Madrugada de 1982

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Noites sem fim me tragavam a lugares estranhos e sem forma. Sempre que acordava desses sonhos estava exaurido sem ao menos conseguir ânimo para sair da cama. Foi um período delicado da minha vida social, pois meus pais me consideravam um vagabundo e meus poucos amigos insistiam que eu sofria de depressão, mesmo com os mais íntimos não conseguia falar sobre tais sonhos abertamente.

Tudo que vou relatar teve início na primeira madrugada de outubro de 1982.

Chovia agressivamente mas o telhado de grossa palha aguentava firme como uma fortaleza.

Antônia dormia a sono solto após uma intensa transa com seu marido Francisco, com direito a profundos orgasmos e despejos brutos de coito no fundo de seu útero. Seus corpos suados e as vestes ao chão eram uma mostra do forte amor que florescia e cultivavam um pelo outro. Mas naquela noite Francisco estava com dificuldades para aquietar no sono.

As gotas, cada uma que batia contra a casa, soavam como balas de uma guerra que nunca participou. Isto o assusta.

Uma voz em sua cabeça consumia seu sono e só encontrava paz quando Antônia estava acordada.

"Quando a hora chegar, você estará pronto?"

Essa frase batia todas as noites ao ponto da exaustão na mente de Francisco mas estranhamente havia o milagre que no raiar do dia o marido de Antônia sentia-se como um cavalo de guerra.

Com o trabalho na olaria e o dia que seguia puxado, logo a saudade crescia e Francisco voltava para a humilde casa com muita fome.

Não pense que não havia fartura por parte de sua esposa. Antônia desejava Francisco com cada gota de seu ser. Quando seus olhos se encontravam a porta, o branco dos dentes e o largo sorriso eram convite para seus corações e a junção de seus corpos que não tardavam a se encaixar e umedecer a carne de ambos deixando no silêncio os gemidos estridentes e furiosos que se perdiam em meio a chuva lá fora.

- Antônia?

- Oi...

O beijo estalado dos lábios de seu homem em sua testa fizeram Antônia se aninhar no peito de Francisco e cair em seu sono tranquila.

Como aquele homem amou aquela mulher!

A vida, o mundo lá fora era devastador mas a simples menção do nome de um para o outro era o suficiente para sumir a palavra "impossível" de suas bocas.

Testemunhei cada passo de Francisco desde que abriu seus olhos e viu o rosto de sua mãe até o dado momento. A única coisa que tinha que fazer era observa-lo atentamente.

Acho que é um detalhe importante contar como se conheceram e de onde vieram.

O Emissário da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora