Mais um dia no inferno

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Oii :) comecei a escrever isso em 2013 no Nyah! e simplesmente parei após 3 meses... Hoje lembrei e bateu uma saudade hahaha então vou postar aqui e quem sabe continuo... Vou escrever uns 5 primeiros capítulos pra ver no que dá, espero que gostem. 


Acordei com um pulo, assustada após mais um pesadelo daqueles. O sol não resolveu aparecer, então pensei que ainda era madrugada e olhei no relógio em cima da mesinha ao lado da minha cama, ele marcava 7h5omin. Levantei da cama, calcei meus chinelos de lã, enfiei um casaco por cima do pijama, e fui ao banheiro. Lá fora, a população seguia com suas vidas corridas, redondas feito almondegas devido as várias camadas de roupas que usavam, ocorrência da fria chegada de novembro.

Ao olhar novamente pela janela, percebi que o carro não estava, o que significava que meus pais... Ou melhor, Jason e Clementine não haviam chegado. Rapidamente varri a sala e a cozinha, tirei o pó dos móveis e lavei a louça que havia ficado da noite anterior. Então lembrei de chamar Nick, caso eles chegassem, não teriam do que reclamar (como se isso realmente acontecesse). Fui até o quarto de Nick, ao lado do meu, onde ele dormia profundamente após passar várias horas jogando seu videogame velho, mesmo depois de muita insistência minha para que parasse.

- Bom dia, dorminhoco!

Eu sacudia Nick na terceira tentativa de acordá-lo, e como nas outras duas, ele apenas soltou um "já vou!" sonolento e abafado pelos travesseiros, um embaixo e outro em cima de sua cabeça.

- É nisso que dá ficar jogando vídeo game até as quatro da manhã, tudo bem que hoje é sábado, mas você está ficando viciado igual a eles.

E dizendo isso, bati em suas costas com o travesseiro de cima enquanto tentava puxar o debaixo.

- Cruz credo! _ Exclamou Nick, sentando rapidamente na cama - Sorte minha que sou viciado apenas em vídeo game.

Lacei um olhar repreensivo e ele levantou os braços em sinal de rendição

- Tá legal, Angie, você me venceu, mas que horas são?

- Hora de você levantar essa sua bunda da cama e me ajudar a arrumar a casa antes que eles cheguem, ou você não lembra que saíram ontem às 5 da tarde e não apareceram mais? Talvez algo os lembre que tem 2 filhos e resolvam voltar, e se verem essa bagunça, vai sobrar pra nós, você sabe bem, Nick

Ambos sabíamos que eles jamais "lembrariam" que tem 2 filhos, então se tivessem que voltar, com certeza não seria por nós, e sim pra buscarem algo da casa e venderem em troca de mais drogas. E se vissem a casa bagunçada do jeito que haviam deixado, eu e meu irmão sofreríamos as consequências. A expressão de desgosto do rosto de Nick concordava com o que eu acabara de dizer, então ele foi até o banheiro enquanto eu tirava o lixo da cozinha. O relógio agora marcava 8h30min, fiquei com dó de Nick por tirá-lo tão cedo da cama em um fim de semana, mas eu não tinha escolha. Em breve chegariam e as brigas vinham junto. Ao lembrar das brigas, olhei no espelho do meu quarto, depois de voltar do quintal e nele havia uma garota me olhando de volta, com cabelos ruivos, compridos e despenteados, cachos desregulados pendiam das pontas e seus olhos verdes eram completamente entediados e ao mesmo tempo tristes. O roxo em torno do olho esquerdo dela (ocorrência da última briga com meu pai), estava desaparecendo, toquei de leve, sentindo que ainda doía um pouco. Foi quando ouvi o carro deles estacionarem quase na calçada e corri para a janela da sala, para ter uma sinopse do que eu e Nick aguentaríamos hoje.

Clementine saiu do carro primeiro, carregava uma garrafa de uísque mal conseguindo abrir o portão. Jason veio logo atrás tentando ajudá-la, ao menos foi isso que me pareceu, e os dois já iniciaram uma briga ali mesmo, mal conseguiam ficar em pé. Senti uma pontada de medo e um frio na barriga ao pensar em mais um dia no inferno. Voltei correndo, Nick tinha terminado de guardar a louça e estava indo arrumar sua cama. Eu subi as escadas até seu quarto.

- Eles chegaram, Nick! Estão horríveis como sempre.

Eu disse apavorada, na esperança que um menino de 9 anos me consolasse. E foi isso que ele fez.

- Tudo bem, Angie, temos que ser firmes, nós estamos juntos, não estamos? 

Ele apertou minha mão na tentativa de nos acalmar e tentando descontrair o horror que tomava conta de nós, continuou:

- E proteja seu olho dessa vez. Estilo metade-panda fica horrível em você.

Eu admirava Nick, era a única pessoa que eu gostava, e mesmo crescendo em um ambiente desses, Nick sempre procurava manter a calma e arranjar uma solução pra tudo. Mesmo que o medo estivesse em seus olhos, ele não deixava que escorressem de seus olhos como lágrimas ou saísse pela boca  em forma de choros descontrolados ou gritos ( o que eu penso que qualquer criança faria com uma vida assim). E por isso, ele era a única pessoa que eu considerava como minha família.

O barulho da porta batendo na parede ao ser escancarada pra trás, anunciou a entrada deles em casa. Permaneci em silêncio, com Nick esperando pelo que viria a seguir.

- Já levantou, putinha? Cadê você? Aaaaangie _ Cantarolou Clementine enquanto subia às escadas - Vem com a mamãe. Mamãe tá com saudades.

Clementine passou pelo meu quarto, chamando meu nome com uma voz enrolada e rouca até chegar ao quarto de Nick e nos encontrar sentados na cama.

- Aí estão vocês! Tá fazendo o que aqui? Seu quarto não é aqui... Ah! já sei, Nick ficou com medinho sem o papai e a mamãe em casa, não é seu merdinha? É isso? Responde, porra! 

Ela começou a gritar algo que não consegui entender e a andar na nossa direção, se batendo na parede, na cômoda de Nick e em tudo que estivesse pela frente. 

- Cala a boca, Clementine! Não fala assim com ele. E se tem alguma puta aqui é você que vive bêbada e chapada.

Raiva. Só o que senti foi raiva. Eu queria quebrar a cara dela em pedacinhos.

- Angie! _ Gritou Nick, me puxando pra trás, nem percebi que quase tinha ido pra cima dela.

- Mas que porra é essa? São esses filhos da puta de novo? A culpa é sua, Clem! Eu mandei abortar, lembra? Das duas vezes. Mas não sei o que deu em você, então não reclama. Dá uns tapas neles, manda se foderem e pronto. _ Gritou Jason do corredor enquanto passava pela porta do quarto de Nick para ir até o seu. Nesse momento, o cheiro de algo forte, muito forte tomou conta de tudo e pude ver rapidamente em seu rosto os mesmos olhos vermelhos que estavam no rosto de Clementine.

- Por que vocês não morrem? Ia poupar gastos e eu e Jason seríamos mais felizes. To falando sério, a culpa é de vocês. Ele não queria filhos, não queria duas merdas ambulantes na vida dele e eu optei por deixar vocês nascerem então me agradeçam até o último puto segundo da porra da vidinha de vocês e parem de encher o saco! E você, putinha, vai dar por aí e vê se arruma dinheiro pra ajudar com essa maldita casa.

E dizendo isso, Clementine saiu batendo pé e grudando a porta, entrando em seu quarto pra fazer, injetar, beber ou cheirar sabe-se lá o que. Olhei para Nick e sua expressão era de puro pavor, percebi que ele estava sentado sob das mãos, tentando disfarçar a tremedeira que tomava conta de si. Eu não ia chorar, não mesmo, e não ia deixar Nick fazer isso, não por eles, Jason e Clementine não mereciam nossas lágrimas. E pensando isso, apenas abracei Nick e fiquei contando fatos engraçados de quando ele era pequeno, coisas que provavelmente nossos "pais" não presenciaram. A cada lembrança engraçada, Nick soltava uma risada contagiante e seus olhos assumiam um brilho inocente, afinal ele era só uma criança e ao perceber a felicidade que Nick e eu ainda poderíamos sentir, foi quando desejei mais do que nunca que tivéssemos nascido em outra família, onde seríamos felizes e amados. E foi então que tomei minha grande, talvez maior decisão de todas, mas contaria a Nick pela madrugada.



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