IV

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Acordei cedinho, antes das sete e resolvi espairecer, precisava pensar, tinha que encarar o Rafael e correr me ajudaria nisso. Tomei banho, calcei meu tênis, vesti um short de malha e uma camisa de algodão com um top por baixo, coloquei meus óculos escuros e preparei para sair. A Bia parecia que tinha acabado de dormi, pois o notebook estava ligado, embaixo do seu corpo, retirei e saí.

Desci de escadas para evitar que o acaso agisse e quando cheguei do lado de fora do hotel o calçadão da orla já estava movimentada, com pessoas praticando atividades físicas, me juntei a eles enquanto colocava um som para curtir a caminhada. Comecei caminhando, eu era mais uma, no meio daquelas pessoas, ninguém me conhecia, não sabia quem eu era, e isso me reconfortava.

A trilha sonora da minha caminhada só podia ser ironia do destino, alternava entre “Uh, eu quero, você como eu quero”, “Se joga, se joga no meu colo amor...” e “Vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir...”  Decidi correr, corri por uns 20 minutos, quando parei já estava distante do hotel para tomar uma água de coco.

Enquanto bebia minha água de coco, meu celular começou a vibrar, deveria ser o Rafa me mandando mensagens, decidi ignorar e olhei para o mar, estava convidativo, paguei a água de coco e desci em direção a areia, comecei a caminhar em direção ao mar, e decidi me jogar, pouco importava que minha roupa não era apropriada, descalcei meus pés, colocando o celular dentro do sapato, joguei os óculos junto a camisa e corri de top para o mar. A água estava geladérrima, e serviu para me acordar de vez. Voltei já tremendo de frio e me deitei sobre a areia, não dava para fugir para sempre, eu precisava falar com o Rafa. Peguei o celular e tinha 6 mensagens, 2 dele e 1 do Daniel.

Daniel (06:42) Bom dia, que tal almoçarmos hoje? Estarei na Bienal por volta das 10.
Beijos

Namogato (03:20) Acordada? Pelo visto não... Estarei de folga amanhã, quer dizer hoje rsrsrs, quando acordar me diz um oi.

Namogato (06:18) Amor fala comigo, eu nunca te acusei de nada. Sei que esse é o seu jeito, só observo a namorada dos meus amigos, elas gostam de sair com eles, e não preferem viajar com a amiga e deixar seu namorado só. Será que estamos seguindo na mesma direção, quero casar, ter filhos, quero chegar em casa e ter tranquilidade... Se ponha no meu lugar... liga pra mim...

Eu (07:42) Bom dia.   —  enviei.

Namogato (07:43) Tava dormindo?

Eu (07:43) Não... estava correndo...

Namogato (07:43) Humm... não vai me dizer nada sobre o que aconteceu?

Eu (07:43) O que quer que eu diga?

Namogato (07:44) A verdade...

Eu (07:44) Que verdade Rafael? Que estamos caminhando na mesma direção, só que em lados opostos? Porque assim que eu me sinto quando você coloca a situação como se eu fosse a vilã... poxa.

Namogato (07:45) Eu nunca te acusei dessa forma. Apenas observo que somos diferentes dos outros relacionamentos, casais.

Eu (07:45) Eu não sei como são os outros relacionamentos... você é meu primeiro namorado. E acho nosso relacionamento normal. Aliás, anormal é uma namorada que vive em função do namorado, isso sim.

Namogato (07:46) Mas, poderia se esforçar para ser diferente. Veja o exemplo de ontem, no mínimo sinal que eu disse tchau você foi se divertir! Fico me perguntando se quando casar vai ser assim também? Vai sair enquanto eu trabalho, viajar, ou levar a amiga nas nossas viagens juntos.

Eu (07:47) Qual a sua visão de casamento? Um casal que vive um em função do outro? Eu já te disse que essa não sou eu, eu sempre fui assim! Você me sufoca com essas cobranças, dá um desconto, eu sou jovem quero viver.  — escrevia freneticamente, já com lágrimas nos olhos.

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