A Peça

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As luzes estavam apontadas para o palco, as cortinas ainda fechadas, só por instantes de abrir. "Quebre a perna" era o que mais se ouvia, o que era gentil, mas já estava começando a irritar Farkle, parecia que todo mundo estava desejando indiretamente que ele se desse mal. Nada como o nervosismo para piorar tudo.

Riley estava analisando seu vestido cor púrpura, sentia-se como se fosse sua mãe quando fez aquele papel, principalmente pela poeira no vestido, não que a achasse que a mãe fosse velha, mas você entendeu. Ela tossiu um pouco, mas o sorriso continuava ali, agora não se sentia tão diferente de seus pais, os pais "perfeitos", que ela nunca conseguiria ser, mas se sentia quase lá.

Lucas ia de uma lado para outro, ajudando quem precisasse, assim se distraindo. Claro que ele estava um pouco nervoso, esquecer falas ou cair eram sempre possibilidades, mas o problema na verdade eram as pessoas, não exatamente todo o público, mas sim um grupo de pessoas: sua família. Todos vieram do Texas para vê-lo, só para vê-lo. Mas ainda assim, ele sabia que não era isso, amava sua família, se sentia agradecido por virem, o problema, o verdadeiro, era o que Pappy Joe iria dizer. Ele sempre criticou seu neto, não importa o que fizesse, Lucas não sabia, mas isso era porque Pappy queria o melhor para ele, mesmo que as vezes de uma forma errada.Mas não sabendo disso, Lucas achava que seu avô o acharia uma desgraça, um fraco, a ovelha negra da família Friar, já ouvia um "Que tipo de Friar atua em uma peça? Queria dizer que só as mulheres, mas bem.." .Pensando em "ovelha" e "desgraça", Lucas quase passou mal, derrubando uma das caixas que segurava, mesmo que tivesse vencido o torneio de Touros, ainda não tinha se recuperado bem da memória da Judy. Juntou as caixas e respirou fundo.

Maya estava tranquila em uma das cadeiras do teatro, com as botas apoiadas na cadeira da frente,incomodando a pessoa que estava sentada, que estava xingando a garota mentalmente. Tomava seu refrigerante calmamente, quando percebeu alguém de pé ao seu lado.

-Olá garota da cidade, será que eu posso sentar ao seu lado?

-PAPPY JOE!- gritou Maya, sorrindo

Zay, que estava sentando do lado de Maya enquanto jogava no seu celular, tirou os olhos da tela para olhar a figura:

-Friar-Zay fingiu que abaixava a aba de um chapéu em cumprimento

-Babineaux- Pappy realmente abaixou a aba de seu chapéu

-Senta aí Pappy Joe!

-Ah, muito obrigado loirinha, eu não conseguiria voltar lá atrás com aquele bando de reclamões- reclamou, apontando para várias pessoas com chapéu de caubói

- Aquela é a família do Lucas?!- perguntou Maya, já pensando em piadas destinadas ao garoto

Pappy confirmou com um suspiro, como se estivesse cansado deles. Zay, querendo mostrar a Maya que a melhor parte estava por vir, acenou em direção ao bando.

O que aconteceu em seguida deixou a garota maravilhada, como se seus sonhos tivessem se realizado, e realmente foram. O bando respondeu em uniosso, em claro e bom som:

-HAHURRRRRRRRRRR

Agora a vida de Maya realmente estava completa.

Até mesmo dos bastidores deu para ouvir, e é claro que Lucas reconheceu o som perfeitamente. Além de imaginar os sermões do avô, agora imaginava as piadas de Maya. Ouviu seu telefone apitar e viu uma mensagem de Zay, ele tinha enviado um vídeo.

Aquele infeliz filmou tudo aquilo? droga!

No vídeo, mostrava o momento que sua família acenava e gritava, todos de chapéus e camisas xadrezes, e logo a câmera foi apontada para Maya, que sorria muito, rindo e chorando ao mesmo tempo. Lucas não teve como não sorrir junto, ele sabia que ela estava realmente feliz, então ele aguentaria as piadas.

Microfones ligados, as luzes se apagaram, mas só por um pouco tempo, quando as cortinas abriram, o clarão estava encima de Lucas, e então a peça tinha começado.

Riley fazia grandes dramas, se jogando no chão e recitando frases tão aleatórias que ninguém podia entender.

Farkle dizia algumas frases de Lucas e improvisava mais um pouco, tirando gargalhadas do público. Por mais que parecesse confiante, não estava. Existiam coisas maiores por trás de querer o papel do Lucas.

Lucas estava bem concentrado, e bem nervoso, mas no meio da tensão algumas vezes até sorria, mas que sorriso!

Pappy Joe observava seu neto, com uma roupa cheio de babados e frases "melosas" demais para seu gosto, e sussurrou para Maya:

- Ei, loirinha, meu neto...hum..gosta dessa coisa toda?

- Atuar?

- É, atuar. Ele é... feliz com isso?

-Acho que sim- disse pausadamente- ele se esforça bastante... mas nada deixa ele mais feliz que um rodeio!

- Ou uma fogueira...- disse intencionalmente Pappy Joe, lembrando da vez que seu neto e seus amigos estiveram no Texas, agora ele queria ver a reação de Maya.

Ela também se lembrou daquela viagem, e um calafrio passou pelo seu corpo. Pappy riu da careta que a garota fez.

-Como você sabe?- perguntou, impressionada e chocada ao mesmo tempo

- Eu percebo quando todos os amigos do meu neto voltam,passando pela minha varanda, menos o meu neto e uma certa loirinha- disse sorrindo carinhosamente.

Maya deu um riso nervoso, voltando a olhar ao palco, mas direcionando o olhar a certa pessoa, o analisando, pensando no que tinham conversado e como a conversa tinha se voltado contra ela.

Zay não pode deixar de ouvir e estava se segurando na cadeira para não correr dando gritinhos em direção ao amigo.

Mesmo com beijo programado no roteiro, aquilo não ia acontecer, já que Farkle estava no palco e Cory estava gritando do público. Riley, mesmo que estivesse "morta", não deixou de fazer beicinho.

Estava tudo ocorrendo bem, mesmo com as várias reviravoltas provocadas por Farkle, Sr. Stuart estava orgulhoso de seus alunos

- É assim que o teatro realmente é!- falava eufórico

Outra reviravolta aconteceria, mas uma que Farkle não gostaria de ter improvisado.

Quando viu, um tomate já tinha o sujado todo e de "bônus" ganhado um olho roxo.

-Numa tacada só!- gritaram dois garotos, rindo

A única coisa que fez foi ir atrás do palco e fechar a cortina ele mesmo, segurando aquelas lágrimas que tinha segurado a tanto tempo por mais um pouco e foi embora.

Hope is for SuckersOnde histórias criam vida. Descubra agora