Antes | parte 2.

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Nunca fui muito fã de cigarros, mas imaginei que naquela situação em que me encontrava, em frente aos burburinhos de gente aglomeradas em bares à espera de um táxi, ter um pequeno cigarro entre meus dedos seria quase icônico. Como em um filme dos anos 40; onde eu seria a vítima que fora traída e agora estava sozinha senão o cigarro, pois o destino era terrivelmente sádico.

Teria sido o certo a se fazer fugindo daquele jeito? Ou eu teria apenas provado o quanto Gustavo ainda me abalava? Céus, eu havia feito exatamente isso. Praguejei. Imagina só o tamanho do ego daquele homem depois do meu pequeno show. Eu deveria voltar apenas para provar que, por mais que sua presença causasse uma euforia indesejável em mim, ele era uma página virada, preferencialmente destruída, da minha agenda de afazeres. E quando estava prestes a me virar para voltar, eis que o encontro vindo em minha direção.

Seus ombros se mexiam lentamente com sua respiração calma quando Gustavo parou diante de mim e notei que a gola da camisa que ele usava por baixo de sua jaqueta estava dobrada para dentro. Segurei no último instante o impulso de arrumar. Eu estava louca?

- Você não precisava ter fugido. Esse alguém deveria ter sido eu.

Fitei-o por alguns segundos antes de responder, até porque não esperava que ele fosse vir atrás de mim. Pensei que, ironicamente, aquela era a primeira vez que isso acontecia. Segurei um segundo impulso, mas dessa vez era para não rir.

Seus olhos castanhos brilhavam por conta da intensa luz que vinha dos nossos arredores e sua típica barba por fazer se encontrava lá, quase como da mesma maneira que estava quando eu o vi pela última vez. Estávamos no meio da calçada de uma das ruas paulistanas mais movimentadas de sexta à noite, mas nada disso parecia importar. Gustavo causava um efeito tão forte em mim que me surpreendi quando o senti tomando conta de mim novamente, eu já não estava mais acostumada com a intensidade que estar perto dele me proporcionava.

- Você não deveria ter vindo. Quantas Íris você conhece em São Paulo que tem uma melhor amiga chamada Karen?

Gustavo riu e eu apenas quis fechar os olhos para não ter que ver seus lábios se movimentando tão perto de mim. Era difícil não me encantar pelo seu sorriso de moleque; era o mesmo desde quando tínhamos 15 anos. E fora por aquele mesmo que a pequena e ingênua adolescente Íris havia se apaixonado. Era avassalador pensar que todo o sentimento que lutei para destruir poderia voltar tão facilmente. Avassalador de uma maneira negativa.

- Tenho que admitir que imaginei que seria ótimo te ver de novo.

Ótimo? Quem ele pensava que era?

- Gustavo, eu acho que ficou muito claro da última vez que não daria certo.

Eu estava sendo megera, mas estava apenas falando a verdade. É claro que ele sabia, era imperdoável ele não saber. Eu havia deixado realmente muito claro. Gustavo me afastava de mim mesma, e não podia deixar isso acontecer de novo. E ele sabia disso e aceitou a minha ida.

Mas o que o trazia de volta? Seria saudade? Não posso falar que os cinco anos juntos eram fáceis de esquecer. Até porque eu estou me sentindo incomodada o suficiente com sua presença para ter certeza de que era muito mais difícil do que o imaginado.

Suspirei e dei um passo para trás, colocando entre nós uma distância saudável.

- Você pode voltar para lá, eu estou indo embora – avisei.

Agora Eu Quero IrOnde histórias criam vida. Descubra agora