Prólogo

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Meu coração batia descompensadamente, o vento gélido me faziam encolher-me, circulei meu braço ao meu redor em busca de me proteger enquanto eu continuava andando. A cada passo eu me sentia mais próxima ao penhasco, o frio se intensificava, o medo dominava cada célula do meu corpo, mas por que eu não conseguia parar? Eu queria parar!

Eu não podia ver nada além de uma escuridão que tomava para si aquela floresta, a grama era de um verde vivo e bem aparado, como se cuidassem. Você já teve aquela sensação de que só é um telespectador da sua própria vida, que por mais que você saiba que aquilo não é normal e algo vai acontecer, você simplesmente não pode fazer nada. É assim que estou me sentindo quando chego a ponta do penhasco extremamente domado pela noite densa e negra. Então... eu simplesmente pulo.

Tenho um sobre salto e acabo deixando cair o balde pela metade de pipoca que estava em cima de mim sujando o tapete limpo que eu paguei uma nota, fiquei sentada no sofá e passei a mão pelos meus longos cabelos negros, o medo ainda estalado em mim. Era sempre assim desde que esses pesadelos começaram na adolescência, que para ser mais exata, aos meu treze anos. Minha mãe dizia que era normal, e estudos na Internet diziam que eram problemas que eu estava passando, mas toda noite ele se repetia, no início eu só me via pulando, o pavor ao acordar era o mesmo, depois eu já via a grama, e com os anos o sonho foi ganhando formas, uma floresta com árvores compridas e verdes assim como a grama bem aparada, eu nunca via nada além de árvores e escuridão.

Levanto a cabeça e olho o estrago que se estalou na sala do meu pequeno apartamento, suco de laranja caído sobre o tapete e agora pipoca por todo lado, vai dá um trabalho para tirar o suco do carpete branco e felpudo.

Me levanto a contragosto e começo a limpar a bagunça, minha cara deve está lastimável, mas se eu esperar mais um pouco serei obrigada a mandar o tapete para lavanderia, e cá entre nós, eu não tenho dinheiro para gastar agora. Bom... Não com lavagem de tapete.

Após tirar todo vestígio de que um dia existiu pipoca de micro-ondas, vou até a minúsculas cozinha que é dividida da sala por um balcão de mármore preto, pego um pano úmido com sabão e começo a tentar limpar, quem chegasse a uns trinta minutos atrás diria que Katrina passou por aqui.

De banho tomado volto a me jogar no meu confortável sofá em L azul escuro, como hoje é sábado e eu não trabalho e não quero ficar em casa vegetando, ligo para Lívia e marco de saímos para comermos alguma coisa e jogar a conversa em dia.

Lívia é a minha melhor amiga, na verdade estamos mais para irmãs, crescemos juntas na pequena cidade do Texas e quando passei na faculdade para estudar em nova Iorque, foi como enfim eu me libertasse daquele lugar, nunca me senti bem lá e Lívia fez de tudo para vim junto. Quando o curso acabou continuamos morando aqui, eu consegui um bom emprego e ela se tornou fotógrafa.

- Você não acha que esse sonho seja um aviso ou algo assim? - Lívia toma mais um gole do seu refrigerante e joga mais batata na boca.

- Aviso? - Ergo minha sobrancelha. - Não, acho que seja nada demais, mas eles me intrigam e dão medo, é uma sensação de morte.

Estamos na praça de alimentação se enchendo de batata frita e refrigerantes, Lívia é o tipo de pessoa que sempre ver significado mais profundo nas coisas, para ela nada acontece sem uma causa do destino, acho meio estúpido, aos 22 anos nada nunca fez sentido em relação aos sonhos e não é agora que vai começar a fazer.

- Vamos falar de assuntos mais felizes.  - Se animou Lívia, jogando seus cabelos loiros para trás.  - O André me convidou para sair.

- E você como não é boba nem nada, aceitou né?! - Digamos que Lívia seja completamente apaixonada por André, um advogado, ele é gentil e bastante educado. Eles se conheceram por um acaso quando a Livi queria processar um ex cliente que tentou agarra-la e acabou levando um belo chute. O cara ainda tentou se fazer de coitado, mas as câmeras provaram a verdade.  Desde então minha amiga ficou em uma missão quase impossível de fazer o André nota-la.

- Foram quatro meses de provocação e muita dança de cintura para fazer aquele gato cair na minha rede, Megan. - Sorrir maliciosa como se estivesse lembrado de algo. - Ele é muito correto e tem cara de que nunca fez nada de errado na vida, mas tenho planos pra isso também. - Ela joga a última batata na boca e acabo gargalhando, Deus! Livi não toma jeito, mal sabe onde o André foi se meter.

-  Você é uma libertina! - Livi gargalha atraindo olhares.

- Você fala como se eu fosse corromper um anjo. - Volta a sorrir só que agora mais contida.

Quando a tarde chegou e com ele a volta para casa, Livi tinha que estudar para uma prova de um curso que ela estava fazendo e por isso não foi dormir em casa, cheguei no meu apartamento com uma sensação boa, sempre que saímos juntas e conversamos  sobre tudo com direito a alta gargalhadas, eu tirava um peso das minhas costas.

Assim que chego a sala sinto um frio forte vindo da janela aberta, que para mim estava fechada quando saí. Vou até a mesma e a fecho, sinto um calafrio percorrer minha espinha e olho para trás como se alguém estivesse me observado, mas não há ninguém, apenas uma sala, cozinha e um corredor vazio. Então porque não me sinto a vontade na minha própria casa? Caminhando apressada pego bastão de beisebol que fica pendurado ao lado da porta de entrada, me sinto ridícula por estar segurando um taco de beisebol só porque tive uma sensação ruim, principalmente depois que vasculhei a casa e vi que não tinha ninguém e nada tinha sumido, provavelmente eu deveria ter deixado aberto a janela e nem tinha reparado, uma sorte que nem um ladrão entrou pela escada de emergência.

Tomei um banho e comi uma lasanha congelada e fui dormir, por incrível que pareça eu não tive o mesmo sonho. Ele é assim, vem e vai, mas nunca é definido, ele sempre está ali.

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⏰ Última atualização: Oct 22, 2019 ⏰

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Megan - RenascidaOnde histórias criam vida. Descubra agora