Ele usava seu pincel favorito, gostava do modo como cabia perfeitamente entre seu dedo indicador e o polegar, amava pintar, não mais do que amava as cores do cabelo de sua amada. Os ruivos balançavam quando ela o tocava, balançavam quando ela cantava, principalmente quando ela dançava.
Descia o pincel em curva, como todos os outros dias, a curva o lembrava ao dia em que havia conhecido sua amada, no teatro de belas e artes, aquele dia havia custado toda sua paciência, não coseguira lembrar do tão belo sonho que tivera, ele precisava coloca-lo no quadro, logo quando acordou, correu para seu banquinho de madeira e o puxou, encurvou as costas para a frente, o rosto perto do quadro, ele precisava senti-lo como um órgão, esse era o jeito dele, quem somos para critica-lo?
Ele estava tão irritado, não era por causa da chuva e sim pelo fato de os traços do quadro formarem o semblante de um rosto, não pelo fato de ser um rosto e sim porque não conseguia completar o rosto, o coitado não lembrava.
Ele desviava das poças de água enquanto corria para o museu Atenas onde trabalhava, ele estava atrasado novamente, alias sempre estava. Chegando percebeu as portas fechadas, de novo praticou o que ele era melhor, esquecer.
Fecharemos na próxima quarta, compareceremos ao teatro Bela e Arte, informava o desgastado papel colado na porta. A sorte dele era que o teatro ficava na frente do museu. La as letras brilhavam e piscavam o horário, havia começado a vinte minutos, então ele correu novamente e passou pela portaria sem mais nem menos, afinal ele tinha acesso privado.
Procurava sua cadeira marcada, para ele sempre era a treze, afinal todas as vezes que compareceu ao teatro seu acento era o mesmo. Um som ecoou pelo teatro inteiro, uma bela moça descia uma escada em curva cantando They say it's Wonderful, e naquele momento ele ficou paralisado e perplexo, ela era a dona dos traços de seu quadro e ele só tinha uma certeza, ele a amava.
Já havia pintado cinquenta quadros iguais todos de sua ruiva, mas para ele era sempre o primeiro, ele esquecia que havia desenhado esta obra e todas as manhas acordava como neste dia e começava pela curva, mas sempre, sempre o mesmo quadro.A moça ruiva que ficava no sofá com o rosto virado para o outro lado perguntava, com um tão de ansiedade, como se fosse a primeira vez:
- Posso virar Maxie?
-Ainda estou na primeira curva bem.
Mas só que era a primeira vez de Max, da ruiva não!