Lucas é uns dez centímetros mais alto do que eu, cerca de um e oitenta e alguma coisa, imagino. Tem olhos azuis e cabelos castanhos claros. Sua camisa azul clara foi passada com esmero e seus sapatos foram engraxados até brilhar.
Obviamente ele tem alguém para fazer esses serviços por ele, já que as mãos parecem bem cuidadas. Ele parece estar sufocando aos poucos, apesar de não usar gravata, mas seus ombros estão perfeitamente eretos, sua postura é impecável.
De repente, me sinto deslocada com meu vestido florido e as alpagartas. Eu definitivamente poderia ter me maquiado melhor. Talvez devesse ter colocado brincos.
Ele sorri ao me ver e estende a mão, pronto para me cumprimentar.
Quero me afogar em suas covinhas.
Ignoro completamente o cumprimento e me limito a observá-lo, tento memorizar cada pedacinho dele. O único sinal de nervosismo são as pequenas gotículas de suor em sua testa, apesar do ar condicionado ligado.
Por que alguém assim precisaria de uma namorada falsa?
Tudo o que consigo fazer é encará-lo e pensar em como gostaria de passar os dedos por seu cabelo, seu rosto, sua barba....
- Muito prazer. A Pam me disse que você era a pessoa ideal para me ajudar.
Ah, que voz.
- Lucas é o filho de um velho amigo meu. - Pamela diz. - Ele precisa de uma acompanhante que não tenha tido muitos encontros ainda, então acredito que você seja ideal.
Pamela tira o braço dos meus ombros e sorri, provavelmente me xingando mentalmente por não ter correspondido o aperto de mão.
- Então você precisa de uma namorada para impressionar seus pais? - Pergunto.
Ele junta as mãos, intercalando os dedos. Não há sinal de aliança, mas eu já esperava por isso. Qualquer que seja o motivo, Lucas é solteiro.
Interessante. Muito interessante.
- É um pouco mais complicado do que isso. - Lucas diz, abaixando a mão. - Podemos nos sentar?
Pamela imediatamente contorna a mesa de vidro e se senta em sua cadeira, atrás do monitor. Lucas indica gentilmente a cadeira ao seu lado e me sento de frente para Pamela.
Ele inspira profundamente antes de abrir a boca e me preparo para uma longa história. Histórias curtas não precisam de fôlego.
- Cerca de um ano depois que meu pai faleceu, minha mãe descobriu que estava com leucemia. Ela está lutando contra o câncer há três anos. No fim do ano passado, achamos que ela havia se curado completamente, mas, em maio, os médicos disseram que ele retornou. As chances dela se curar são praticamente nulas, então ela tem cerca de um ano e, com sorte, mais alguns meses.
- Sinto muito. - Digo, ainda sem compreender como posso ajudá-lo.
Eu sei como é ter um familiar com câncer. Todo dia é uma batalha ganha e uma perdida. Nós dizemos que eles precisam ser fortes, precisam lutar contra a doença, mas como? No fim das contas o câncer é feito deles mesmos e o corpo é apenas um campo de batalha, fadado à destruição.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coraticum
RomanceHelena sempre se considerou uma mulher independente. Sem sua família para lhe dar apoio, ela lutou durante anos para conquistar as poucas coisas que possui. A maior reviravolta de sua vida acontece com um telefonema inesperado em uma manhã qualquer...