Sempre desconfie de uma Lagosta de Fukushima

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Bom, não tem um meio muito formal de começar essa história, portanto vou falar brevemente de mim antes de tudo. Sou carioca, nascido em São Cristóvão, descendente de italiano (considerem o nariz meio grego), vascaíno de coração e assim como muitos garotos brasileiros um jovem que sonha em fazer do futebol seu ganha pão. Pois bem, entrei num time, fui subindo até que um ano atrás fui vendido para um time da terceira divisão da Inglaterra. Meu inglês é uma merda, merda suficiente para não passar fome, mas merda mais que suficiente para pensar que pretend significa pretender. Fui vendido à preço de banana, mas não me abalei, estava ganhando a vida na terra da Rainha em plenos 19 anos de idade – mas pode acreditar tem garoto que aos 14 pega os pano de bunda e vai pra Grécia ou Turquia tentar a sorte – eu não era pouca merda, era uma merda com classe.

A vida longe de tudo é difícil, eu mal entendia o que a mulher no aeroporto me disse ao chegar em Londres, podia jurar que ela estava pedindo para me revistar e quando levantei a camiseta para mostrar que não estava portando nenhuma arma ou objeto suspeito surgiram 2 brancos enormes, do tamanho de uma geladeira Brastemp, carecas e com olhar de um leão mirando a pobre gazela comendo inocentemente sua graminha pouco temperada na planície. Na hora que um desses neo-nazistas de olhos claros abriu o braço eu já tremi, cacete imagina só, um tapa de qualquer um deles eu virava strogonoff. Felizmente o sujeito abriu o braço só para indicar que a mulher queria meu passaporte e demais documentos, que ficaram visíveis no momento que levantei a camisa e estes encontravam-se quase caindo do bolso frontal do jeans escuro. Sabendo do meu nível impecável de inglês que serve muito mal para eu perguntar "Whats your name?" ou "Do you like football?" (e se errei em alguma dessas frases já sabemos o motivo) podemos prosseguir.

Então, arrumei minha vida aqui nesse ano que passei. Sou do time de base (vide juniores, vide um bando de moleques sendo treinados enquanto chupam o dedão e torcem pra virar profissional).No primeiro trimestre de minha estadia aqui conheci uma inglesa. Linda de morrer, fios ruivos lisos caindo feito a dança das pétalas de rosa no jardim de Vênus, pele branca alva, corpinho violão, tinha até uma gordurinha localizada, mas eu prefiro mulheres e não palitos. Obviamente não me imaginem sendo esmagado numa cama pela Vovó Zona! Foi amor à primeira vista, Mary ou Marilene como à chamo carinhosamente e aproveitando para fazer piadas relacionados à vinho, tainha e muito sexo (e antes que atirem a primeira pedra eu sei que a tradução literal para Mary seria Maria, mas eu chamo de Marilene sim, afinal é minha namorada).

Nos damos muito bem, mas após 6 meses de namoro eu fui convocado para o front de batalha, o momento em que se separam os garotos dos homens, sim, Marilene me convidou para um jantar em sua casa, onde grande parte de sua família estaria, onde eu me depararia com seu pai e prontamente pediria autorização ao Chefão para ter a honra e prazer de cortejar sua nobre princesa. Para falar numa linguagem mais clara e bem brasileira/carioca, eu tava fodido, simplesmente isso. Imaginem só, eu jogo bola num time de terceira divisão, sou brasileiro, moro numa casa com 5 garotos (1 angolano, 1 português e 3 ingleses) que assim como eu vieram tentar a sorte aqui. A família dela é bem tradicional, ela está no quinto período da faculdade de engenharia automotiva e estagia numa filial da Peugeot, o pai dela é militar condecorado com toda aquela coleção de medalhas que parecem tampinhas de garrafa com fitinha e a mãe dela é policial. Devo então relembrar à vocês, eu estou fudido.

Saí do treino físico no final da tarde, o cabelo ainda pingava um pouco do shampoo de abacate que usei muito bem, porque minhas mãos estavam tremendo ao imaginar que de um lado da mesa teria uma escopeta e do outro um revólver apontado para mim. Peguei minha melhor roupa, mas sem parecer um pinguim. Camisa social branca com um jeans claro e tênis brancos, nike só para dar uma ostentada, por cima da camisa um casaco de pano, meu casaco da sorte porque no dia em que fui fazer a prova final de matemática do último ano do ensino médio e estava empacado na última questão enxerguei o número 42 nele e havia esta opção na prova. Aquela questão me fez ficar com o 7 cravado na média e não repetir o último ano. Voltando ao que interessa. Subi na bicicleta e pedalei os quase 10 km até a casa dela. Na verdade, um apartamento muito bem localizado na área nobre da cidade, parecia que tiraram um prédio de Dubai só para variar um pouco e colocaram ali.

Isto certamente não é um conto de comédiaOnde histórias criam vida. Descubra agora