one

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[capítulo único]


don't get too close
it's dark inside
that's where my demons hide
that's where my demons hide

demons
By imagine dragons


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Os meus pulsos ardiam, provavelmente inflamados, por debaixo das mangas da minha camisola.
Sim, tinha feito aquilo de novo, com o objetivo de afastar qualquer tipo de pensamento da minha cabeça, que me pudesse levar a emoções e sentimentos desnecessários.

Fecho os olhos com força, percebendo que não cumpri o meu objetivo, pensando no quão inútil e triste a minha vida se tinha tornado. Ao pensar no quão drásticamente mudei de personalidade, quase como que da noite para o dia. Sinto falta do meu eu que não mantinha uma personalidade e expressão simulada constantemente, no eu que não tinha de fazer o mínimo esforço para ser ou apenas parecer minimamente feliz.

Depressão... É isso que lhe chamam.

Eu apenas lhe chamo a tristeza que invadiu a minha vida, até se instalar em mim e que agora faz parte da minha pessoa. Aquela coisa que arruinou a minha vida. Aquela que afastou de mim a felicidade que, mesmo antes, já era praticamente nula. Aquela que afastou para bem longe o resto de esperança que existia no meu ser, já antes, pouco esperançoso.

Aquela que me impossibilitou de viver dignamente, porque, considero-me apenas a respirar, não viva de todo. Apenas ando por aqui, vivendo a minha "vida" monótona, solitária e cheia de estragos, e excusado será dizer, extremamente triste.

"Deixa de ser tão deprimida" diziam eles, que nem sequer pensaram no facto de eu ter tentado.
Eu tentei forçar um sorriso e agir como se a vida fosse um mar de rosas, agir como se tudo aquilo que eu sentia, aquele ardor no coração, não existisse. Mas a verdade é que existia, e primeiramente até o disfarçava minimamente bem, mas isso que eu fingia acabou por explodir, no momento em que eu não consegui esconder mais o que se passava dentro de mim.

"Estás sempre triste!" diziam eles, criticando o facto de eu não continuar a fingir. Criticando o facto de eu não suportar mais aquela pesada máscara de felicidade. Criticando o facto de eu começar a ser eu própria, como a minha destroçada personalidade. Fingir um sorriso podia até parecer fácil ao começo... Mas esse sorriso tornou-se pesado, de uma certa forma não convincente, e deixei de o suportar.

"Vai a um psicólogo" diziam eles, com os seus olhares e bocas acusadoras viradas para mim, quando eu não me consegui conter mais só para mim e deitei para fora parte do que realmente sentia, no momento em que realmemte comecei a falar sobre parte dos pensamentos que me assombra. Eu não preciso de um psicólogo, eu apenas preciso de alguém que me ouça... Alguém que me compreenda minimamente. Alguém que, por menos que me saiba aconselhar, perca tempo a ouvir-me. Alguém que saiba fingir minimamente que se importa, ou, mais difícil, se importe de verdade.

"Por acaso andas a tomar os medicamentos?" perguntavam eles, como se tudo se resumisse a emborcar comprimidos para esquecer a dor. Eu não precisava de medicamentos se recebesse um abraço apertado dado por alguém que realmente se importasse. O problema era que ninguém se importava... Limitavam-se apenas a julgar e criticar tudo o que se passava ou não na minha vida, sem sequer me compreenderem ou até ouvirem o que eu tinha para dizer. Até porque, sim, eu sei que julgar é muito mais facíl...

"Para quê essa cara!?" perguntavam eles, revirando os olhos à minha expressão de tristeza e nostalgia, que outrora tinha sido uma expressão de falsa alegria. Como diziam eles? "Não tens motivos para estar assim.", não era isso? O problema era que os motivos eram mais que muitos.
Porquê julgar a minha expressão de descontentamento se sou eu quem realmente sabe o que sente e transparece? Não fui capaz de fingir mais, tornando-se a minha expressão num reflexo da minha mente. Tornando-se o meu exterior um espelho do meu profundo e ferido interior.

depression ✗ one shotOnde histórias criam vida. Descubra agora