"TODOS OS CAMINHOS LEVAM AO MEIO"
Minha estória começou ainda muito jovem, quando fui forçado a tomar caminhos e escolher um rumo ...
Parece que a própria natureza foi quem me obrigou a construir uma jornada. Sempre existirão pessoas que nos opinarão, sugerindo um caminho único e absoluto, do tipo: vá por aqui, vá por lá, não faça assim!
Parece mesmo que todos julgam o que é melhor para o outro baseando-se em si próprios, enquanto eu sempre desejei a pluralidade e a liberdade de expressão. Vivemos em uma sociedade e sobre um meio onde a nossa pior herança foi deixada pelo monoteísmo tão controverso dentro de um meio universal onde não sabemos exatamente qual é a sua dimensão; não será burrice acreditar em um único caminho?
Eu hoje posso afirmar sem medos, que o "Céu, mares, terras, assim como paraísos ou desertos" (toda a diversidade natural) fazem parte de uma vasta e plural dimensão que realmente existe. Nós seres vivos somos exatamente mutantes como o meio natural, com cada qual sua razão de ser e sua própria característica que o faz especial. A natureza é categoricamente como os seres vivos e nossas infindas características, afinal somos frutos do meio.
E se pelo caminho da esquerda me transformaram em uma vítima, pela direita me obrigaram a ser o melhor. É por essas e outras razões que eu escolhi o meu próprio caminho, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, pois nem os melhores e as vítimas existem de fato.Eu explicarei tudo para você compreender esse jogo.
Eu era apenas um menino sozinho (era como eu me sentia) com um desejo único de plantar flores. Mas de onde eu venho, plantar flores nunca foi algo bem visto. O grande chefe de nossa aldeia havia trancado todos os jardins férteis com um grande portão, ninguém possuía as chaves e ninguém podia plantar por lá. Ele não apreciava a existência de flores, pois elas não eram em maioria comestíveis, nem tão importantes como as fábricas e tudo que se pode vestir e comer.
De fato eu nunca fui contra a produtividade, mas eu queria cultivar algo novo e simplesmente belo. Um dia minha mãe me perguntou:
- Filho, você já está bem grandinho! O que você fará agora?
E eu respondi rapidamente:
- Serei plantador de flores mamãe, pedirei ao chefe de nossa terra as chaves dos jardins férteis e os reviverei com lindas flores ...
Minha mãe não ficou assustada com o que ouviu, mas eu realmente esperava que ela ficasse satisfeita e me incentivasse, quem sabe até me ajudasse, mas não foi o que aconteceu, reprovou-me com um simples olhar e algumas falas:
- Meu filho! Você não pode viver plantando flores, não é nada poderoso, quase ninguém aprecia as boas flores, exceto nos funerais ou casamentos, pouca gente tem sorte no ramo, poucos conseguem um jardim farto para planta-las...
Mamãe quis dizer que eu realmente seria mais um qualquer em meio a uma multidão que já tentou. E ela quase estava certa.
Eu não desisti e guardei aquele segredo para mim, enquanto ninguém sabia de fato qual eram os meus planos de vida, todos em minha vizinhança olhavam-me como se eu não tivesse serventia alguma. Eu já estava realmente muito grandinho, precisando amadurecer. Acho que as pessoas enxergavam em mim um enorme potencial para o fracasso, talvez um subversivo nato, alguém capaz de bagunçar a mesmice e o tão protegido sistema. Penso que tudo aquilo que é novo tende a ser visto como maléfico, imperfeito, causador de problemas e o grande pai da desordem. Então eu pensei e refleti muito, pois jamais almejei me tornar o maior plantador de flores do planeta, eu queria apenas plantar flores. Então eu precisava agir, fui até o grande chefe que ao me ver já imaginou o que eu queria e negou-me a grande chave dos Jardins sem nem pestanejar. Disse-me:
- Eu não quero um plantador de flores na minha terra! Garoto desista! Não realizarei a sua vontade, aqui você não plantará, não venha me causar problemas!
* E ainda esboçou-me um sorriso sarcástico e inesquecível, ao completar :- Te darei as chaves e o mapa que te levará ao deserto, se conseguires plantar algo por lá, o lugar será seu ...
Obviamente não aceitei a proposta, pois burro eu não era, nunca fui de dar murros em ponta de faca, passaria a vida inteira tentando fertilizar um deserto sem água e completamente arenoso. Meu ideal eram FLORES e não CACTOS, apesar de nada contra eles, não nasci para planta-los!
Eu não desisti do meu ideal. Certo dia decidi ir embora para longe, nunca mais voltar, sabia que não podia olhar para trás, pois deixar pertences e meus animais de estimação, trariam-me o sentimento de apego e dor, preferi seguir em frente, numa só direção. Impulsivamente eu parti. Fui até o litoral mais próximo, peguei meu velho barco e simplesmente remei até cansar, na esperança de encontrar uma ilha com terra firme e fértil onde o dom de plantar realmente fosse importante e possível. Mas algo estranho aconteceu, quando o céu fechou em nuvens escuras, o mar começou a ficar revolto, as gaivotas voavam alvoraçadas enquanto eu apenas rezava e pedia para aquilo tudo acabar. Foram dias e noites no revoltado mar, com pouca água, comida, dependia do que os bondosos e livres pássaros traziam para mim. Diga-se de passagem, sou muito grato pelas gaivotas, seres livres que vem e vão, voam desapegadas, pareciam realmente entender meu sofrimento, enquanto eu sentia uma desconfortável e "infinda dor de alma."
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"O MENINO QUE PLANTAVA FLORES"
AdventureVi nas religiões uma forma de limitar as pessoas para que se protejam do medo, enquanto percebi na ciência uma forma não menos " crente e religiosa" para entreter os céticos. Acho que toda novidade tende a ser vista como maléfica, algo imperfeito...