XII - Mudança

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Heitor se recusa a falar com Lucas e passa dirigir a palavra à mim ainda mais raramente.

Alex também não está falando muito, mas Cassandra e Andrômeda parecem mais... Comunicativas do que nunca.

- Será que não é fome? - Lucas pergunta, enquanto segura Cassandra.

- Não pode ser. - Respondo, chacoalhando Andrômeda. - Acabei de dar banana para as duas. Também não é a frauda.

Passei toda a tarde de quinta-feira na rua: deixei as crianças na creche e na escola, fui para o estágio, depois para a faculdade. No meu último período, uma janela, passei no shopping e busquei as pulseiras, a aliança e os brincos que deveria ter pego na sexta.

Andie e Cassie parecem determinadas a chorar até seus pulmões estourarem, então nós dois continuamos sacudindo as duas no colo por quase meia hora.

- Precisamos fazer silêncio agora. - Sussurro, ao notar que Andrômeda fechou os olhos. - Não para de balançar a Cassandra.

Coloco Andie no colchão, ao lado de Heitor e Alex e pego Cassandra dos braços de Lucas. Eu a chacoalho por poucos minutos antes de ela também pegar no sono.

- Seus braços estão doendo tanto quanto os meus? - Lucas pergunta, quanto retorno ao quarto.

- Pode apostar. Não sei o que aconteceu hoje, elas normalmente não dão tanto trabalho para dormir.

- Acho que Andrômeda estava com cólica, e Cassandra só ficou chorando por causa da irmã. Mas o importante é que podemos dormir agora. Preciso estar de pé em seis horas.

- Você vai acordar às cinco? Por que?

- Preciso estar no hospital às seis amanhã.

De repente, sou atingida pela percepção de que não sei praticamente nada sobre esse homem com quem estou morando.

- Você trabalha em um hospital? - Pergunto, me sentando na cama. - O que você faz?

- Cirurgias cardiotorácicas. Aliás, tenho uma marcada às sete, então vamos dormir.

Como na noite anterior, Lucas apaga a luz e se deita ao meu lado, de costas para mim. Nenhum de nós diz uma única palavra e o sono vem ainda mais rapidamente dessa vez.

Novamente, ele já saiu quando acordo. Arrumo as crianças e prometo aos meninos que eles dormirão em uma cama de verdade essa noite.

O dia se arrasta entre minhas tarefas habituais e eventuais mensagens de Lucas com perguntas desconexas. Decidi editar seu contato e colocar coraçõezinhos cor-de-rosa para fazer nosso relacionamento parecer mais verídico.

Lucas 💕:
Vc gosta de amarelo?
09:47

Eu:
Td mundo gosta de amarelo.
09:48

Lucas 💕:
Nem todo mundo. E cinza?
09:48

Eu:
Cinza é lindo. Se eu soubesse que vc ia ficar fazendo perguntas sobre cores, não tinha te passado meu número.
09:50

Lucas 💕:
💔 partiu meu coração. Listras ou bolinhas?
09:50

Eu:
Haha listras. Que horas posso levar as crianças para a casa?
09:53

Lucas 💕:
Que tal jantarmos no shopping? Vc disse que queria furar as orelhas das meninas, lá tem farmácia.
09:54

Eu:
Pode ser. Te encontro lá às 18:30. Até mais tarde.
09:56

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