Depois do desafio, restavam poucas horas antes do duelo. Acabamos decidindo ir para o hotel para tomar os preparativos finais. Antes de subir para o quarto, fomos até o restaurante do hotel e pedimos o jantar. Enquanto comíamos, eu podia sentir o fio quase imperceptível de tensão que pairava ao redor de todos. Qualquer que fosse o resultado daquele duelo, problemas futuros seriam inevitáveis. Era algo que estava mais do que claro àquela altura. Mas, ainda assim, minhas mãos estavam firmes.
– Eu vou vencer – eu disse. – Acreditem em mim.
Meu pai e Atena me olharam por um momento, cada um a seu jeito.
– Que mestre arrogante eu tenho. Mas suponho que isso não seja completamente mau.
– Não?
– Tem sua medida de charme. É carismático.
– Isso é um elogio sincero demais para vir de você.
– É o resultado do meu bom humor incomum. É uma situação bem agradável, essa. Duvido que eu vá poder dizer o mesmo no futuro, porém, nesse momento, eu teria que mentir para dizer que não estou feliz.
Atena sorriu empurrando parte de seu cabelo para trás.
– Você vai vencer, eu sei disso. Você pode ser turrão e mestre de uma técnica cheia de falhas, mas não tenho dúvidas de que quando se trata de quebrar coisas, não há quem possa te superar.
– Isso soa mais como um elogio seu.
– Soa?
Ouvi a risada baixa do meu pai ao meu lado crescer um pouco até se tornar difícil de ignorar. Todos os olhares caíram sobre nós, mas meu pai não se controlou, parou de rir apenas quando já não restava mais graça em qualquer coisa que tivesse pensado, e seu olhar caiu por sobre seu copo.
– Tough the lads are making pikes again for some conspiracy, and crazy rascals rage their fill against the human tyranny, my contemplations are of Time that has transfigured me.
Ele ergueu seus olhos para mim, um peso antigo caído sobre suas pálpebras, um sorriso morno pairando numa expressão cansada.
– O tempo tem mesmo um modo de sempre se repetir. Eu sou o homem velho agora, o Mago na árvore então, se posso ser arrogante o suficiente de desejar isso, espero que o final dessa vez seja menos amargo.
Acedi, mas não me ocorreram palavras.
Assim que o jantar terminou, subimos até o quarto para tratar das preparações iniciais. Atena fez os primeiros rituais de proteção ali mesmo, mas deixou os encantamentos mais fortes para quando já estivéssemos perto do local do duelo. Assim que esses ficaram prontos, partimos para o ponto destinado. Pelo que tinha sido combinado, o duelo deveria acontecer numa pequena ilha desabitada, a alguns quilômetros da costa. Conseguir um barco no meio da noite acabou sendo mais difícil do que o esperado, mas um pagamento acima do normal eventualmente resolveu esse problema. Enquanto nos aproximávamos da ilha, eu via pontos luminosos crescerem na prai, tochas ou algo similar, julgando pela maneira como o brilho ia e vinha. Já a pouco mais de uma centena de metros dali, conseguia ver outros barcos atracados num ponto em particular da ilha, seis deles, precisamente. Quando atracamos na praia, logo vi a pequena plateia que estava ali, além de todos os diretamente envolvidos. Sem o menor pudor, o aprendiz de Fermi estava usando as mesmas roupas de motoqueiro do ataque, exceto pelo capacete. Cordelia, por sua vez, carregava consigo um guarda-chuva vitoriano preto, longo. Saltei na faixa de areia e segui direto para perto de Cordelia ignorando todos os olhares sobre mim. A areia da praia era fina, mas inevitavelmente atrapalharia a movimentação. Não só isso, mas ela se estendia por dez ou vinte metros antes de dar lugar à uma mata. Provavelmente, o aprendiz de Fermi iria tentar usar aquilo a seu favor.
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Linhagens
FantasiA cada quatro anos, um congresso ocorre entre os maiores magos do país, onde assuntos correntes na teoria mágica são discutidos e tramas políticas são tecidas. Proibidos de utilizar magia, porém, eles contam com a ajuda de seus assistentes para se m...