Capítulo 01

99 13 11
                                    

  1950

E lá, naquele balanço de madeira debaixo da árvore, que ela via a sua vida passar.  O vento batia no seu cabelo preto trançado com uma fita azul, e sua bota preta suja de lama , ela sabia que as tias do orfanato não iam gostar nada disso, talvez seria hoje que ela iria ter sua mão machucada por causa da batida da régua que dariam em sua mão . Acho que hoje terei que dormir no porão de novo. Pensava ela . Ela via as outras crianças brincando no parque que ficava longe do local que ela estava . Elas riam,corriam e choravam quando caia dos brinquedos. Crianças bestas! Essa diversão logo acabaram quando crescerem , e vão sentir falta desse tempo . É por isso que prefiro viver desse jeito , sem felicidade nenhuma , pois quando eu crescer não sentirei falta nenhuma dessa minha época de agora, então não vou falar para mim mesma : Que saudades daquela época . Pensava Júlie .Mas por um lado ela ficava triste , será que ela tinha razão mesmo do que ela falava ? A vida mesmo é uma tristeza ? Ou é por que ela não sabe viver ? Talvez se ela tivesse amigos, amigos para fazer ela feliz , amigos para brinca com ela, amigos... Não , nesse mundo não temos amigos . Pensava . Mas o único amigo dela era o vento forte que balançava seu balanço . Mas nos dias de sol , ele estaria lá ? Com certeza não, então ela ficaria sozinha , como sempre sozinha . Júlie percebeu que uma chuva forte se aproximava , não só ela como as tias do orfanato . Então por causa da chuva elas chamaram as crianças para entrarem já que era terrível quando aquela turma toda pegava um resfriado . Mas Júlie não , Júlie não queria entrar , ela queria ficar chuva . Ah , ela amava chuva . Ela ficava feliz na chuva . Não demonstrava nenhum sorriso , mas ficava . Então Júlie se levantou para ir se esconder , já que com certeza se vissem ela iriam leva-lá para dentro apulso e ela não iria conseguir ficar alguns segundos feliz . Mas ao se virar percebeu que alguém já estava ali pois já saberiam o que ela faria , já que não era a primeira vez que ela faria isso. Mas dessa vez não era umas das tias e sim o diretor do orfanato . Um velhote de capa cinza .

  - Aonde você pensa que vai, menina ? - Ele perguntou chegando mais perto dela e a segurando com força o seu braço .

  - Gostaria de ir para um lugar melhor que esse inferno . - respondeu a garota tentando tirar a mão do velho do braço dela .

  - Aqui não é o inferno . O inferno é você mesma . - foi ai que ela parou de se debater . Isso foi pesado para ela. Ela era apenas uma criança para ouvir isso . - Anda menina, vamos temos que ir . Antes que comece a chover .- Ela levantou sua cabeça e olhou nos olhos do velho e disse:

  - Cale a boca. - Puxou seu braço das mãos deles e deu um chute em sua canela . Ela saiu correndo , não conseguiu ver o que aconteceu com ele . Será que ele se machucou ? Pois se isso aconteceu foi bom . Pensava ela . Para onde ela iria ? Ela não sabia, então ela correu para uma floresta que tinha ali perto . Floresta não era um lugar perigoso ? Mas era de perigo que essa garota gostava . Depois de correr por um tempo ela parou ao lado de um árvore para descansar.Quando ela conseguiu recuperar seu folego a primeira coisa que ela fez foi gritar . Ela gritou tão alto que alguns pássaros que estavam nas árvores saíram voando . Ela se sentou no chão e ficou ali olhando para o chão esperando a chuva chegar . Ela começou a sentir alguns pingos em sua perna , a chuva tinha chegado. Na chuva , ela tirou o laço azul que ficava em seu cabelo , fazendo desmanchar as tranças . Ela segurou a fita em suas mãos e ficou olhando para ela  lembrando de quando sua mãe tinha dado para ela . Ela fechou os olhos e quando abriu saiu algumas lagrimas . A chuva já tinha passado , era hora dela voltar para o orfanato . Ela se levantou e olhou para o vestido . Oh droga, as tias iam brigar comigo . Falava ela . Seu vestido estava sujo de lama . Mais um motivo para levar uma bronca. Não só dela como a do diretor do orfanato , o José . Hoje não é meu dia de sorte . Pensava. Então ela foi andando até o orfanato e quando chegou no portão da porta ela viu o diretor sentado em sua cadeira de balanço , ele a encarava mesmo de longe . Uma das faxineiras a viu e correu atrás dela .

  - Meu Deus Júlie! Você está horrível . O que aconteceu com você menina ? - ela falava olhando o estado da menina . Ela puxou a menina pelos braços e a foi levando para direção da casa . Quando ela chegou do lado do José ela abaixou a cabeça mas não olhou na sua cara . 

  Depois ela tomou um banho e levou três tapa em sua mão . Tão forte que chegou a sangrar . Ela preferiu ir dormir para esquecer da dor . Mas essa dor não era tão forte quanto ela saber que ela iria viver ainda por muitos anos nesse lugar e desse jeito . Então depois de ficar um grande tempo pensando ela conseguiu dormir.

A Pequena EstranhaOnde histórias criam vida. Descubra agora