32. Amizade destruída

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Amigos verdadeiros
te esfaqueiam pela frente
— Bring Me The Horizon

***

O final de semana foi exaustivo. Minhas amigas, enquanto isso, foram ao cinema do pai de Nick sem nem me darem uma força nas matérias dessa semana. Aí me pergunto: será que a vitória na disputa entre as escolas me favoreceu? A popularidade veio como um soco certeiro, mas o que adiantava se ninguém de meu antigo grupo me valorizava?

Talvez eu seja egoísta. Querer toda a atenção do mundo nunca foi um dos meus fortes na escola antiga até Travis aparecer. Se bem que não quero mais saber de nada envolvendo aquele lugar, isso me machuca tanto pelas lembranças como pelas dúvidas da noite de vinte e cinco de julho.

Fiz duas xícaras de chá e as tomei como acompanhamento dos remédios. Minha mãe sempre tinha ideias para me fazer relaxar, no momento minha única opção para cair em sono profundo antes de chorar. Caramba, o que tinha acontecido comigo? Havia coisas boas, mas minha vida não é baseada em maravilhas. Quem disse que, para variar, eu não as perderia? Não que meus amigos estivessem distantes de mim. Não comigo é a palavra certa. Candace e Summer assumiram seus papéis, me chamavam para almoçar e me escolhiam de dupla antes que pudesse contestar. Acho que foi uma boa terem me excluído do programa hoje. Eu só teria estragado tudo.

— Chelsea?

— O que faz aqui, Thomas?

O loiro entra no meu quarto, pela expressão não estando nada feliz. Não o culpo, para ser franca, sou a que pensa demais no que podia ter feito e que depois se arrepende.

— Quero saber de você. Por que me parece tão diferente? Digo, sei lá, distante.

Eu diria que estava com medo. Medo, esse pavor tão grande que me consumia, borrando minha antiga ânsia pela fama escolar e que agora me tornava fraca. A tentativa de ser conhecida falhou quando todos os que eu amava se foram. Acima de tudo, o clima na cidade me amedrontava. Desde o comportamento dos estudantes até as mortes misteriosas seguidas umas das outras. Nada me parecia novo. Assustador, mas repetitivo, era surreal sentir mais uma vez o aroma daquele sangue inocente, presenciar crimes violentos e ter quase que um flashback das ocorrências que me levaram a um sanatório.

Aqui é realidade, no entanto. A coisa andando por aí tem a ver comigo, de alguma forma, senão eu não estaria próxima aos lugares dos crimes. Eu já tinha me tocado daquilo. Bastou a morte do diretor para entender, me dando como recompensa a visão da mulher de preto seguida da aparição na sala de aula. Só não sei onde me encaixo ou quem estaria por trás deste meu histórico.

— Sabe, eu notei que ambas não são tão ruins quanto pensei.

Ele não move um músculo.

— Bom, minha mãe nos deixou ir ao parque na próxima semana. Não sei se você ainda se lembra da minha promessa.

— Aquele perto do farol que só abre no recesso? Gostaria de ir sozinha. — Na expressão de meu irmão postiço, é nítida sua indignação por causa das líderes. — Por favor, sei que o rompimento de sua banda foi o maior erro da história musical, mas ninguém precisa ficar com o rabo entre as pernas por causa delas.

Comentar sobre o fracasso foi um erro. Fazia duas semanas desde o incidente, porém era um segredo quase total para os alunos. A sugestão de nossa amiga ruiva para terminarem de vez com os outros dois membros viciados da banda deixou Jackson tão irritado quanto um esfomeado.

Noto que os olhos âmbares dele brilham por um instante antes de saírem vorazes pela porta e a trancarem com raiva. Agora tenho a prova de que não importa como, sempre estrago minhas amizades.

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora