( Minha crônica para a Olimpíada de Língua Portuguesa)
Última noite de verão
Em uma pequena cidade do sul do país, onde entre os meses de maio e junho, os pés de tangerina voltavam a ficar carregados e onde o trem Maria Fumaça encantava a todos e a adrenalina atingia seus graus mais elevados no rafting, canyoning, rapel, e no montanhismo, conhecidos esportes de aventura. Ali, exatamente no centro da cidade, no auditório da escola, acontecia um baile de formatura, onde depois das exatas três da manhã do dia 12 de dezembro, a cidade ficou marcada.
Sara e Miguel, um jovem casal que estavam juntos desde a oitava série, curtiam sua última noite como estudantes, divertindo-se e dançando até ficarem somente os dois com a pista de dança livre para eles. Aquele talvez fosse o momento perfeito para Miguel realizar seu sonho tão almejado.
- Preciso te fazer um pedido – Ele sussurra amorosamente em seu ouvido.
Ela sorriu tímida dando lhe um abraço apertado e envolvente – Só espere um momento – Ela pediu, beijando-o delicadamente com seus lábios macios, em seguida deu-lhe as costas e saiu pela porta que levava ao corredor principal, se retirando do salão em segundos.
Miguel ficou a espera de sua amada ansiosamente, para lhe fazer o tão esperado pedido que poderia mudar radicalmente a vida de ambos, mas que ele precisava fazer, pois era a maior certeza que ele tinha no mundo.
Ao decorrer dos minutos, já atormentado, não havendo retorno de Sara, Miguel resolveu ir ao seu encontro, percorrendo os corredores escuros da escola chamando por ela. Não houve resposta. Seu peito doía de aflição, sentiu que havia algo de errado acontecendo.
Um grito agudo ouviu-se ao longe, vindo da direção aonde se encontrava o ginásio de esportes. Miguel com um enorme aperto no peito, rapidamente corre, pois pressentia ser o som da voz de Sara. Finalmente ao chegar, abriu as portas bruscamente, entrando no pior pesadelo que ele poderia viver.
Miguel caiu de joelhos no chão sem acreditar no que seus olhos estáticos viam. Não encontrou forças para ir até ela, mas obrigou-se a levantar-se devagar, consumido pelas lágrimas.
Encontrara sua amada pendurada abaixo da cesta de basquete, a poucos centímetros do chão. Seus braços estavam esticados, sendo mantidos assim por cordas que seguravam firme seus pulsos. Em seus braços havia vários cortes profundos, que fizeram o sangue dela escorrer formando uma poça abaixo dela. Pareciam letras. Seu vestido que antes era de um azul angelical, agora estava completamente rasgado deixando suas pernas a mostra e sujo, manchado pelo seu sangue, assim como seus pés que já se encontravam arroxeados.
Ele foi andando em direção a ela, passando a mão firme em seus cabelos, com os olhos ardendo em fogo e a garganta seca. Tremendo e corroído pelo sofrimento, ele conseguiu desamarrá-la, soltando-a e a segurando firmemente em seus braços.
Sem conseguir se afastar e sem acreditar o que seus olhos desesperados viram, chorou, ficando de joelhos no chão, com ela em seus braços. Aproximando-se de seu rosto, depositou um leve beijo apaixonado em sua testa. Transtornado pela tristeza deitou-a no chão, ficando ao lado dela. Olhando calmamente seus braços onde os cortes formavam letras, onde podia-se ler "Você fez a escolha errada"
Ele colocou a mão no bolso, retirou uma caixinha e passando o polegar sobre o anel de noivado que comprara a ela, resolveu emocionado colocá-lo no fino dedo anelar direito de Sara.
- Eu amo você – Ele sussurrou em meio aos soluços de choro.
As mãos dele, tomadas pelo sangue tremiam, assim como seu corpo. Ele encarou o rosto dela, e ensaiou um leve sorriso, por saber que ele teve a chance de amar a garota mais incrível que conheceu, e que foi amado de tal forma que ninguém jamais o amaria.
Miguel gritou em fúria, em desespero. Foi quando as lágrimas o dominaram, tornando-o escravo delas, e quando um breve silêncio se fez, em meio aos seus suspiros, um sussurro fraco se ouviu...
- Eu aceito – Aquelas foram as últimas palavras da amada Sara.
O que realmente aconteceu? Poucos sabem. O assassino? Nunca foi pego. O que ela e ele sentiam um pelo outro? Ninguém além deles jamais saberá.
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Para Lugar Nenhum
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