Neste momento estou deitada na relva do maior parque de Londres a admirar as estrelas. Estar assim fez-me pensar na minha aula de filosofia. O professor não é propriamente normal. Foi uma aula deveras interessante:
«"Bem meninos e meninas, hoje vamos abordar um tema diferente do habitual!"- anunciou solenemente o Sr. Miller.
Ele olhou em volta como se estivesse à procura de uma vítima. Evitei contacto visual com o professor. As ideias dele deixam-me nervosa. Mesmo assim fui escolhida. O Sr. Miller mandou-me levantar e colocar-me em frente a toda a turma.
"Bella, o que é, para si, o pior dia da sua vida?" – perguntou o homenzinho com aquele olhar assustador.
"Funerais." – dei uma resposta curta. Para dizer a verdade nem sabia o que havia de dizer.
"O que a desagrada nos funerais?"
"Tudo." – que raio de pergunta. – "O choro das pessoas, a atmosfera de tristeza e desespero. A falta de esperança da família do defunto. Olhar para o corpo morto e perceber que ele nunca mais vai falar connosco. Que tudo o que vivemos não passa de memórias. É horrível!"
"Acha que pode tornar os funerais um pouco menos tristes?" – perguntou o professor comovido.
"Eu acho que não! O ser humano é um animal muito sentimental. É difícil convencer uma mãe cujo filho morreu que ela vai superar a sua morte" – ele olhava para mim e abanava a cabeça em concordância.
"Bonito discurso. Podes sentar-te!"»
Durante o "discurso" lembrei-me do funeral das pessoas que estavam comigo no carro. Foram todos no mesmo dia, ao mesmo tempo, eu preferi assim. O meu tio, que foi quem mais me apoiou naquela altura, tentou convencer-me a que os funerais fossem em horas diferentes, mas eu não quis.
Até àquele dia eu nunca tinha assistido a um funeral. Entrei na igreja onde ia decorrer o velório. Eu queria estar com eles uma última vez, mas sozinha. Esperei cá fora que toda a gente, amigos e família do Connor, da Liv, da Kelly e da Martha saíssem e eu entrei a medo. Olhei para todos eles e pareciam apenas adormecidos nos caixões almofadados. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e dessa noite não tenho mais nenhuma recordação.
Amanheceu e o céu estava cinzento como a minha alma. Vesti o meu vestido preto que os meus amigos adoravam e quando deu por mim já estava no cemitério. Pior que o dia do acidente foi o do funeral. Oficialmente, o dia 11 de fevereiro de 2011 foi o pior dia da minha vida.
O discurso do padre foi comovente e eu passei a cerimónia toda a chorar, agarrada ao meu tio. A pior parte do dia foi quando foram enterrados. Foi horrível! Eu senti-me terrível e senti como se uma parte de mim também tivesse sido enterrada.
No final do funeral, imensas pessoas foram ter comigo dizer que lamentavam. Lembro-me que sorri para as primeiras pessoas, mas depois fiquei farta e fugi dali. Andei por Churchtown até anoitecer e a seguir fui para a campa da Martha.
Depois de tudo isto, recordo-me que não falei com ninguém durante semanas. Fui olhada de lado por muitos colegas, pois alguém espalhou o rumor de que eu matei os meus amigos.
Acordei dos meus pensamentos destrutivos. Aqui comecei de novo, tenho amigos, bons amigos e cada vez sinto-me mais leve, sinto-me mais eu outra vez. Viver no passado nunca fez bem a ninguém e eu vou parar. Vou descobrir quem estava em frente ao carro e depois vou fingir que nada aconteceu.
Sentei-me na relva e observei um rapaz que vinha na minha direção. Ele não devia ter mais de 3 anos. Correu até mim, sentou-se ao meu colo e fez-me festinhas no cabelo. Não sei porquê, mas o rapazinho alegrou-me.
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Ghosts of the Past
Misterio / SuspensoUma nova cidade, um novo começo... Depois do acidente, Bella nunca mais foi a mesma, mas é em Londres que vai resolver tudo sobre o seu passado. É em Londres que Bella faz novos amigos e tenta começar de novo, mas os fantasmas do passado não vão dei...