Capítulo 19 - A Lei do Acúmulo

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Sentou em um banco da escola e começou a ler. Não notou quando alguém se aproximou e pôs-se a observá-lo.

Ela havia chegado há pouco, sentou-se à frente dele e como se esperasse alguém, ficou ali.

Humberto começou a virar as páginas de seu livro, quando de repente ouviu:

— Você esqueceu algo?

Foi a primeira vez que a viu. Não entendeu qual foi a pergunta, então disse:

— Quê?

— Você voltou as páginas do livro, esqueceu alguma passagem?

Ele ficou um pouco sem jeito, deu um sorriso meio bobo e respondeu:

— Ah! Não! É que estou lendo o livro ao contrário. Primeiro o último capítulo, em seguida o penúltimo e assim por diante — Humberto perguntou-se, se a garota poderia entender o porquê.

— Por quê? — ela perguntou com um sorriso de quem havia achado estranha aquela ideia.

Ele admirou a naturalidade com que ela acabara de lhe questionar. Começou a identificar que era uma mulher atraente. Pensou um pouco e encontrou a resposta.

— A ideia surgiu numa louca conversa com uma querida amiga. Eu me identifiquei com o desa-fio.

Ela não disse nada, parecia esperar que ele continuasse a explicação. Após uma breve pausa, ele continuou:

— Certa vez ouvi uma pequena estória, mais ou menos assim:

"Um homem precisava atravessar diariamente uma floresta, por uma trilha. Em um determinado trecho havia uma bifurcação. Sempre escolheu o caminho que haviam lhe ensinado quando criança. Um dia resolveu continuar pelo lado desconhecido da trilha. Então, percebeu que começou a viver."

Os olhos dela abriram um pouco mais.

— Que livro está lendo? — ela perguntou, mostrando interesse.

Humberto sentiu o coração acelerar. Ela manteve o olhar fixo aos olhos dele.

— O Conde de Monte Cristo! — respondeu, mantendo com prazer, o olhar junto aos olhos dela.

— Ah, eu já li esse livro!

— Não me conte o começo! — exclamou Humberto, rápido e em tom de brincadeira.

Riram.

— Diga-me em que parte está?

— O Conde está engenhosamente vingando-se de antigos inimigos. Eu não sei o que foi que eles lhe fizeram.

— O que quer que tenha acontecido, pensa que ele deveria se vingar? — ela perguntou como se já soubesse a resposta que queria ouvir.

— A justiça é um assunto delicado, além disso... "A vingança mata a alma e envenena o espírito" — disse com um meio sorriso, como fosse uma verdade dita de forma boba e pouco engraçada. — Eu não acho que ele deveria se vingar — acrescentou!

Ela assentiu dizendo:

— Envenenar o espírito não deve ser nada bom, muito menos matar a alma.

Olharam-se um pouco mais. Um breve sorriso surgiu no rosto de ambos. Houve um momento de silêncio, eles pareciam estar gostando do que acontecia.

— Então está lendo o livro de trás para frente!? Que está achando? — foi como ela rompeu o silêncio.

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