‘A Vingança na Sorveteria’
Conto número 2 – Lucas
Vanessa Nilo
Lucas estava em sua sala em sua pequena empresa de corretoria de imóveis quando Rachel – seu nome era Raquel, mas preferia o outro – entrou na sala e disse:
– Senhor, tem um homem lá fora... – fez uma pausa.
– Mande um dos estagiários falar com ele. – respondeu o homem mal olhando-a.
– Mas senhor, ele quer vê-lo.
– Então mande ele vir, que merda! – irritou-se. Em geral era um homem polido, esquecera seu antigo gênio rude há muito, mas estava latente sob sua pele aquele Luck de quinze anos.
A secretária Rachel fez cara ressentida e preparou-se para sair. Lucas assoviou e ela tornou a virar-se.
– Não fique resignada, fofa, mais tarde verei você e irei reaver meu vocabulário. – mandou um beijo sensual pelo ar para ela que saiu muito mais satisfeita.
Lucas tinha esposa e três filhas, mas era um homem moderno. Trabalhava o dia todo de segunda à sábado, entediava-se em casa. Nada mais justo, segundo seu pensamento, do que passar algumas horas naquele motel da rodovia que seguia para a cidade seguinte com sua secretária carente.
A cidade que morava era formidável, estava em pleno crescimento industrial. Novas oportunidades. Indústrias atraíam moradores. Moradores precisam de casas. E era isto que Lucas fornecia. A sua casa ficava em um bairro de alta classe mais ou menos no centro da cidade. O trio de princesas, as suas menininhas, era composto por Lúcia, Claudia e Miriam. Sendo Lucy a mais jovem e mais inquieta das três. O pai prometera levá-la à feira do centro no domingo próximo e pretendia seriamente cumprir a promessa. Pena que os fatos que seguiram àquela semana tivessem impossibilitado que Lucas cumprisse-a.
O homem seguiu Rachel até a porta da sala de Lucas. A mulher parecia desconfortável enquanto indicava um assento de frente à mesa do chefe para o homem desconhecido que sentou-se soberbamente; o sobretudo, à francesa, caía até seus pés calçados em um estranho par de mocassins caqui. Os cabelos eram cachos castanhos que desciam até seus ombros e importunavam-lhe a visão, a franja era bem cuidada mas irritante. O bigode, milimetricamente aparado, o cavanhaque negro como asfalto.
Lucas estendeu a mão para seu provável cliente. O homem levantou os olhos, límpidos e ferozes, como os de um cavalo.
– Sou Lucas. – apresentou-se informalmente.
O homem sorriu e disse:
– Vand.
– Nome muito incomum! – admirou-se francamente o outro. A resposta foi um sorriso despido de emoções decifráveis. Sua voz tão grossa e gutural também surpreendeu-o, já que esperava um outro tom de voz, algo mais fraco.
– Então, é novo na cidade e está em busca de uma casa para comprar? Alugar?
– Oh sim, para alugar. – respondeu.
Dez minutos se passaram e Lucas finalizou a conversa:
– Posso assegurar que é um ótimo investimento. Mas tenho que te perguntar se tem certeza que não quer ir visitar a casa antes de pagar adiantado. Não quero problemas posteriormente.
– Não terá problemas, eu asseguro. Só preciso me instalar rápido, se pudesse hoje mesmo iria para minha casa.
– Bem – disse Lucas – pode ir para lá, eu acho. Só tenho que confirmar se alguém pode ir limpar o quintal, lavar a casa e...