Ataque de Pânico

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Acordei com a cara horrorizada do Patrick muito perto de mim. Olhei em volta e lembrei-me de tudo o que senti.

"Estás bem?" – perguntou dando-me um copo de água com açúcar.

"Eles odeiam-me. Eles odeiam-me!" – repeti exaltada.

"Tem calma, Bella. Ninguém te odeia!" – afirmou o professor de biologia visivelmente preocupado.

"Eles odeiam-me e acham que a culpa da morte do Lucas é toda minha. Eles têm razão! O Lucas morreu por minha causa." – disse e voltei a chorar. Todo o meu corpo tremia.

"Bella, ninguém te culpa. De que é que estás a falar?" – perguntou Patrick com preocupação na voz.

"Os meus amigos. O Connor, a Liv, a Kelly. Eles culpam-me." – eu já estava um pouco mais calma.

"Acalma-te. Bella, eles não são propriamente reais. Tu deves ter tido um ataque de pânico, mas já está tudo bem. Estás aqui comigo e os teus amigos adoram-te!" – declarou com um sorriso adorável. – "Tens que te desprender do passado!"

Sorri fracamente de volta e pedi para dormir no seu apartamento. Ele deixou-me ficar e ligou para os meus pais. Disse que me encontrou na rua um pouco desorientada e que eu não queria ir para casa. O meu pai quis falar comigo, mas como eu recusei, o Patrick mentiu e disse que eu já estava a dormir.

"Podes ficar na minha cama. Eu vou para o sofá." – informou.

"Nem penses. Eu não quero incomodar, eu vou para o sofá." – recusei-me.

Sem proferir uma palavra, o professor aproximou-se de mim e conduziu-me até ao quarto e fechou a porta. Mensagem recebida! Admirei o quarto. Era pequeno, tal como o resto do apartamento. As paredes estavam pintadas num tom creme e a decoração era simples.

Aconcheguei-me nos lençóis de linho branco, desliguei as luzes e tentei dormir. Depois de umas voltas na cama que me era completamente estranha consegui adormecer, mas estava bastante inquieta. Sonhei com o corpo do Lucas. Revivi o funeral. Acordei transpirada e com a respiração acelerada.

"Bom dia. Como é que passaste a noite?" – perguntou Patrick.

"Relativamente bem e tu?" – Menti. – "Deves estar com uma dor de costas!" – observei.

"Ao contrário do que tu pensas, o meu sofá é bastante confortável." – declarou o dono da casa.

"Já que o achas tão confortável, vais voltar para lá para vermos o Sponge Bob." – afirmei.

Ele abanou a cabeça numa espécie de desaprovação e veio comigo. Ele deitou-se e eu coloquei-me entre as suas pernas e encostei a cabeça ao seu peito. Ficamos durante imenso tempo a ver os desenhos animados e durante esse tempo os meus pais não pararam de me ligar. Não atendi nenhuma das chamadas.

"Sabes que, eventualmente, vais ter de ir para casa, não sabes?" – perguntou.

"Mas eu tenho de estudar biologia, Sr. O'Neil." – disse num tom de brincadeira.

Ele sorriu e concentrámo-nos de novo na televisão. Já era quase hora do almoço quando um ser humano decide tocar à campainha. O Patrick levantou-se, olhou pelo buraco da porta e suspirou.

"É a Sr.ª Prince. Esconde-te na casa de banho." – sussurrou.

Achei estranho a minha professora de português estar na casa do Patrick, mas obedeci ao pedido dele e escondi-me na casa de banho, para que ninguém soubesse que a nossa relação é mais do que professor-aluna, mas sempre com atenção ao que se estava a passar na divisão que acabara de abandonar.

"Patrick!" – exclamou a Sr.ª Price e ouvi o som de beijos. – "Passei por aqui e pensei que podíamos ir almoçar àquele restaurante novo."

"Não posso. Tenho muita pena Chloe, mas estou cá com uma amiga, se é que me entendes." – mentiu Patrick depois de um momento de silêncio possivelmente constrangedor.

"Então desculpa. Fica para outro dia." – disse a professora com uma nota de desapontamento na voz. – "Posso só ir à casa de banho?"

"Não!" – quase gritou. Que subtil! – "A Megan já lá está, ela vai tomar banho."

Assim que ouvi isto olhei em meu redor e dirigi-me para a banheira e liguei a água. A partir dali não ouvi mais nada sem ser a porta a bater instantes depois. Desliguei a água e dirigi-me para a sala. Tive uma vontade quase incontrolável de me rir.

"Eu pensava que me chamava Bella, mas afinal..." – trocei.

"Não gozes. A Chloe anda atrás de mim desde o início do ano." – confessou o professor.

"Mas ela não é casada?" – perguntei admirada com a afirmação anterior.

"É, mas provavelmente não é feliz. Mas como deves calcular, ela é velha demais para mim." – observou meio aborrecido.

Ri-me mais um pouquinho e depois fomos fazer o almoço. A única coisa que o Patrick sabe fazer são ovos mexidos, por isso não tive grande opção.

Durante a tarde enquanto eu estudava e tentava ver o enunciado do próximo teste, não tive sorte nesta parte, o Sr. O'Neil esteve a pesquisar sobre a ansiedade. Depois de algumas pesquisas, Patrick chegou à conclusão que eu tivera um ataque de pânico, como eu já suspeitava.

"Como é que o faço parar?" – questionei.

"Terapia. Tens de ir ao psicólogo e talvez uma bomba de asma te ajude a controlar quando tiveres falta de ar." – respondeu, depois de ler o que estava num blogue chamado "Se precisa, nós ajudamos!".

"Eu já vou ao psicólogo uma vez por semana." – informei.

"Calculei que sim. Eu amanhã compro-te a bomba de asma. Não sei se vai resultar, isto foi só um conselho do blogue, mas depois eu pergunto à farmacêutica."

Continuei o meu estudo, até que recebi uma mensagem de um número desconhecido. O meu coração falhou uma batida. Podia ser qualquer pessoa, até a operadora de telemóvel, mas mesmo assim, sempre que o telemóvel tocava, o meu nervosismo aumentava. A medo passei o dedo pelo ecrã e li a mensagem: "Não percebeste o meu aviso. Parem com as investigações!"

"Bella, estás bem? Estás pálida." – constatou o professor.

"Estou óptima, só tenho de ir andando para casa." – disse e dirigi-me para a porta.

Eu preciso de um número de telemóvel novo. Urgentemente!


Ghosts of the PastOnde histórias criam vida. Descubra agora