Jhuly tenta forçar a visão para enxergar melhor, o quarto está em meio à escuridão e tudo que consegue decifrar é que está em um quarto diferente. No momento em que ela pôs o pé para fora da confortável e aconchegante cama, cujos lençóis tinham um cheiro masculino que despertavam nela uma súbita vontade se sentir aquele cheiro para sempre, Jhuly deu apenas um passo antes de chocar seu dedo mindinho em uma cômoda bem ao lado da cama.
Praguejando e soltando palavras à esmo que vinham em sua mente ela caminhou até a porta, se perguntando porquê não ficara na cama.
Alguns instantes depois Jhuly estava andando pelo corredor longo e sombrio, cujo ar era gélido e causava uma série de arrepios que desciam da raiz de seus cabelos à ponta de seus dedos dos pés. Ao chegar ao topo da escada Jhuly ouviu vozes familiares. Callie e Will. Seu coração disparou e rapidamente ela deu meia volta se escondendo atrás de uma viga. Iria mesmo escutar uma conversa alheia? Perguntou a sí mesma, mas era necessário, se eles não colaborariam contando-lhe o que sabia, Jhuly teria que descobrir por sí só.— Você não nota Will? Você está se torturando, olhe só para você! Está acabado, à quantos dias não dorme? Ou mesmo se alimenta direito? E tudo isso para quê? Para salvá-la? Salvar alguém que nem mesmo se importa com você? — Agora a voz de Callie que outrora era calma, era quase um grito irritado, uma mistura de desprezo e compaixão.
— Call...por favor, eu estou bem… — Will fala quase em um sussurro, que até mesmo Jhuly que sempre ouvira tudo muito bem teve dificuldades para decifrar.
E antes que Jhuly pudesse conter, uma lágrima desce por sua bochecha ruborizada e escorre até seu queixo. Ela o estava matando? Seria capaz de fazer algo tão mal a alguém sem nem mesmo notar? A voz de Callie outra vez a tirara de seus pensamentos.— Por que não facilitamos as coisas e não simplesmente a entregamos? Naturalmente que se formos o mais cedo possível, talvez os arcanjos sejam clementes...
— Não passo acreditar que essas palavras malditas saíram de sua boca Callie, você precisa recobrar sua consciência, nós não vamos entregá-la, você entendeu? — O desespero era evidente em sua voz, e era isso que Jhuly não entendia.
O som de sapatos chocando-se contra o piso ecoou pela mansão, só então Jhuly notou que alguém estava subindo a escada. O único pensamento que lhe ocorreu fora voltar por onde tinha vindo, ela estava descalça e automaticamente o som de seus passos foram abafados quando ela correu pelo corredor que agora parecia não ter fim. Quando finalmente alcançou a porta já com a mão na maçaneta, entrou desesperada, e com um pulo deitou-se novamente tentando suavizar a respiração e não tremer as pálpebras enquanto fingia estar dormindo.
Jhuly escutou o som dos passos cada vez mais perto, até cessarem dentro do quarto.— Você pode ser inteligente Jhuly, mas é uma péssima mentirosa.—Will soltou uma risada sem humor, porém encantadora.— Agora levante-se, vamos dar uma volta.
— Mas que diabos…- Jhuly pigarreou envergonhada, enfiou a cabeça nos travesseiros, não queria que Will a visse corar.— Onde vamos? Eu exijo que você pare de usar essas coisas comigo.
— Que coisas? Se refere aos meus dons? Bom...na verdade você entrou rápido o suficiente no quarto para esquecer de fechar a porta.— Ele rio alto, mas agora sua risada era cheia de humor e auto-satisfação.
— Saia! -Jhuly gritou contendo o riso, como fora tão descuidada? Agarrou um dos travesseiros e o arremessou contra Will. — Você não respondeu a minha pergunta.
— Certo, e nem vou. -Ele disse devolvendo o travesseiro com um só golpe, certeiro porém delicado. E com isso ele saiu fechando a porta atrás de si.
❄❄❄❄❄
Jhuly e Will caminhavam lado a lado pela trilha na floresta, eles haviam saído da mansão e caminhado a aproximadamente meia hora, não era muito, porém já estavam longe o bastante para o cano da chaminé desaparecer e Jhuly não lembrar direito o caminho de volta.
Ela estava feliz de ter saído e estar podendo respirar ar puro, Will a alertara de que ela só podia sair com ele para não correr riscos.— Certo, você não vai me dizer o que tem nessa bolsa? — Jhuly falava enquanto gesticulava com a mão para a bolsa preta que Will carregava nas costas, por sua aparência ela chutava que deveria estar cheia e pesada, uma vez ou outra ouvia sons como se tivesse um metal raspando em outro.
— Vejo que você é insistente, suas feições dão a entender que você morrerá em breve de curiosidade.
— Ah por favor, eu não sou curiosa, bom, talvez um pouco…
— Jhuly…
Jhuly para bruscamente onde estava, ela olha para Will com os olhos arregalados e cheios de medo, ele continua caminhando por alguns instantes quando nota que Jhuly não está ao seu lado e vira-se para trás.
— O que foi?
— Você… você ouviu isso Will?— Ela fala olhando para os lados.
— Ouviu isso o que? O barrulho dos galhos?
— Não, alguém me chamou, uma voz masculina…
— Agora? Impossível, eu não ouvi nada, e tenho certeza que se algo se movesse a quilômetros de distância eu ouviria.— Vendo sua expressão de pavor, Will deu alguns passos em sua direção.— Olha Jhuly, eu poderia dizer que você está me assustando se não fosse pelo fato de que você gritou a noite inteira…
— O que? Eu gritei a noite inteira? Eu… — Ela para de falar quando ouve outra vez alguém chamar seu nome.
— Droga Will eu to falando sério, eu ouvi outra vez…
Will larga sua bolsa no chão e coloca uma mão no quadril e a outra ele alisa seu queixo.
— Calma, okay? Não mexa um músculo, eu vou dar uma inspecionada nas redondezas.
E no instante seguinte ele havia desaparecido.
Tudo estava calmo e silencioso até uma esfera azul brilhante surgir do chão. Ela se afastava pela trilha lentamente, foi então que a mesma ouviu a voz chamá-la outra vez e decidiu que aquilo era um sinal. Em passos largos Jhuly começou a segui-lá.
Alguns minutos depois a esfera azul sumiu, e ao dar mais alguns passos Jhuly notou que estava diante de uma pequena casa camuflada pelas plantas. Ela tentou hesitar, o que Will diria? Ela queria descobrir, mas não havia tempo para isso. Após bater uma, duas vezes na porta ela a abriu.
O interior do cômodo era velho, fedia a mofo, a maioria dos móveis eram de pedra e madeira. Ela caminhou até chegar em uma mesa onde havia um livro aberto, Jhuly pensou em voltar, foi então que ao tocar o livro um fleche de luz surgiu à sua frente e sentimentos e lembranças tomaram conta de sua cabeça.
Todos os sentimentos pareciam ter sido vividos por ela, mas ela não se lembrava de nada disso.
Tudo veio rápido, foi impactante demais, aquilo a abalou muito e ela só não desmaiou pois se segurou com força na mesa.❄❄❄❄❄❄
Com um estrondo a porta voou para o chão, só então que os olhos de Jhuly deslizaram do livro para o homem que estava diante da entrada. Um alívio tomou conta de seu coração. Era Will.
— Merda Jhuly, onde você se meteu? — Seus olhos varrerem o local, Will deu largos passos e se aproximou colocando as mãos em seus ombros. — O que você esta fazendo aqui? Tem noção do quanto eu lhe procurei?
— Não eu não… Como me achou? Só se passaram alguns minutos… — Então ela sentiu uma vontade súbita de chorar, não queria parecer fraca e frágil, mas diante de todas as verdades que agora sabia, tudo que ela havia visto... Não se conteve, deixou que as lágrimas molhassem o ombro de Will quando se recostou nele.
Depois de alguns instantes chorando, ela sentiu os finos e espessos dedos de Will deslizarem por seu cabelo.
— Minutos? Oh Jhuly você não teve a noção do tempo? Eu estou no mínimo a três horas atrás de você…
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Penas de Outono
RomansaVocê já teve a estranha sensação de pertencer a um único lugar? Já se sentiu extremamente sozinha e ao mesmo tempo completamente observada? Jhuly tem esse sentimento constantemente, mas e se isso não for somente um sentimento, e sim, um fato...