Diário de Gravuras

A misteriosa fera dócil

Ao cair da alvorada, em meio a transição do inverno branco com o outono quente, resquícios de neve teimavam entre árvores no solo. Estava andando pelos corredores de coníferas gigantescas escutando o som do estalar de galhos secos e a relva sob meus pés.
Uma brisa gélida passeava dançando por entre os grossos troncos tomando meu cachecol como parceiro na dança. Estava um tanto frio naquele momento e o sol estava a sumir mais e mais até que apenas restasse um céu levemente alaranjado com poucas nuvens de algodão flutuando.
Agora jazia ao celeste acima apenas a dama lua, cuja prateada rutilancia reprudescia emanando por entre as árvores demonstrando os reflexos de pequenas gotas de água pura que caiam deslizando pelas folhas.
Estava caminhando lentamento, perdido ali avoado por um tão difícil momento. Adentrava cada vez mais sendo agraciado pelos leves ruídos do balcedo.
Ao longe uma grande criatura nadava pelo ar com leveza de uma folha, eu ainda não podia vê-la, porém sabia que ela existia.
Tomando um pequeno impulso avancei correndo em direção do som, no entanto quando lá cheguei, nada havia. Abaixo o rosto, lagrimas estavam escorrendo, pequenas lembranças ladrilhavam em minha mente naquele momento. Sentindo a solidão, estava tentando fugir dela ao final e tudo.
Caindo de joelhos ao chão com as mãos no rosto, não percebo que uma enorme criatura branca serpenteava pelo ar passando entre as árvores em total silêncio aproximando-se de mim.
Pude sentir uma brisa com aroma de folhas de eucalipto atingir-me com força, ergo o rosto e admiro o gentil rosto daquele belo titã. Estava se aproximando timidamente, seus olhos verdes como o musgo que cobria as árvores se mostravam complacentes e gentis. Apesar de relutante ergui o braço o esticando até que então eu pudesse tocar naquele ser.
Um modesto e exuberante ser que se aproximava como uma criança. Inocente e inofensivo.