Capítulo Sete

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Sempre admirei pessoas com boa oratória.

Naquele momento, em especial, era possível ouvir o som de um mísero fio de cabelo caindo no chão. Enquanto Blaine falava, era uma reação natural prestar o máximo de atenção possível no que o maldito dizia. Talvez líderes nascessem mesmo para liderar com toda uma coerência admirável, ou quem sabe a articulação impecável fosse fruto de muitos anos de prática.

Possivelmente uma combinação de ambos.

Blaine não era uma figura comum na sala dos próprios estagiários, de fato, mas anunciara há pouco tempo que faria uma atividade conosco no mínimo uma vez ao mês. Essa era a primeira delas, de modo que ninguém sabia ao certo o que esperar e eu sentia uma empolgação crescendo por todos, assim como um pouco de nervosismo. Eu não era imune ao último, mas me garantia um pouco mais que o restante. Nas últimas três semanas eu havia pegado ainda mais firme no estágio e até mesmo a Sra. O'Donnell, longe de ser minha maior fã, reconhecia meu avanço.

Ia ser moleza.

Naquela altura do campeonato, meu incidente com Blaine em Barcelona não representava nenhum empecilho. Vez ou outra eu me pegava pensando no quase vexame - normalmente em ocasiões nas quais ele mostrava ser maravilhoso demais para a saúde geral da nação - mas no fim das contas a vontade louca de me enfiar num buraco a cada vez que ele se aproximava passou.

Eu era um orgulho, francamente. Tinha parado de tentar fugir do chefe, meu gato marrento estava voltando a aceitar minha presença em casa, minhas notas em Teoria do Urbanismo só aumentavam e até o meu relacionamento indefinido com o filho dele estava indo muito bem, obrigada. Um verdadeiro exemplo da jovem bem resolvida.

Faltavam algumas coisas, tipo vencer o Pritzker Prize mas eu teria tempo para isso.

- Muito bem - Blaine prosseguia em seu discurso hipnótico -, antes de avançarmos eu gostaria de fazer algumas perguntas. Não se sintam pressionados a responder ou acertar todas, mas saibam que elas podem contar para a avaliação como um todo.

Ele parecia um professor paciente, e nós éramos os alunos sedentos capazes de pular de uma ponte se ele assim desejasse. Perguntou sobre o estágio em si, nossas aspirações para o futuro, qualidades, o que achávamos que um arquiteto deveria dominar. Um verdadeiro blá blá blá de primeiro dia de aula; faltava só pedir uma redação sobre as férias. Depois de meia hora evoluímos para temas mais específicos, fora da temática entrevista de emprego e mais técnicas e complexas. Foi só aí que eu realmente me interessei e comecei a contribuir no assunto.

Em um certo momento, ele perguntou quais fatores nós achávamos que levavam uma construção a fazer fama. A maioria das respostas eram voltas e mais voltas no discurso, tentando usar termos elegantes para justificar o injustificável. Já eu fui direto ao ponto e respondi que considerava a beleza como determinante.

- Então você acha que arquitetura se resume a projetar coisas bonitinhas? - Oliver replicou. Oliver sempre replicava. Alguém tinha que ensinar a Oliver que a vida não se resumia a replicar as coisas que a Venus fala.

- E você quer morar numa casa feia por acaso? - disse Amber, como se conversasse com uma pessoa demente. Apesar da resposta terrível, dentre o rol lastimável de outros estagiários ela era a pessoa mais provável de eu querer levar para uma ilha deserta ou algo do tipo. Muito boazinha, ela.

Soltei um suspiro baixo.

- Claro que não - comecei calmamente. - Mas o que mais importaria pra alguém de fora, que não tem nem noção do quão trabalhoso é sequer pensar em iniciar um projeto? Ninguém vai olhar um prédio, por exemplo, e se perguntar quanto tempo e estudo foram necessários. As pessoas simplesmente gostam do que agrada aos olhos - prossegui. Oliver olhava para Blaine, que, por sua vez, estava olhando para mim. - É natural. Todos nós somos atraídos num primeiro momento por coisas que achamos impressionantes, visualmente falando.

Carpe NoctemOnde histórias criam vida. Descubra agora