Páginas do Amor

V

Quando retornei ao hotel a Bia ainda dormia, e foi melhor, não queria ter que conversar. Não agora.

Fui direto ao banheiro e me joguei sobre o jato de água gelada, um banho demorado ajudaria a digerir todo o ocorrido. As lágrimas logo se uniram a água que caía sobre meu corpo.

As palavras da minha conversa com o Rafael ainda ecoavam em minha mente. As acusações, as cobranças, tudo veio à tona feito uma avalanche.

Se por um lado as palavras haviam me atingindo em cheio por outro eu me sentia aliviada. Era como se eu tivesse retirado um peso das minhas costas. As expectativas desse relacionamento geravam cobranças, desentendimentos...Embora, o fim fosse inevitável. Ele doía.

Minha avó costumava dizer "Não são os fins que me causam medo, mas sim os eternos recomeços". Confesso, que demorei um tempo para entender essas palavras, mas agora elas fazem todo o sentido. Eu e o Rafael vivíamos um relacionamento de recomeços, cada discordância que fatalmente acabava em discussão, era seguida de uma nova chance, uma reescrita da nossa história.

Eu merecia um capítulo novo. Uma história escrita com minha assinatura, com personagens reais - que erram/acertam, riem/choram, gritam/calam - que seguem o rumo da vida, sem roteiro. Pessoas que apenas vivam de acordo com as suas crenças.

E era isso que eu iria fazer. Eu ia escrever a minha própria história. E eu já sabia por onde começar. Segui até a loja que eu havia ido com o Daniel, eu iria comprar aquele quadro que tanto me encantou. Para minha tristeza, ao chegar no local, o quadro já havia sido vendido.

Cadê os deuses literários que não corroboram para que a escrita da minha história siga o rumo almejado?!

Já que eu estava ali, aproveitei para comprar as lembrancinhas do encontro das blogueiras e outros itens de papelaria e decoração. Segui caminhando sem rumo e deparei com uma livraria Saraiva bem no meio do centro do Rio. Dessa vez ao invés de correr para os livros, fui direto para o café, ainda não tinha comido nada desde a hora que acordei e resolvi me alimentar.

O ambiente era composto por executivos que tomavam café e por um grupo de meninas falantes e risonhas, fiquei observando-os até meu telefone tocar me tirar dessa observação. Era o Daniel me ligando, ignorei a chamada. O toque anunciou uma nova chamada, dessa vez da Bia. Ainda não havíamos nos falado hoje e pelo que eu bem conheço do Rafael, ele já deve ter ligado para ela.

- Manu, cadê você? Tá tudo bem? - as perguntas saíam em disparada.

- Tudo - limitei a dizer quando sentir as lágrimas surgindo.

- O Rafa me ligou dizendo que você estava na praia e terminou com ele, depois ficou muda e ele ficou falando. Pensei que estivesse com o Daniel, mas o procurei e ele negou - minha amiga falava sem pausas.

- Estou bem, Bia - tranquilizei-a, mas não surtiu efeito.

- Onde você está? Chego aí em alguns minutos.

- Não precisa, estou voltando pra aí. Só não comenta nada com o Daniel...

- Sério mesmo? Eu chego aí logo, logo. Só falta vestir uma roupa...

- Sério amiga, estou bem e estou de volta.

Peguei um táxi e voltei para o hotel, assim que abrir a porta encontrei uma Bia que caminhava de um lado para o outro, nunca tinha visto minha amiga preocupada daquele jeito.

- Que susto você me deu! - disse me abraçando forte - Tá tudo bem mesmo - assenti - E aí?

- Aí que coloquei um ponto final no meu namoro ideal, e estou aqui ainda sem saber como digerir tudo que dissemos um para o outro.

- Entendo... Quer comer? Que tal irmos a um restaurante?

- Não quero fazer nada, Só quero ficar na cama lendo. Quero está com o rosto menos choroso para o encontro das blogueiras hoje a noite.

- Isso mesmo, vou encontrar o novinho carioca lá, ele é tão gostoso amiga, vem ver as fotos dele sem camisa, e me arrastou para frente do notebook. Enquanto eu ria diante dos seus comentários sobre o dote do rapaz, a campainha do quarto tocou.
Por um minuto, cheguei a pensar que fosse o Rafael, que estava ali do outro lado. Contrariando toda a lógica...

- É o Daniel! - minha amiga falou antes de abrir a porta.

- Diz que eu não voltei. -sussurrei correndo para o banheiro.

- Oi Daniel.

- Algum sinal da Manuela? Vim o mais rápido que eu pude após sua ligação.

- Ela está bem, só precisa de um tempo.

- Certo... Diz a ela que fugir não é a melhor solução.

- Pode deixar que ela ouvirá muito bem esse recado... A propósito no seu quarto tinha C. Daniel. Seria Carlos Daniel?

Diz que não! Diz que não!! Eu era apaixonada pela novela Usurpadora. Já assisti todas as vezes que o SBT reprisou. Eu brincava com a Bia que Carlos Daniel era o homem dos meus sonhos.

- Seria, por quê? - perguntou confuso.

- Manu, se você não acreditar em destino depois dessa, eu mesma pego o boy magya aqui - gargalhou.

- Cala a boca!! - gritei pondo abaixo meu esconderijo.

- Manu, a Bia te prendeu aí? - Daniel indagou com um voz risonha.

- Não, ela não me prendeu - me vi sorrindo pela primeira vez no dia.
- Tudo bem mesmo?

- Tudo.

- Não posso te ver nem por um segundo?

- Melhor não, eu estou horrorosa, não quero que saia correndo.

- Se você abrir a porta eu correrei para dentro, esse é o único lugar que quero está.

Nossa!! Ele era bom com as palavras!

- Deixa só eu ver você, estou com saudades do seu sorriso. - continuou.

- Tirei uma foto sorrindo, ou pelo menos tentando e mandei.

- Será a foto que aparecerá quando você ligar hoje à noite, para dizer onde vamos nos encontrar.

- Bar Salsa e Merengue às 22:00 -gritou Bia.

- Bia, eu sou a sua amiga!! - protestei.

- Eu só tô ajudando o destino.

- Obrigado, minha cúmplice - agradeceu Daniel sorrindo - E Até breve Manu.

- Até - Disse por fim.

Ouvir a porta sendo fechada e sair do banheiro.

- Ele é um charme não é? Gentil e lindo, eu ficaria de quatro para ele facinho, facinho - Bia foi logo falando.

- Dá um tempo.

- Quero saber até quando vai resistir...

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Será o fim do namogato Rafael e a vez do boy magya Carlos Daniel? Não perca os próximos capítulos de Movida por Livros 🙈🙉🙊 (Leiam com voz de narrador de novela mexicana 😏 kkkkk)

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Beijinhos

Isis Fogaça ❤