Amanda Garrido acabara de dar início a sua rotina. Ela sempre fazia a mesma coisa toda manhã: tomava banho, se arrumava para ir à escola, dava um beijo nos pais depois de tomar o café e saía com um pesado suspiro de quem não aguentava mais ir à escola.
Só que em uma estranha sexta-feira, por incrível que pareça não era dia 13, ela encontrara algo bizarro até. A carcaça estava quase sumindo em ossos brancos finos e restos de pelo, fedia muito, mas, ainda assim, Amanda reconheceu o gato em estado de decomposição.
Franziu o nariz e contornou o corpo do gato.
Na escola não fizera nada de diferente. Um professor do qual ela odiava tanto dera o primeiro tempo e enquanto algumas pessoas prestavam atenção, de birra, ela não dava a mínima para a explicação do antipático lecionador, mas o homem apenas fazia o seu trabalho, malfeito, mas fazia.
O intervalo veio como uma salvação para a pobre garota entediada. Seus amigos se juntaram em um círculo e conversavam sobre uma possível ida ao circo logo mais à noite. Quase todos concordaram em ir. Amanda não gostava nada de circos, não tinha medo de palhaços, só não acreditava em nada mesmo não sendo muito idiota para saber que eram apenas truques, ela apenas não gostava. No entanto, era uma maneira de fugir do culto da sexta que a mãe sempre a obrigava a ir, poderia ver seu namorado que era um segredo bem guardado também.
- Não parece animada com a saída em grupo – Patrick, seu namorado, disse.
- Circo não é muito a minha praia, mas aceito tudo para não ir com minha mãe ao culto novamente. Tudo aquilo é um saco.
- Podemos fazer outra coisa se preferir. Podemos ir para a minha casa...
- Nem pensar. Já falamos sobre isso.
- E você já disse que não está preparada – reclamou ele. – Mas já estamos juntos há quase um ano.
Há quase um ano eles se escondem da tirania da mãe de Amanda.
- Se não estiver satisfeito que procure outra que esteja disposta a fazer as suas vontades.
Patrick bufou impaciente.
- Ok. Esqueça isso. À que horas posso ir buscar você?
- Não sei. Às sete?
- Combinado.
Trocaram um beijo tão frio que Amanda podia pressentir que fizera o bem em não apresentar seu namorado para sua mãe. Aquilo não estava mais dando certo.
Depois da aula Amanda foi imediatamente para casa. Não queria ter que esbarrar com Patrick novamente. Pensara a aula toda em terminar o namoro, mas sabia de sua fama em apressar as coisas, estava de cabeça quente e não queria se arrepender de nada porque apesar das idiotices dele, sabia que gostava muito de Patrick.
Almoçou na companhia do pai e da mãe. Estavam comendo concentradamente, como sempre, uma lei implantada por sua mãe de que ninguém podia dizer nada durante as refeições. Isso era um verdadeiro saco na verdade, assim como tudo o que empurravam para Amanda.
- Vou sair com meus amigos hoje à noite – declarou.
- Primeiro – disse sua mãe. – Não se fala enquanto come. Segundo, não sei quem são esses seus amigos. Terceiro; você sabe que temos que ir ao culto toda sexta. Agora coma.
Ela não comeria. Assim como não iria ao culto e assim como não deixaria mais aquilo acontecer com ela. Estava cansada de toda importunidade, de todo peso que sua mãe botava em cima dela. Sua mãe queria praticamente uma vida casta para a garota, na mente infeliz da mãe não podia se duvidar de que ela achava que a filha podia ser canonizada.
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o mágico
Short StoryAmanda Garrido está cansada de tudo. Cansada da mãe religiosa, do pai sem impostação e da vida rotineira na escola. Quando uma saída ao circo da cidade torna-se um motivo para desatar seus laços familiares, ela não sabe mais o que fazer, apenas v...