Seus olhos eram tão belos quanto o arco-íris produzido pela luz refratada em um diamante. Esses tão belos olhos negros e amendoados, apenas fitavam um único alguém. Esse tal alguém era um ano mais velho e passava por ela todos os dias no corredor da escola.
Ela era do segundo ano. Ele era do terceiro. Ela tinha descendência indiana. Ele era descendente de italianos. A pele dela era morena e suave. A pele dele era branca e delicada. O nome dela era Eliza. O nome dele...acho que isso não importa.
Eliza é uma menina solitária e desastrada. Toda vez que passava perto de algum móvel, o corpo dela era magicamente atraído até ele. Ela atravessava os corredores sempre sozinha. Entretanto, ele estava, na maioria das vezes,rodeado pelas pessoas da turma dele. Nos raríssimos momentos que Eliza o encontrava sozinho, ela sentia um impulso de cumprimentá-lo. A mente dela ensaiava diversas situações e desculpas para conversar com ele. Mas esse garoto estava sempre escutando musica no smartphone dele quando estava só. Mesmo de longe, ela sempre o observava e desejava conhecer o que ele escutava.
Certo da, ela saía do banheiro, com ninguém ao seu lado. Caminhou alguns metros e passou pelo bebedouro, onde pôde ver a própria imagem refletida: usava uma blusa de lã que era larga e cor-de-rosa, calças jeans azul, tênis pretos e o cabelo amarrado em um coque bagunçado e mal feito. A garota pensava nos sonetos de Vinícius, que falavam do amor e da fidelidade. Ela adorava poesias, sobretudo as que falam de amor. Era admiradora da linguagem poética. Ela andava na lua, seus pés mal tocavam o chão. Era como se o mundo se tornasse mais leve e mais fácil de ser suportado quando ela lia um livro, escutava alguma música ou lia alguma de suas poesias favoritas.
Eliza dobrou o corredor, esbarrou em algo, acordou do transe e se deu conta de quem ele estava à frente dela. Ela corou. Quando o garoto a encarou e mostrou um sorriso brilhante - não apenas pela brancura dos dentes dele, mas também, por ver quem estava ali. O mais alto que pôde, a menina tão tímida, sussurrou um "Me desculpe!". Ainda sorrindo, ele respondeu com um "Está tudo bem, Liz!".
Ela e ele eram amigos de infância, mas o tempo passou e eles se afastaram , entretanto não havia como se esquecerem.
A garota sorriu um sorriso tímido e se afastou. Andou um pouco e entrelaçou as mãos como se segurasse as mãos dele. Levou-as ao rosto, fechou os olhos, e delicadamente selou-as com um beijo cálido - como quem reza uma prece, pedindo pelo amor daquele que adora. Tornou a abrir os olhos e olhou para trás. Ele ainda estava lá. Ele ainda olhava pra ela. Ele ainda sorria.
Este foi apenas mais um dia na vida de Eliza.