Capítulo Único

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...O Grande Uso continuava remexendo o chão com seus poderosos saltos, enquanto gritava: "eu quero dormir", repetidas vezes.

Nenhuma de nossas ideias havia funcionado. Precisávamos resolver aquilo sem lutas, o que estava claro para mim, mas não para ele.

Já sem paciência, foi curto e claro. "Minha vez". Pôs os braços para trás, tomou distância, saltou no peito do Grande Uso e ganhou impulso pra alcançar sua retaguarda desprotegida, erguendo em sua nuca um poderoso soco. Não fatal, mas firme.

O pesado corpo do mamífero caiu no chão sem pranto, mas com a presença de um gemido curto, quase como um Colosso. A extensa camada de pelo poderia ter amortecido a pancada, pensei sozinho.

- Não funcionou, Cueio.

- "Vâmo" embora. – Disse ele, como sempre, desinteressado.

- Já sei! – Primo disse, de longe. Olhamos para aquela figura cômica com pouca esperança. – Não tem nada mehor... – Abre os braços. - que dormir de conchinha!

E deitou-se no urso, que pôs se a dormir, logo após exibir um grosso mas meigo "é verdade".

- Olha! Funcionou!

- Tsc. – Contraiu as pernas... – Eu vou embora. – e saltou.

- Cueio! – Estendi meu braço ao vento, numa tentativa de fazê-lo esperar. - ...Espera os brother!

Mas ele pareceu não me ouvir. Ou apenas fingia que não me escutava. Conforme meu braço retraía para suas funções normais, percebia o quanto aquilo me machucava profundamente.

Estar com ele era mais do que necessário. Estar ao seu lado era tudo o que eu precisava. Cueio deixara de ser um amigo há muito tempo para se tornar um irmão para mim. E nossos vínculos só aumentaram com essa longa caminhada com destino ao Torneio.

- Vamos segui-lo? –Ouvi uma voz próxima. Fina e boba, lembrando-me de pôr os pés no chão.

- S-Sim. E é melhor andarmos logo. Não podemos perdê-lo de vista novamente...

- Hêhê! – Soou.

Coloquei-o sobre meus ombros, ainda em minha forma antropomórfica. Olhei aquele grande dorminhoco de canto. Como roncava...

Seguimos caminho. Cada passo era similar ao outro. Dificilmente encontrávamos um obstáculo, como uma pedra chata, nada importante. Pedras as quais machucavam meus pés caso não alargasse o passo para evitá-las. Mas é difícil mudar algo que segue um ciclo, como o timing de meus passos firmes.

O que ele imaginava encontrar no Torneio? Talvez nem ele soubesse. Mas sua disposição era algo anormal, assim como sua força. Sua vontade de lutar é maior do que sua vontade de relembrar os amigos. Aqueles que estiveram sempre ao seu lado. Aqueles que seguraram seu corpo e ergueram-lhe, mesmo após amassado pelo medo.

- Oooi Primo Vaco! – Primo quebrara meu silêncio.

- Fala, Primo.

- Vamos cantar musiquinha?

- Hã?... – Algo naquilo me contagiou. Todos os problemas e preocupações constantes pareciam ter desaparecido, junto ao meu medo de desmoronar. Canções eram uma das únicas coisas que conseguia me confortar em momentos assim. Talvez por conta de suas melodias contagiantes, ou por que me lembrava dos bons momentos que tivemos juntos... – Claro! Qual é o som?

- ...Boachinha Voa-Voa!

Então soou o timbre de sua voz musicalmente, que apesar de soar até que engraçado na maior parte do tempo, encaixava-se perfeitamente no tom das músicas d'Os Pepinos Fritos.

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⏰ Última atualização: Sep 24, 2016 ⏰

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