No dia seguinte, Nina ainda não havia sequer saído do quarto. Eu já havia terminado o livro e esperei que ela saísse para tentar falar sobre a leitura.
Tori e Cody chegaram sorridentes e barulhentos pela sala enquanto eu trocava mensagens com Natalie sobre a sua festa de aniversário em fevereiro.
Deixei o celular de lado no sofá e me levantei para receber os dois recém-casados apaixonados.
Havia passado a manhã inteira assistindo TV e conversando com Natalie, que não gostava da literatura estadunidense, então não acreditei que fosse querer discutir F. Scott Fitzgerald. Eu, ainda que fosse o capitão do time de futebol na escola, tendo um relacionamento piegas com uma líder de torcida — o que contrariava totalmente a aversão às referências norte-americanas que Natalie tinha —, não era tão amigável assim. Eu tinha Chris e Natalie, mas por mais que eu falasse com todas as pessoas da escola, não tinha amizade de verdade com nenhuma delas. Talvez porque eu me recusasse a seguir o roteiro de garoto popular do filme, humilhando pessoas sem motivo e sendo intocável. Acabei me sentindo sozinho por muito tempo, por terem duas ideias de mim: a de um garoto popular e inalcançável e a de um cara careta que se recusava a ser um babaca. Ficava em um limbo eterno entre nenhum dos lados me conhecendo de verdade e eu emergindo à dificuldade em me aproximar dos outros. Não era tão diferente de Nina quanto parecia.— Olá, querido! — A voz imponente de Tori saudou alegremente.
A mulher baixa largou as malas e correu até mim com os braços abertos para me envolver em um abraço caloroso de saudades depois de três dias de distância. Eu havia pensado que a lua de mel fosse durar mais tempo, mas eles tinham tanto trabalho a fazer sempre, que não me surpreendeu o fato de ficarem apenas três dias em Paris. Eu não iria para França na minha lua de mel, todavia, eu sei que Cody sempre gostou dos ares de Paris, tanto que morou lá por muitos anos e não ía desde de pouco antes da morte da irmã, sendo assim, Tori fez questão de levá-lo como surpresa.
— Minha menina está em casa? — Tori questionou ao se sentar ao meu lado no sofá e esfregar ambas as mãos no joelho coberto pelo jeans escuro.
— Pressuponho que sim. Ela não disse nada ou saiu do quarto desde que acordei.
— Ah, sim. Isso é comum. Ela falou com você ontem?
— Ela me ajudou a encontrar meu quarto e me emprestou um livro, mas a única palavra que disse foi "desculpa", porque ela estava dançando no corredor, nos esbarramos e caímos.
— Nina dançando e caindo pela casa também é comum. — Tori riu. — Mas enfim, eu temia pela conversa que teremos agora e acabei por deixar para a última hora.
Eu também estava nervoso. Não sabia bem o que esperar. Eu sabia pouco sobre a ansiedade de Nina e certamente não o suficiente para compreender.
— Nina tem um tipo de transtorno de ansiedade: fobia social.
— Foi diagnosticada com depressão aos treze anos, logo depois da morte do pai. — Meu tio completou. Pensei se ele havia pesquisado sobre.
— Fobia social é tipo medo das pessoas? — Franzi o cenho. — E sem querer ser indelicado, por que ela sofre de depressão?
Eu não sabia como funcionava uma fobia social, mas sabia sobre a depressão.
Meu tio se acomodou na poltrona perto do sofá e esfregou o rosto com as mãos. Tori encarou o chão como se estivesse se afundando em memórias desagradáveis. Toquei em seu ombro e ela voltou à realidade.— A fobia social, segundo a psicologia, é uma doença crônica caracterizada por um medo de interação irracional que causa ansiedade. Não a ansiedade normal que nós sentimos, como um sentimento, mas uma doença. Em cada pessoa, é um pouco diferente. No caso da Nina, ela perde a fala. Ela tem isso desde que se entende por gente, mas piorou depois da morte do meu ex-marido, Mark, no acidente. Antes não era tão prejudicial, porque era mais uma timidez comum que um pavor de falar com as pessoas, porém agora se pode contar nas mãos a quantidade de pessoas com a qual ela fala sem correr risco de ter uma crise. Eu, Margot, Abby, Anna, sua melhor amiga, e a Dra. James, psicóloga da Nina e mãe da Anna. — Tori explicou.
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O Silêncio Entre Nós
عاطفيةHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...