[06] Aula.

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— Sr. Collins, —A irritantemente aguda e rigorosa voz do professor de matemática comenta com ironia quando bato à porta.

Felizmente consegui desviar do inspetor caçando os atrasados, mas ainda tenho que lidar com o professor mais hostil da escola.

— Esse sou eu. — Reviro os olhos discretamente.

— As aulas mal retornam e o senhor já se insiste por chegar atrasado? — Ele arqueia as sobrancelhas.

Sr. Finn Hanks é magro demais, alto demais, velho demais, arrogante demais. Seu cabelo curto está branco pela idade de não menos de cinquenta anos. Os óculos pequenos disfarçam as rugas aparentes nos cantos do olhos pequenos. Ele está sempre de roupa formal para dar aulas à uma turma de ensino médio que pouco se importa com qualquer maldita fórmula que nunca iremos usar para nada na nossa vida. Eu preferia ter conseguido ficar na turma da srta. Morgan, mas estou preso com Hanks, que tem uma implicância seletiva comigo.

— Sim, sr. Hanks —Suspiro. — Eu posso assistir a aula ou não? — Arqueio as sobrancelhas.

— Desta vez, deixarei passar. — Ele semicerra os estranhos olhos de peixe. — Da próxima vez que chegar atrasado, o entregarei ao inspetor. Seu tio não gostará de saber disso. —Hanks conclui.

— Pode deixar. — Balanço a cabeça e mando um olhar para Natalie que solta uma risada inaudível.

O professor prossegue com a sua aula enquanto caminho para a cadeira no fim da sala, perto de Max, o cara mais inteligente. Ele não fala muito e é bem na dele, mas sempre o vejo assistindo aos jogos de futebol e, é claro, encarando Anna James com uma paixão indubitável. Nunca troquei uma palavra com ele, mas quando percebo que esqueci meu estojo, vejo que é a hora.

— Max, você tem um lápis pra me emprestar?

— Sim, claro. —Ele balança a cabeça, olhando para algo na frente.

-— Tudo bem? -— Franzo o cenho.

Ele me entrega o lápis, ainda olhando para frente, mas não para sr. Hanks como se prestasse atenção na aula.
Seus olhos está parados na garota magra sentada na primeira fileira, a supracitada Anna James. Ela está de cabeça baixa e seus cabelos longos e negros caem sobre os ombros cobertos por um casaco preto. Suas unhas tamboliram continuamente contra a mesa enquanto ela olha para o chão, em seus devaneios. Não posso ver seu rosto, mas tenho quase certeza de que é Anna. Ela é a garota mais nova do nosso ano, com quatorze anos. É inteligente, e mesmo sendo muito bonita, as pessoas não gostam dela pela parte da inteligência exacerbada. Tori tem razão em ficar com medo da filha aqui. Essa escola é um matadouro, onde, por exemplo, as pessoas te tratam mal por ser inteligente demais.

-— Gosta dela.

Percebo que disse em voz alta, mas já é tarde demais. O olhar curioso de Max sobre Anna reforça a ideia de que está tão apaixonado, que mal é capaz de desviar sua atenção dela.

—- O quê? -— Ele arregala os olhos, finalmente olhando para mim.

-— Você gosta dela. -— Murmuro com um sorriso, mesmo sabendo que não é da minha conta.

-— O quê? Não. -— Ele estremece, desviando seu olhar de Anna mais uma vez.

— Tudo bem. — Assinto. — Valeu pelo lápis.

Não absorvo aquilo. Ele gosta dela e ela não o conhece. Quando conheci Natalie, eu também estava apavorado demais para ser capaz de falar com ela, o que me faz não julgar Max e a sua escolha de manter sua paixão platônica.

Encaro meu celular por debaixo da mesa para verificar a hora. Acabo entrando nas mensagens para ver e perdendo a noção de que a aula continua. Até que minha atenção seja recobrada.

O Silêncio Entre Nós Onde histórias criam vida. Descubra agora