Capítulo 6

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Eu sabia que devia estar lá, sentado ao seu lado, confortando-a.

Não que fosse minha obrigação, afinal eu era apenas o novo amigo idiota de Katniss. Porém cada vez que ela erguia seus olhos, para dar atenção a sua irmã ou ao Gale, que chegaram minutos depois que eu mesmo assinei a internação de Jared Everdeen, eu podia notar que, mesmo que Katniss não tenha derramado nenhuma lágrima, algo em suas íris cinzentas denunciava que ela estava muito mal.

Eu estava a alguns metros dos três. Meus braços cruzados sobre o peito, sem ter o que realmente fazer com eles, amassando minha gravata que estava frouxa em meu pescoço, com o paletó cinza em minha mão esquerda, o corpo encostado na parede branca do corredor hospitalar, e os olhos atentos caso fosse preciso agir.

Jared havia sofrido um início de ataque cardíaco por falta dos remédios de hipertensão arterial que ele precisava tomar de manhã e à noite.

Desde que seu pai foi colocado em um dos quartos, devidamente medicado e sedado para acalmar seu coração, Katniss não havia dirigido a palavra a mim, e eu, sinceramente, não a culpava por isso.

Apesar de me considerar amigo dela, eu sabia que eu a via mais próxima de mim do que realmente éramos. Ela tinha seu jeito tímido e fechado, que impedia que ela se soltasse de verdade, e me permitisse entrar em sua vida. Eu estar presente em um desses momentos tão particulares, talvez tenha passado a ideia de que eu estava invadindo seu espaço, coisa que Katniss evitava que eu fizesse, sempre que eu perguntava algo sobre ela.

Porém, mesmo enxergando tudo dessa forma, eu não conseguia ir embora. Meu peito criava esperanças de que Katniss precisaria de mim em algum momento, e eu estaria ali pra ela, caso isso acontecesse.

- Talvez fosse bom você ir descansar, Peeta. - a voz de Madge me fez virar a cabeça para o outro lado para enxerga-la.

Ela também tinha os braços cruzados, e seus olhos azuis estavam emoldurados com um vermelho claro, denunciando que Madge havia chorado.

- Eu não... - soltei o ar devagar, descruzando os braços. - Eu não posso ir embora.

- Por quê? - questionou franzindo a testa.

- Porque se a Katniss precisar, eu vou estar aqui pra ela. - falei convicto, afrouxando mais a minha gravata.

Madge abriu um pequeno sorriso.

- Tio Jared está bem, Peeta. Foi só um susto. - ela respirou devagar, deixando seus braços caírem ao lado do corpo. - Mas acho legal você se disponibilizar dessa forma para alguém que conhece há pouco tempo.

Virei o rosto para olhar Katniss, que mantinha a cabeça encostada no ombro de Gale.

- Ela é diferente de tudo o que eu já vi. - confessei voltando a olhar Madge. - Algo em Katniss me faz querer cuidar dela.

- Katniss nunca quer ser cuidada, mas sempre quer cuidar dos outros. Com o tempo você vai perceber isso. - ela encostou ao meu lado na parede. - Ela é forte, mas ao mesmo tempo é frágil. Mostra um olhar de seriedade que te diz que está tudo bem, mas por dentro ela está em pedaços. - Madge escondeu as mãos nos bolsos da jaqueta que ela usava, e que eu sabia ser de Gale por vê-lo usando mais cedo. - O problema é que raramente conseguimos fazer alguma coisa por ela. Annie e Gale só descobrem certas coisas por saberem ler seu olhar e sua forma de agir. Mas quando eles não conseguem, nada a faz dizer. Katniss só conta tudo ao tio Jared.

- Ela age dessa forma com qualquer coisa? - perguntei.

- Não. Apenas com as coisas que a machucam de verdade. Katniss se tranca no mundo dela, e é difícil tira-la dele. - Madge suspirou. - Mas ela é uma ótima pessoa. Eu me encantei por sua simpatia desde que a conheci com dezoito anos, e tentava bancar o cúpido para mim e Gale, já que ele era uma negação pra falar comigo. - ela deu um pequeno sorriso. - Katniss é a irmã que eu não tive, e sinceramente espero conseguir algum dia ser aos olhos dela uma amiga que ela pode contar.

O Sol em meio à tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora