[02] Dia frio e atípico do verão de janeiro.

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Era um dia de chuva no verão quente de Gaya. Uma daquelas chuvas de janeiro, fortes e incômodas que traziam ventos fortes e preguiça de existir fora de casa. Não pude me dar ao luxo de fazer o que queria e me enrolar debaixo das cobertas para ler, pois havia uma mudança a ser feita. Na verdade, a maior parte das coisas da mudança já estavam na casa de Tori desde antes do casamento, mas eu precisava levar algumas das coisas da minha mãe que queria que ficassem comigo. Livros, em sua maioria. Alguns dos seus quadros, rabiscos e rascunhos. Os móveis ficariam lá. Estavam cobertos por longos tecidos brancos para evitar a poeira.
Saindo de lá, passei por todos os velhos móveis de madeira que tanto esbarrei por dezesseis anos. Dei uma última olhada na casa sem vida, só repleta de lembranças distantes ao agora.

Meu carro seguia pela autoestrada 7, em direção ao entenderei que o GPS indicava. Entre as árvores altas e escuras e a visão remota do grande lago, pude ver uma casa de longe. A estrutura em madeira e vidro em uma arquitetura diferente do padrão da Tori. Tive certeza de que ela queria algo diferente do seu trabalho padronizado na construtora para que fizesse a filha se sentir mais confortável. Não havia casa alguma como aquela na cidade
O lugar era lindo e muito bem planejado. Deixando a casa ainda mais bonita e mais misturada à paisagem natural, uma trepadeira com escassas flores amarelas que restaram da primavera subiam até uma das sacadas de frente ao lago. Perguntei-me se nenhuma delas se sentia sozinha entre tantas paredes e metros quadrados.

Parei minha caminhonete azul em frente e logo para dentro para não pegar chuva. A casa estava vazia. Tudo o que eu ouvira era o barulho estridente de uma música clássica vinda do andar de cima. Chamei por alguém, mas não fui respondido. Nem Nina e nem Margot, cuidadora da Nina. Encontrei a cozinha depois de um tempo olhando os livros das estantes. Havia, na cozinha, uma grande porta de vidro dá para um jardim nos fundos da casa, com árvores diferentes das demais e uma horta bem cuidada.

Sobre a ilha de mármore, estava um bilhete com meu nome escrito.

"Você pode se acomodar e lembre-se que essa é a sua casa. Seu quarto fica ao lado do da Nina, então é só perguntá-la e ela te mostrará, como a pedi.
Como sabe, Nina não é sociável e não fala muito, mas pode tentar, se quiser. Contudo, por favor, não insista. Conversaremos sobre isso quando eu e Cody voltarmos. Ela deve estar dançando pela casa ou lendo pela floresta. Dispensei a Margot visto que você resolveu ir durante a nossa viagem. Cuide da minha menina e fique bem.

Eu te amo, querido.

- Tori."

Sorri com o bilhete carinhoso de Tori. A maneira com a qual me tratava com tamanha maternidade. As vezes sentia-me como seu filho e imaginava como minha mãe amaria Victoria. Ela era gentil, audaciosa e divertida. Uma pessoa boa de se estar por perto; que sempre nos arrancava sorrisos, mas confortava com a sua simpatia.
Pensei comigo mesmo em ir buscar as outras caixas depois. Logo, hesitei que seria uma boa ideia procurar Nina pela casa e mal percebi que era exatamente o que eu estava fazendo. Como sua mãe disse, ela deve estar lendo ou dançando e mesmo achando que não devia atrapalhar, queria vê-la. Nina despertava minha curiosidade.

- Nina? - Gritei enquanto escadas gradativamente.

Assim que virei para o corredor, fui atingindo por um furacão de piruetas que vinha com graça e força em minha direção. Era ela. Em um collant azul escuro, meia calça preta e um blusão. Estava sobre mim, quando me dei conta. Ambos caídos no chão de madeira gelado do frio atípico da estação.
Olhou-me com os olhos verdes arregalados e puxa seu cabelo que estava caindo em meu rosto. Tira os airpods do ouvido, com a respiração acelerada.

- Ai. - Resmunguei assim que cai
í e Nina fez o mesmo quando se sentou ao meu lado. - Eu não sabia que estava aqui.

- Desculpa. - Murmurou.

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