VII Gabriel, labrador preto

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Acreditar que animais de raça não são abandonados ou negligenciados é pura ilusão. Quando encontramos Gabriel, ele parecia que estava abandonado há muito tempo, andava pela beira da estrada atordoado com tantos bichos comendo sua lateral direita da cabeça. Ele abanava a orelha , como pedindo para os bichos "saiam daqui, não aguento mais".

Meu neto voltava da escola e veio até mim, dizendo que tinha um cachorro, bem grande que andava e caia no caminho da escola para casa. Peguei o carro e fui procurá-lo, sabia que por ali ninguém iria socorrer aquela criatura que sofria. Andei pela estrada e nada, por mais três dias fiz o trajeto e o cão havia desaparecido, meu neto dizia: "- pode ser que alguém está cuidando" Eu sabia que por ali não era assim, estava preocupada que ele podia estar morto, pois se a bicheira entrasse na rede sanguínea, daria uma infecção generalizada. E foi que ao sair naquele dia, o encontrei perto da pista, bem longe de onde meu neto havia visto o próprio coitado.

Miguel este era o nome dele, que eu havia dado. Miguel andava cambaleando, e os bichos caindo, mas ainda tinha muitos grudados em toda sua face direita, desde a boca até a altura das orelhas, se via de longe que o estado dele estava crítico. Com cuidado para não assustá-lo me aproximei ele ficou melhor, com o olhar caído, como me dizendo" me salve, estou morrendo",joguei uma coberta grande em cima dele por detrás, e o peguei, e meu neto ajudando com parte traseira. Ele estava em silêncio, não gemia e nem nada. Corri para o veterinário, que era o Dr Gilberto , que de pronto o atendeu. Ele me convidou para ajudar e de pronto aceitei. Coloquei luvas e a cirurgia iniciava, primeiro fui anestesiado e iniciava a retirada dos bichos, e uma alma saiu deixando uma cratera na face de Miguel, depois lavado com soro fisiológico e retirados os últimos bichos.

O veterinário havia dito que seria difícil salvar aquele animal, mas eu falei que ele deveria fazer de tudo para dar-lhe conforto. E assim ele fez, retirou todo a miíase (bichos), não ficando nada nem filhotes. enfaixou e o colocou num lugar pra ele descansar e voltar da anestesia,e medicação, era questão de horas para saber se votaria, pelo menos o coração estava fraco,mas com vida. Mais tarde, depois de deixar a clínica, liguei para saber como ele estava, e ele ainda dormia. No dia seguinte bem cedinho, assim que a clínica abriu eu estava lá apostas para saber como ele estava e para minha surpresa ele estava de pé, não comia, e o doutor tinha colocado ele no soro com vitaminas e medicamentos, para que ele pudesse testar o mais confortável possível, assim seguia meu pedido. Entrei e ele aceitou um carinho. Como não tinha o que fazer, fui para casa, e retornei vários dias seguidos para visitá-lo, a ferida ainda estava coberta por ataduras, para proteger de moscas que por ventura viesse sentar no ferimento.

Foram 15 dias de internação , e o custo era costurado por almas abençoadas no orkut, que doaram dinheiro para poder salvá-lo. E quando ele estava comendo e com o início da cicatrização, o veterinário deu alta. Cuidava todo dia, e ele ia reagindo melhor, e a cada semana novo exame de sangue era feito, estava anêmico,e apresentava infecção. Mas com um antibiótico mestrado acreditava eu, que podemos salvá-lo.

Miguel brincava, corria pela chácara, não colocamos ele em baia no canil, vivia livre e feliz.

Um dia ao amanhecer, percebi ele deitado na grama na sombra de uma árvores, que o sol ao despontar já apresentava aumento na temperatura.

Ele estava de boca aberta, ofegante, sentei-me ao seu lado e o peguei no colo, já que de pé não aguentaria, ele havia engordado, estava melhor visivelmente, mas por dentro morria.

Ao pegá-lo no colo, ele deu seu último suspiro, assim morrendo no meu colo, para nossa tristeza. Diante de lágrimas, o enterramos.

O sentimento de impotência diante do que não podemos mudar vem à tona, dor no peito que não se aguenta,mas o tempo corrige, e devemos aprender que fazer o possível, o impossível é com Deus.

Reino Animal, um Amor  IncondicionalOnde histórias criam vida. Descubra agora