O funeral

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Estou neste momento no carro da Rachel a caminho da igreja. Vamos entrar juntas no funeral do Lucas.

Toda a gente da escola vai estar presente no funeral. Mesmo quem mal o conheceu e quem gozava com ele por fazer parte do clube de xadrez. Entrei na igreja e lá ao fundo estava o caixão e umas flores à sua volta. Mack estava sentada ao lado dos pais de Lucas. Eu, a Rachel, o Logan e o Shawn fomos dar-lhe força, mas sentamo-nos mais para trás.

"O Lucas era uma excelente pessoa. Namorei com ele pouco tempo, infelizmente, mas nunca ninguém mostrou tanto amor por mim." – discursava Mack. Eu estava agarrada à Rachel, à beira das lágrimas. – "Quem foi capaz de o matar não o conhecia e se este mundo for justo a polícia vai apanhá-lo. Apesar de pensar o contrário, ele tinha muita gente que se preocupava com ele e que está a sofrer agora."

Nunca me senti tão culpada na vida. O namorado de uma das minhas melhores amigas morreu e a culpa é toda minha. Já falei com a Melissa, mas eles não vão arquivar o caso. Eu tentei de tudo, mostrei a mensagem, apelei ao coração de quem está encarregue deste caso, mas ninguém me ouviu.

Depois do discurso de mais alguns familiares e amigos do clube de xadrez, o padre pediu para fazermos uns minutos de silêncio, o que foi um pouco impossível pois eu não parava de fungar.

O funeral chegou ao fim e a Mack estava pior do que nunca. Ela ainda estava a assimilar tudo. O Shawn levou-a para casa e perguntou se eu queria ir também, mas preferi ficar sozinha.

Andei por Ludgate Hill, até que voltei à igreja. Estava vazia. Sentei-me nas escadas e respirei fundo. Eu, no fundo, queria continuar a procurar o "assassino", mas tinha medo do que poderia acontecer. Fiquei a pensar durante imenso tempo até que sinto uma pessoa sentar-se ao meu lado.

"O que é que a menina está aqui a fazer?" – perguntou um velhote com um sotaque estranho.

"Desculpe, eu conheço-o?" – perguntei um pouco embaraçada.

"Nicollas Delord, um velho de rua; e a menina?" – Nicollas tinha um sorriso acolhedor e isso deixou-me bastante à vontade.

"Bella." – retorqui. – "O senhor vive na rua? Deve ser chato!"

"Nem por isso. Tenho muitos amigos e imensos quartos."- ri-me com a piada. – "E a menina faz o quê à porta de uma igreja com um ar tão triste?"

"Fui a um funeral. E sinto-me um pouco culpada pela morte do rapaz." – admiti.

"Matou-o?" – perguntou de uma forma esquisita.

"Não, claro que não!" – respondi um pouco indignada.

"Então não tem que se sentir culpada. Quem matou o Lucas é que tem de pôr a mão na consciência." – afirmou Nicollas.

"Como é que sabe que o rapaz se chama Lucas?" – indaguei curiosa.

"Eu sei de tudo, como a Mary." – dito isto o velho levantou-se e desapareceu antes de eu poder proferir uma palavra.

...

O meu quarto já estava escuro, pronto para eu me deitar. Comecei a ouvir vozes. Vozes familiares. Liguei a luz e estava lá a Kelly, a Liv e o Connor, todos com um ar de reprovação e diziam: "A culpa é tua!" repetidamente. Comecei a sentir falta de ar, um medo irracional e o meu coração estava acelerado. Mandei-os parar, mas eles continuavam a acusar-me. Eu já estava a sufocar naquele quarto e nada parecia real. Com alguma dificuldade saí do quarto e dirigi-me para a rua. Senti-me um pouco melhor, mas a sensação de falta de ar piorou.

Andei pelas ruas até ao único sítio que eu conhecia verdadeiramente e onde me sinto em casa.

"Ajuda-me." – solucei e nesse instante desmaiei.  

Ghosts of the PastOnde histórias criam vida. Descubra agora