A Feira e o Futuro da Ficção

Gongo! CP! Gongo!

Já há dois anos, que eu estava perturbado por um dos livros de %Quincas Esturjão: Gongo! CP! Gongo! Nele, ele narrava e estória de um construtor que amava ficção científica e tirava férias numa vila isolada do mundo. Eu achei aquilo gozado, era muito parecido comigo. Talvez, pensei, o Messias tivesse contato a meu respeito em uma de suas cartas. Sim, isso parecia razoável na época. Mas então, o que li na primeira vez, sem dar muita importância, foi me deixando encucado.

O protagonista, tinha poucas pessoas próximas de si e que conhecia bem, uma tia, funcionários, o caseiro, etc. Ele notou que algumas pessoas próximas passaram por transformações drásticas de personalidade e no final, vem a descobrir que os espíritos destas pessoas estavam sendo raptadas por alienígenas durante seus sonhos e levados, em naves ectoplasmáticas, ao seu planeta natal, Amador, que orbitava a estrela alfa de um sistema trinário. Também conhecidos como o povo de Trio Alfa Amador. Os trialfamadorianos eram seres n-dimensionais e haviam descoberto a terra na época dos dinossauros. Ao verem o futuro, perceberam que os dinossauros iriam evoluir para se tornar uma raça de lagartos gigantes, inteligentes e belicosos. Seriam conquistadores de planetas e destruidores de civilizações. Para evitar que isso acontecesse, desviaram um cometa que se chocou contra a terra causando a extinção dos dinossauros. Mas depois, acabou surgindo a raça humana. Eles também previram que ela iria se desenvolver e que sua indústria de entretenimento, seria um bom negócio em cerca de cem milhões de anos, mas que, as fontes de entretenimento de Hollywood, Bollywood, a indústria de telenovelas brasileiras, animação japonesa, etc. iriam se extinguir devido a uma catástrofe dupla de destruição do meio ambiente combinado com guerras sucessivas por motivos religiosos. A humanidade não acabaria, mas se tornaria uma legião de monoteístas fanáticos e aversos à qualquer obra de ficção ou dramatização. Então, para evitar a destruição de seu lucrativo negócio de distribuição de filmes, séries e livros terráqueos, os trialfamadorianos resolveram intervir novamente, raptando os espíritos de vários terráqueos e dando-lhes cursos relâmpagos de visão tolerante e respeito ao meio ambiente.

O enredo daquele livro ficava cada vez mais estranho para mim. Eu começava a desconfiar que, de algum modo, aquela estória fantástica era real. E que as pessoas que eu via se transformando estavam recebendo influência dos alienígenas.

E seu %Alírio soube que eu havia chegado veio naquela tarde para tomar o café e biscoitos e contar os causos. Ele já era banguela, então dona Lourdes colocava alguns biscoitos dentro do café para que se dissolvessem. Ele segurava o caneco entre os cotos e sorvia aquele mingau de café e biscoitos com satisfação.

— Vê-rê-rê, sinhô douthô!

— Olá, seu %Alírio, como tem passado?

— Mutcho bem, brigado.

— Alguma novo causo para contar?

— Ah sim, seu douthô, consegui fazê uma coisa de que esthou mutcho orgulhoso.

— O que é?

— Consegui banir daqui toda pesca com bombas.

— Mas seu %Arílio, o senhor não era a favor da coisa toda?

— Falou certcho, seu douthô, ERA. Num sabi que finalmenthe fui enthendhê que isso é erradho? Que não só punhe em risco o amigo pescadhô, mas tumbém é coisa ruim pra natureza?

Aquilo era mais uma mudança drástica que vi acontecer. E então fiquei com medo. Medo de que o final da estória do %Quincas Esturjão fosse verdade. E o melhor de tudo, depois que a coisa toda aconteceu, é que era.