As ruas desertas denunciam o acanhamento das pobres e amedrontadas pessoas Básicas diante do tão aclamado e poderoso exército Híbrido.
-Deus!-murmurou o meu companheiro-Que macabro!
-Deus! -resmungo.-Que idiota!
Paro. Me viro.-Você quer, por favor, caminhar mais depressa?-insisto.-Não estou num bom dia, e já que quer descansar, sugiro que ande como um cabra macho ao invés de uma maricas.
Apresso as pernadas.
-Se a madame não notou, estou me esforçando ao máximo para não parecer um foragido.-diz bufando-Não somos muito bem queridos por estas bandas.
-Não havia dormitórios disponíveis no Pete's Taverna.-soltou enquanto driblo um buraco no chão.-Olha o buraco.
Tupf!
Ele não olhou o buraco! Que imbecil não notaria o enorme e profundo buraco causado por uma maldição de bomba atômica uns duzentos anos atrás?
-Olha...-desculpou-se o indivíduo.-Eu vou precisar de ajuda.
Agachei.
Seus olhos pareciam lanternas ou algum tipo de luz incandescentes e azuis em meio a tanta escuridão e lama.
-Três moedas.
Um sorriso cansado se espalhou no seu rosto.
-Claro!-disse por fim.-Vocês nada fazem de graça. Como esqucer!
Em um instante, moedas douradas estavam em minhas mãos. Ótima mira o ser possuía, devo admitir.
-Pronto? Vai me ajudar agora?
Estendi a mão.
-É assim que espera me tirar daqui?-pôs as mãos na cintura incredulamente debochoso.
-Não me subestime.-continuava a sorrir.
-Você é uma garota!
-Eu sei.
-Magricela e peituda!
-Muito bem lembrado.-anui-Mas sou a única pessoa capaz de tirar você daí de dentro. Então...
Pausa muito rápida. Momento para pensar se ajudar aquele indivíduo seria um bom negócio ao invés de me deitar com ele.
-Okay...-suspirou.-Vamos tentar.-seus dentes sempre à mostra. Sempre a sorrir.-Juro que tentarei administrar meus quilos a fim de não arrancar comigo este teu bracinho seco.
-Dei-me logo esta maldita mão, Gal...garoto!-rosnei.
-Qual é o problema com o meu nome, Angel?-paciência, paciência...o cliente mais caro. O cliente mais caro.
-Vou deixá-lo aí.
***
Nada que eu diga ou faça vai mudar o fato de ser a vilã da história.Nem mesmo os meus familiares iriam entender o porque eu estava prestes a deixar o infeliz da Hibra dormir na calçada rachada da praça principal.
Não conseguimos lugar algum para enfia-lo durante à noite, porque:
1) Estava muito tarde quando começamos a procurar;
2) O inteligente decidiu que cair numa cratera era a coisa mais normal do universo para fazer de palco das suas piadinhas;
3) Eu possuía dores em todo o corpo, e queria muito deitar pelo menos por duas horas antes de me levantar e ir trabalhar de novo.Bom, apesar de odiar cada ser humaninho de onde o meu cliente mais caro havia saído, possuo um pouco de piedade, talvez, do indivíduo pálido de pavor dos homens infezados e mal encarados que nos seguiam com os olhos.
-Eu não posso acreditar que o Pete não daria um jeito para mim, Angel.-concluiu um pouco...verde?
-Vai a merda!-murmurei.-Eu sei aonde estou indo.
-Para um local de desova? Desculpe mas você não é particularmente minha fã.
Sorri. Um sorriso seco.
-E de que serventia isso teria?
Confusão atravessou o seu olhar.
-Matá-lo.-reviro os olhos.-Faço questão de não perder o meu melhor cliente. Por favor! Eu ainda quero muito mais de você do que possa imaginar.
Sua respiração em meu rosto, seus olhos nos meus. Que engraçada essa sensação de estupidez que sobe do meu dedão do pé, e finaliza no peito. No coração.
-Não.-diz ele baixinho e a voz soa rouca. Como se estivesse constipado.-Você não quer.
E a porta se abre.
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Warrior Angel
Historical FictionUm mundo dividido em três pódios. Rumores de divisão territorial. Meios de comunicação e transporte precários. Guerra bate à porta. Haveria uma solução. Uma solução completamente impensada antes dela mesma se manifestar.