiro que me atrai pra mais perto, cada vez mais perto. E eu simplesmente não sei o que ele viu em mim... Logo eu, que tinha cortado o cabelo de forma tão esquisita, não conseguia parar de roer as unhas, tinha os dentes tortos e as sobrancelhas grossas, não tinha um físico que parasse o trânsito ou uma voz que penetrasse a mente e nunca mais saísse... Eu era, ainda sou, a garota mais estranha de um jeito completamente ruim que você poderia conhecer. Mesmo assim, eu estava lá, em um parque antes da aula, beijando um garoto sensacional e pensando, será que tudo isso será meu algum dia?
Claro que eu vacilei. Porra, eu vacilei muito! Mas ele vacilou demais também... E todas as vezes, eu o perdoei. Ele poderia ter me perdoado, mas era mais fácil pra ele fingir que não sentia nada por mim, afinal, se ele admitisse, não poderia ''namorar'' todo mundo.
Que ingênua era eu, que naqueles momentos perfeitos que eu passava com ele, mal sabia que meu coração seria pisado tantas vezes pelas botas amarelas estilo swag que ele usava.
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Amizade Colorida
RomanceVárias pessoas gostam de amizade colorida. Mas o que fazer quando você começa a gostar de verdade do seu amigo colorido? O que fazer quando você se pegar pensando em um futuro junto com ele, casar, ter filhos e ser feliz? O que fazer quando você for...