Capítulo 1 - Tem cerveja na geladeira!

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Capítulo 1 - Tem cerveja na geladeira!

Bufei batendo os pés pela terceira vez em menos de um minuto. Chequei o horário pela enésima vez em menos de um minuto e meio. Deveria ter deixado o carro no estacionamento ao lado do aeroporto, o dono sempre dava em cima de mim, cobraria bem menos e eu não ficaria plantada em pé no aeroporto cheio esperando o bendito dar o ar de sua graça.

O celular chamou mais uma vez até cair na caixa de mensagem. Qual era a dificuldade de se atender o telefone?

Nenhuma!

Esfreguei a testa úmida com a mão direita sentindo o cansaço se apossar de meu corpo, não iria mais ficar esperando a carona chegar! Arrumando a postura caminhei em direção a saída do aeroporto com determinação sendo seguida pelos "clicks" dos meus saltos, motivada pelo desejo de vingança – por ter ficado igual uma pateta esperando o ser especial dar o ar de sua graça e vir me buscar, cheguei ao ponto de táxi, que para alegria de meu azar, está vazio.

Até que me lembrei: Tinha gastado quase todo o dinheiro que restou com o maldito Box de Música dos Anos Oitenta. E tinha me sobrado... tirei a carteira da bolsa e contei o dinheiro.

Doze reais!

Minha determinação de chegar em casa intacta sumiu na mesma hora que o desejo de vingança cresceu a um nível alarmante. Ele ia me pagar, há se ia!

Cansada, de mal humor e com o menor pingo de vontade marchei com meus saltos altos no piso escuro do lado de fora do aeroporto indo em direção ao ponto de ônibus que ficava a duzentos metros do ponto de táxi.

O desgraçado do Hugo ia me pagar!

Foi com esse pensamento que enfrentei três ônibus lotados, em pé com duas malas grandes nas mãos.

O alívio foi grande quando desci do terceiro ônibus, suada e sem paciência, caminhei um quarteirão inteiro sendo torrada pelo sol incessante enquanto o vento quente jogava meu cabelo contra o rosto, que por sinal estava tão melado pelo suor que grudava os fios na pele.

Quase gritei de felicidade a ver o prédio branco e preto surgi entre outros edifícios. As arvores grandes, a grama bem aparada, as pedras brancas e cinzas que enfeitavam o pequeno jardim com flores coloridas, – e algumas mortas, – era o lembrete de que estava pertinho, bem pertinho de casa. Só precisaria passar pela portaria e subir quinze andares de elevador até meu andar e nada me impediria de tomar meu tão esperado e merecido banho.

O guarda que ficava na guarita, – uma casinha pequena com a metade feita de tijolos avista e a outra de vidro negro, que ficava ao lado do portão preto cheio de ornamentos, meio metro maior que eu. – me cumprimentou com entusiasmo, mostrado um sorriso de orelha a orelha e dentes bem amarelados. Chamou o porteiro pelo interfone para me ajudar com as duas malas, agradeci sorrindo. Roberto, o porteiro, surgiu fora do prédio preto e branco correndo em minha direção, a testa e pescoço brilhando com o suor e o sorriso nos lábios, a barriga saliente quicava levemente enquanto descia os degraus com pressa vindo em minha direção.

– Ágata, minha filha chegasse tarde, achei que ias chegar mais cedo! – O tom humorado que ele usou amenizou meu mal humor. Tirou as malas de minhas mãos e se pôs ao meu lado reto. Roberto parecia disposto a enfrentar quinze andares – de elevador – até meu apartamento segurando as duas malas pesadas com um sorriso nos lábios.

– Fiquei sem carona seu Roberto, o Hugo me deixou na mão e tive que vim de ônibus. – reclamei enquanto o seguia até a entrada do edifício, subindo as escadas observei o porteiro levemente maior que eu se equilibrar com as duas malas nas mãos.

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