Vem Voar Comigo

12 2 0
                                    

São 16:00h e este é o último dia de trabalho fora de casa. Dentro de algumas horas estarei embarcando num vôo de quatro horas aproximadamente. Sempre pego o vôo das 21:00h, assim, posso sair do trabalho no horário normal e ainda tenho tempo pra me organizar com calma no hotel. Meu táxi já está programado para as 18:00h e chegar exageradamente cedo ao aeroporto. Tenho tempo de sobra para os imprevistos. Ficarei mais ou menos duas horas caminhando pelo Eurico Salles. Nesse tempo consigo dar aproximadamente 4556 voltas no saguão. Não importa! Às 16:40h lembro de fazer meu check in pra ganhar mais tempo. Digito o código, meu nome aparece e vou até o fim no procedimento. Cartão de embarque na tela, agora é só verificar e imprimir.

“Oh, Ed, cê pode vir aqui verificar esse cálculo super difícil e revolucionário???” – ouço um dos engenheiros chamar.
“Claro!” – respondo.

Sem olhar pra nada teclo imprimir e vou verificar o cálculo.
Cálculo verificado e resta pouco para acabar o expediente que vai até as 17:00h. Mais alguns ajustes nos cálculos e programações mais um pouco de café e o tempo voa para a hora de ir embora. Desço do escritório no décimo andar e lá embaixo, lembro do meu cartão de embarque. Subo de novo, sigo cego até a impressora e lá está ele. Pego, dobro, ponho dentro da mochila e saio. Já fora do prédio, caminho até o hotel. Uma caminhada curta. Apenas uma quadra.
Elevador. Detesto elevadores. Vigésimo primeiro andar.
Finalmente meu quarto. Mala pronta desde esta manhã. Então, já que são 17:30h, tenho meia hora até o taxista chegar.Tomo banho. Toda a roupa que vou usar é estrategicamente colocada na poltrona perto da mesinha de onde jantei dois dias atrás.

“Tudo esquematizado. Como sou incrivelmente organizado!” – vanglorio-me em pensamento.

Olho minha mochila sobre a cama e resolvo ver como ficou a impressão do meu cartão de embarque, já que desde que foi impresso, eu mal olhei pra ele. Cartão em mãos:

Embarque: 18:40h Partida: 19:20h

"ESTOU ATRASADO!!!!!!!" - grito mesmo sabendo que ninguém vao ouvir.

Fixo o olhar naquele pedaço de papel maldito como se estivesse olhando o pior dos assassinos. Muito ódio! De repente percebo que o pior dos assassinos aponta sua faca pra mim. Muito medo!
Não entendo por que, mas nesta hora pulei por cima da cama para pegar minha roupa que estava num caminho muito mais curto se eu tivesse ido pelo chão mesmo. Olho pela janela panorâmica do quarto como se houvesse um relógio no céu. Não há! Arranco a colcha da cama na esperança de que meu celular apareça numa queda, mas ele estava em cima do criado mudo, coisa que eu só vi depois de procurar até dentro do frigobar. Muito desesperado, consigo me vestir e saio correndo com minha mala pelo corredor ainda colocando a camisa pra dentro da calça.Na recepção o gerente está conversando com a treinadora (técnica... Sei lá!) da seleção brasileira de ginástica rítmica. Acho que tem uma competição acontecendo... Entro em desespero, mas ela se vai agradecendo, assim que eu me aproximo.

“Boa noite! O fechamento do 2110, por favor!!!!!” – grito tentando ser gentil.
“Bo-a noi-te, se-nhor! Gos-tou da vis-ta do seu quar-to?”
“Sim!!!! É lindo!! Tudo é lindo!!!” – grito de novo.
“Vou pro-vi-den-ci-ar sua con-ta.”

Não respondi à última calmíssima sentença do gerente Gerald. Eu estava muito ocupado vendo se o taxista já estava me esperando. NADA! Olhei no relógio da recepção: 18:05h. Faltavam 35 minutos pra começar meu embarque que fecharia às 18:50h. Meia hora antes da partida, como manda o regulamento. Olho para a recepção de novo e Gerald já vem com a minha conta:
“O se-nhor po-de ve-ri-fi-car co-mi-go se ES-tá tu-do cer-to?”
“CLARO!!!!” – me descabelo indo até o fim da página e assinando meu nome todo torto.
“Gerald, alguém veio procurar por mim?????”
“Não, se-nhor, Ed-son!”
“Você pode me conseguir um táxi?”
“Claaaaaaa-ro! Sem-pre que o se-nhor vier a ES-ta ci-da-de, hos-pe-de-se co-nos-co (pegando o telefone) a-fi-nal, o ho-tel tem um graaaaan-de pra-zer em aten-der (discando pra algum lugar) seus cli-en-tes...”
Mais uma olhada no relógio e nem ouvia mais o que o gerente Gerald dizia. Já são 18:10h.
“Hã??? Ah, claro! Obrigado, D...De...G...Ge... GERALD!!”
Saí correndo como se o táxi já estivesse à minha espera, mas não estava, claro. Ele chegou VINTE MINUTOS DEPOIS.
“Aeroporto, por favor!!!!!” – peço, quase ajoelhado.
“Como estamos de tempo?” – pergunta amigavelmente o condutor.
“Não temos!” – respondo ofegante como se tivesse acabado de correr muitos quilômetros sem ter dado um passo sequer.
“A que horas é o seu vôo?????” -  assusta-se com minha respiração frenética, o motorista.
“AGORA!!!” – digo virando pra ele como se a câmera fosse fazer um close deste olhar e portanto, olho da forma mais dramática possível.
O taxista foi bastante prestativo voando entre um sinal vermelho e outro. Ele perguntou pra onde eu estava indo e quando eu falei, ele acelerou muito como se fosse me levar de carro até minha casa a dois mil e quatrocentos quilômetros de distância.
Chegamos às 19:00h.
Vejo uma atendente da companhia aérea que faria meu vôo e pulo em cima dela com fúria:

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 20, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Vem Voar Comigo Onde histórias criam vida. Descubra agora