the best part of me

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Você vivia listando as coisas que tinha de fazer, querido, como um mantra todas as manhãs para que não se esquecesse pela tarde. Não coisas fúteis, como se trocar ou escovar os dentes, ou do médico que tinha na quinta-feira – dessas, era eu quem cuidava. Marquei cada uma das suas tomografias e tinha no meu celular alarmes para me lembrar de cada um de seus remédios, e era eu quem te dizia para ir tomar banho. Você odiava isso, toda essa dependência de mim que a doença havia criado, odiava que eu cuidasse de você quando sempre foi você quem cuidou das pessoas.

Eu não me importava, mesmo que os médicos dissessem que sua condição era curável e você só tinha de esperar os duros tratamentos fazerem efeito, eu não reclamaria de cuidar e te mimar pelo resto da vida.

Toda manhã, quando você abria os olhos ainda antes que eu acordasse, repetia a mesma frase. Era só questão de tempo até tudo aquilo passar. Você só tinha que esperar.

Então, amor, eu o dizia para esperar nos meus braços, enquanto eu lentamente acariciava o negro de seus cabelos. Era sempre muito cedo, então você se encaixava no meu peito e eu o ninava até que voltasse a cair no sono. Nós só precisávamos levantar às nove, para a primeira dose de remédios do dia, mas eu não conseguia realmente voltar a dormir. Apenas te observava, calmamente, nos únicos momentos em que o tumor que lentamente consumia teu cérebro ser a pessoa que eu havia conhecido.

Aquilo estava te consumindo, degradando, degenerando cada pedacinho de Do Kyungsoo que restava em você. Não parecia passageiro, não parecia curável, você estava lentamente se desfazendo e virando uma pessoa explosiva e irritadiça que eu não conhecia nem tinha vontade de conhecer, fazendo birra com a menor das coisas e agindo como uma criança de dez anos quando era contrariado. Até que, em uma tomografia de rotina para ver se o tumor tinha regredido, descobrimos que era uma coisa ligeiramente mais complicada do que pensamos que era. Um tumor maligno do tamanho de uma noz na sua cabeça, bem no meio do cérebro. Não existia cura, mas você optou pelo mais agressivo de todos apenas para garantir mais algum tempo. Mais algum tempo comigo.

Depois disso, o som da sua voz sussurrando para esperar pelas manhãs foi substituído pelo som agudo do seu choro, suas lamentações. Você chorava sozinho quando pensava que eu não estava ouvindo, talvez por que não fosse suportar a minha cara de pena quando olhasse para seu rosto cheio de lágrimas. Você sempre foi um pequeno orgulhoso, Kyungsoo, e eu só queria que você se deixasse apoiar em mim. E como não vai fazer isso, apenas te peço para que ouça meu último conselho:

Viva, meu amor.

Se precisar gritar, grite. Se chorar, chore nos meus braços, por que você sempre pareceu tão bonito e acolhido quando em volta deles, se precisar falar, diga para todos sem se envergonhar, se quiser dançar, o faça mesmo sem música. Se você quiser lutar, querido, lute com toda a bravura que você teve a vida inteira.

E se você morrer, — quando você morrer — morra sabendo que foi a melhor parte da minha vida, e que o resto dos meus dias serão dedicados a me lembrar de cada momento doce que passamos juntos.

Por que você é a melhor parte de mim, Kyungsoo. Eu amo você.

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essa oneshot é para o desafio panterinhas de fanfics e foi escrita mt rápido então desculpa caso tenha ficado atropelado

espero que tenham gostado!

you. + kaisooOnde histórias criam vida. Descubra agora